Crédito sob controle
Outro diagnóstico do economista Yoshiaki Nakano, em sua argumentação sobre os benefícios macroeconômicos trazidos pela crise, foi que "os problemas da excessiva valorização de ativos e da expansão de crédito desapareceram". Para o diretor da EESP/FGV, o crescimento do crédito no Brasil era excessivo e poderia levar à formação de uma bolha. Nesse caso, das duas, uma: ou o Banco Central elevaria ainda mais a Selic, a fim de impedir a bolha, ou ela estouraria cedo ou tarde, com efeitos catastróficos sobre a economia.
De janeiro a dezembro de 2008, o saldo total das operações de crédito no Brasil saltou de 34,2% para 41,3%. O nível atual ainda é baixo, se comparado a uma série de outros países (incluindo emergentes), mas trata-se de um patamar recorde no Brasil. A tendência é de que o volume de empréstimos e financiamentos continue crescendo em 2009, o que é positivo, mas em ritmo mais lento e "sustentável". Tanto que o BC já reduziu os juros em 1 ponto, para 12,75% ao ano, e deu sinais de que o processo de queda da taxa vai continuar. (FJ)
A crise teve algum efeito positivo para o Brasil? Ao ouvir a pergunta, a maioria dos economistas dá um longo suspiro, fica em silêncio por alguns segundos e, não raro, sugere que "a crise ao menos nos obriga a fazer uma reflexão". Mas, ainda que já enfrente consequências graves como a onda demissões na indústria e tenha suas perspectivas de expansão reduzidas a cada semana, a economia nacional pode vislumbrar um certo "lado bom" no desmoronamento das finanças globais. A começar por dispensar uma série de ajustes macroeconômicos que, em condições normais, exigiriam um bocado de tempo e dinheiro.
Não sem uma boa dose de otimismo, o economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV), escreveu no fim de 2008 que "a crise poderá ser a solução para os problemas da economia brasileira". "Podemos dizer que ela antecipa, em alguns anos e de uma forma favorável, ajustes que teríamos que fazer num futuro próximo com custos muito mais elevados", disse Nakano em seu artigo.
O economista crê que a moeda vai se estabilizar em um patamar mais aceitável e afastar problemas graves na balança comercial. Para ele, isso representaria um alento para alguns exportadores e facilitaria a vida de fabricantes nacionais que estavam sendo liquidados pela concorrência externa.
O problema é que, por enquanto, nada disso se confirma até porque, para muitos analistas, apenas o câmbio mais alto não vai ajudar os exportadores enquanto a demanda lá fora continuar tão retraída. Os primeiros dados de 2009 mostraram queda nas exportações e importações brasileiras, e a possibilidade de déficit já em janeiro assustou a ponto de o governo aumentar a burocracia para as importações atitude da qual recuou em seguida.
Dívida menor
Um efeito curioso da crise foi que, ao elevar o valor das reservas internacionais do país, a disparada do dólar reduziu drasticamente a dívida líquida do setor público (diferença entre a dívida bruta de União, estados e municípios e a soma das reservas e créditos que eles têm a receber). Em agosto, a dívida líquida representava 40% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e, em apenas três meses, chegou a despencar para 35% o nível mais baixo desde maio de 1998. Só subiu para 36% no fechamento do ano por conta da emissão de R$ 14,5 bilhões em dívida federal, para a formação do Fundo Soberano.
"É a primeira vez que uma crise que desvaloriza a moeda nacional reduz a dívida pública, em vez de provocar o contrário", comenta a economista Fernanda Feil, da Rosenberg. Ela ressalta a importância de o país ter acumulado reservas superiores a US$ 200 bilhões. Jédson César de Oliveira, professor da Estação Business School, lembra que a dívida ainda é alta outros países emergentes exibem débitos próximos de 20% do PIB, e o próprio Brasil tinha dívida de 28% em 1995. Mas, segundo o economista, a situação atual é bem mais confortável que a do início da década. Em setembro de 2002, a dívida representava 56% das riquezas geradas pelo país.
Inflação e juros
O salto do dólar poderia até dar impulso à inflação, mas todas as evidências indicam que essa influência tende a ser compensada, com sobras, pela queda na demanda mundial por alimentos e matérias-primas. Com isso, há espaço para novas quedas dos juros, o que manteria sob controle a dívida brasileira e representaria um alento para quem precisa de empréstimo para investir. "Até agosto, falava-se apenas em inflação, em crise de alimentos. Sem a contração provocada pela crise, certamente teríamos juros ainda mais altos", avalia Oliveira, da Estação.
Para Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, a recessão mundial será acompanhada por preços mais baixos diferentemente de outras ocasiões, quando era mais comum um salto da inflação. "Petróleo, minérios e commodities agrícolas caíram bastante", lembra o economista. Por isso, a perspectiva para a taxa mudou violentamente. Há quatro meses, o mercado previa que a Selic fecharia 2009 em 13,75% ao ano; hoje, crê que ela ficará em, no máximo, 11%.
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