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Dois dos maiores empresários do setor calçadista no Brasil estão travando uma disputa na Justiça do Rio Grande do Sul. Alexandre Grendene, dono da Grendene (conhecida pelas sandálias Melissa e Ipanema), está processando a Calçados Beira Rio (das marcas Vizzano e Moleca), da qual também é sócio.

O motivo do processo é uma doação de ações feita pela Beira Rio à Fundação Antonio Meneghetti. A empresa doou para a instituição papéis equivalentes a 28% do capital da companhia que estavam em tesouraria – ou seja, tinham sido comprados com dinheiro proveniente do negócio e não de um acionista.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Grendene informou que o processo quer a reincorporação das ações à companhia, já que a Lei das S.A.s, categoria na qual a Beira Rio é classificada, não permite a doação de bens corporativos a terceiros. “Eu não quero brigar com ninguém, só quero minhas ações de volta”, disse o empresário. Grendene – que é irmão gêmeo de Pedro, controlador da Vulcabrás – é sócio da Beira Rio há mais de uma década, com 12% do negócio. Com as ações em tesouraria, os cálculos dos advogados são de que sua participação no negócio subiria para aproximadamente 16%.

Segundo o processo, a doação à fundação ocorreu em 27 de dezembro de 2013, e a operação não foi claramente explicitada no balanço. Por ser empresa de capital fechado, a Beira Rio só precisa publicar seus resultados uma vez por ano.

Para a fundação, que se autodefine, em seu website, como uma entidade de “pesquisa científica, humanista, cultural e educacional”, foram repassadas ações que somam mais de um quarto do capital da Beira Rio  – fabricante de calçados femininos que faturou quase R$ 1,5 bilhão em 2014.

O acionista controlador da Beira Rio, Roberto Argenta, já foi presidente da instituição. Segundo fontes do mercado, é um entusiasta da ontopsicologia, definida no site da fundação como a “ciência mais recente entre as ciências contemporâneas”, “que tem por objeto de estudo a análise da atividade psíquica do homem”.

Por enquanto, não existe nenhuma decisão de mérito sobre o caso, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo. No entanto, há duas liminares que, na prática, suspendem a doação das ações com base na Lei das S.As. As liminares são válidas tanto na primeira instância quanto no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) e suspendem efeitos das assembleias de acionistas que autorizaram o repasse dos papéis da Beira Rio à Fundação Antonio Meneghetti.

O processo alega ainda que Grendene não foi informado do conteúdo das reuniões e que só conseguiu entender que as ações em tesouraria tinham sido doadas depois de pedir o arresto de documentos da empresa. “O problema maior foi por causa de como tudo foi feito, de uma forma para que passasse despercebido”, disse Grendene. “Faltou transparência.”

Embora a Beira Rio não seja uma empresa muito conhecida do público – até porque pouco aparece na mídia –, Alexandre Grendene diz que o negócio é bem administrado e bastante relevante no meio calçadista. “Hoje, existem três grandes empresas relevantes no setor calçadista brasileiro: Alpargatas, Grendene e Beira Rio.”

Relação

Empresa 100% familiar até a década passada, a Beira Rio pertencia somente à família Argenta. Segundo Grendene, foi o próprio Roberto Argenta, alvo do processo atual, que o procurou para comprar parte da empresa quando seu irmão, Renato, separou-se da mulher. Nessa ocasião, Grendene comprou os 12% do negócio que seriam de direito da ex-cunhada do atual controlador, enquanto os 3% restantes ficaram com advogados. Posteriormente, Roberto comprou as ações que pertenciam ao irmão.

Conhecida pela estrutura de baixo custo, a Beira Rio se tornou uma referência em calçados femininos no Brasil. Segundo fontes de mercado, a empresa conseguiu crescer dois dígitos por ano mesmo em um cenário em que muitas fábricas eram derrubadas pela concorrência chinesa. Metas agressivas são apresentadas aos funcionários ano após ano –e, na maior parte das vezes, cumpridas. O próprio Alexandre Grendene diz não ter reclamações nesse sentido: “A Beira Rio sempre teve um lucro bom e eu torço para que ela vá cada vez melhor. Eu nunca me envolvi (na administração), só quero os meus dividendos integrais”. Procurada pelo jornal O Estado de S. Paulo, a Beira Rio não quis conceder entrevista nem se pronunciar sobre o processo movido por Alexandre Grendene.

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