A decisão do governo Lula de fazer um ajuste fiscal com base apenas no aumento da receita e sem corte de gastos é um equívoco, diz Gabriel Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset.
Segundo Barros, a literatura acadêmica internacional mostra que países que fizeram ajustes lado da arrecadação tiveram resultados macroeconômicos piores que as economias que combinaram medidas de ajuste de receita e corte de despesas.
Ele cita um estudo publicado no Journal of Economics Perspectives, intitulado "Efeitos da Austeridade: Despesas e Abordagens baseadas em impostos", que mostra os reflexos indesejados da estratégia única de arrecadação sobre inflação, taxa de juros e crescimento do PIB.
"A receita não é totalmente previsível, o que gera incerteza e altera as expectavas futuras do mercado", explica o economista.
Para Barros, só haverá estimativas mais precisas a partir de dezembro, quando já estiverem aprovados pelo Congresso os novos projetos tributários para aumentar a arrecadação.
Neste momento também se terá definição do cenário externo e das perspectivas de recessão americana, que podem afetar os mercados mundiais. "Se a realidade mostrar a impossibilidade de cumprir a meta, alguma medida concreta terá de ser tomada em relação à contenção de gastos", prevê o economista.
Para a consultora econômica Zeina Latif, é difícil estabelecer uma data limite para a revisão da meta. Ela acredita que a depender de inúmeros fatores, domésticos e externos, a fatura pode sobrar para o próximo governo. "Por enquanto, a possibilidade de corte de gastos é mais retórica. Este governo só vai fazer o ajuste se for obrigado pelas circunstâncias", acredita.
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