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Michelle Norgan e Kevin Stephens, criadores do Kismet: telefones são “o novo jeito de quebrar o gelo” | Ben Sklar/The New York Times
Michelle Norgan e Kevin Stephens, criadores do Kismet: telefones são “o novo jeito de quebrar o gelo”| Foto: Ben Sklar/The New York Times

Usuários

Adesão ainda é incógnita, e por razões práticas

Esses serviços levantam a questão: As pessoas realmente querem ser seguidas ou querem que estranhos se apresentem na rua? Os criadores desses serviços afirmam que sim, que, embora a proliferação dos celulares tenha feito com que seja mais difícil iniciar uma conversa com outra pessoa que esteja indo para o trabalho ou bebendo sozinha, os aplicativos podem deixar a conversa mais fácil.

"É impossível ir a um café sem ver as pessoas com o olhar fixo nos seus telefones", disse Michelle Norgan, uma das fundadoras do Kismet. "O telefone é o novo jeito de quebrar o gelo, e esses aplicativos lembram você de que há pessoas próximas para interagir, com quem você tem amigos e coisas em comum. É um empurrãozinho para fazer as pessoas tirarem o rosto dos celulares e voltarem para o contato face a face".

A privacidade é uma questão maior ainda. Vários outros aplicativos, mais notavelmente o Colour, que tentaram conseguir usuários com serviços de compartilhamento de fotos e informações com pessoas que estejam por perto, foram recebidos com resistência e se tornaram até alvos de piadas. Mas os programadores desses aplicativos afirmam ter tomado precauções, como garantir que as informações de contato e localização se mantenham ocultas até que ambos as partes concordem em se conectar.

Recursos

Outra preocupação bem prática: o uso de baterias e o tráfego de dados, comodidades preciosas entre donos de smartphones. Porque os aplicativos são executados em segundo plano, constantemente verificando sua localização e podendo, assim, consumir a ambos os recursos muito rapidamente, os criadores desses aplicativos devem garantir que nenhum dos dois sejam esgotados para que eles possam funcionar.

Quem paga?

Investidores apostam nos serviços

Os investidores já parecem decididos sobre a última tendência da telefonia móvel. O Kismet recentemente arrecadou US$1 milhão em capital de arranque de firmas notáveis de capital de risco, incluindo a Triple Point Ventures e a New Enterprise Associates. O Mingle arrecadou US$125.000 em capital de arranque de investidores-anjo, e o Highland arrecadou dinheiro da estimada firma de capital de risco, Benchmark Capital, e de Charlie Cheever, ex-investidor do Facebook e co-fundador do Quora.

Publicitários

A maioria dos aplicativos está disponível, de graça, para os sistemas iPhone e Android. Os empreendedores por trás deles afirmam esperar que um valor significativo possa ser derivado de serviços de localização que saibam aonde vão seus usuários, em que eventos eles têm interesse e os tipos de pessoas que desejam conhecer.

Por exemplo, publicitários e agentes podem pagar pelo acesso a uma ferramente que lhes diz com quem eles devem conversar num evento de networking. Anunciantes também podem se interessar em mandar mensagens feitas sob medida para usuários que tenham se inscrito para esses serviços quando eles entrarem em sua loja.

Mais que namoro

Há sempre a chance de que esses serviços, que se parecem um pouco com serviços de namoro, sejam utilizados para esse fim. Paul Davison, fundador do Highlight, diz que isso é o esperado.

"Qualquer site social que possa ser usado para namorar acabará sendo usado assim", afirmou. "Mas isso é algo muito maior. Você poderá entrar numa sala, olhar ao redor e já saber o nome de todo mundo e tudo sobre eles. Pode fazer com que coisas novas e profundas aconteçam".

  • Davison, do Highlight: serviços podem promover o namoro
  • O Highlight: possibilidade de marcar

Para alguns, smartphones se tornaram indispensáveis para se encontrar lugares novos para tomar um lanche ou umas bebidas.

Redes sociais como o Fa­­cebook ajudam as pessoas a se conectarem com amigos e colegas.

E se essas duas funções se fundissem num serviço só – encontrar amigos, bem como amigos de amigos, sempre que eles estivessem por perto? Isso causaria nervosismo? Ou seria terrivelmente benéfico?

Muitas companhias dizem que seria benéfico e que seus aplicativos ajudariam as pessoas a criar novas conexões e a encontrar pessoas que elas talvez devessem conhecer. As lojas de aplicativos têm sido inundadas por tais ferramentas nas últimas semanas. Kismet, Glancee, Highlight, Ban.jo, Meeteor, Pearescope, GetGauss, Intro, Qrious, Mingle e Sonar – todos eles esperam transformar o smartphone numa espécie de vara radiestésica social capaz de alertar sempre que detectar outras pessoas próximas que tenham interesses, amigos ou objetivos de carreira em comum.

Muitos desses serviços foram lançados em sua primeira ou mais moderna versão um pouco antes da abertura da conferência sobre tecnologia, música e cinema, South by Southwest, no mês passado, em Austin, Texas.

Eles querem capturar o olhar – e os dedos – de mul­­tidões de entusiastas tec­­nológicos, empreendedo­­res e investidores de capital de risco que se amontoaram lá para ver o que há de mais recente em companhias start-up e ideias inovadoras. O que eles realmente querem é uma multidão concentrada de primeiros adeptos, que voltarão para casa e influenciarão a todos para que usem seus aplicativos. Afinal de contas, essa estratégia funcionou para o Twitter e o Foursquare.

"Quando o Facebook, o Twit­­ter e o Foursquare foram lançados, as pessoas olharam e disseram: ‘Credo, que coisa sinistra. Por que eu usaria isso?’", disse Paul Davison, chefe executivo e fundador de um desses serviços, chamado Highlight. "Mas, como com qualquer nova tecnologia, especialmente uma focada em compartilhamento, isso sempre irá acontecer, e, com o tempo, ele poderá se tornar um serviço fun­­damental, como todos os outros se tornaram".

O Mingle, por exemplo, ainda está engatinhando. An­­dy Kim, um de seus fundadores, disse que o serviço, lançado no final do ano passado, ainda tinha sido baixado mais ou menos 50.000 vezes, um número parece insignificante se comparado com um aplicativo de localização mais bem estabele­­ci­­do como o Foursquare, com seus 15 milhões de usuários ativos.

Kim disse que sua companhia, e outras semelhantes, estão criando um novo nicho nas mídias sociais, seguindo o caminho trilhado pelo Twitter, com seu serviço de micro-mensagens, pelo GroupMe, com seu aplicativo de bate-papo em grupo, e pelo Foursquare, com o serviço de check-in. Muitos céticos consideraram esses serviços como sendo "modas passageiras" quando eles foram introduzidos.

É possível que seja mais fácil para a nova geração de serviços ganhar seguidores, em grande parte porque a maioria deles depende de um serviço já estabelecido, o Facebook. Depois que um aplicativo é baixado num smart­­phone, ele tipicamente se conecta ao Facebook para obter contatos e informações pessoais, com a permissão do usuário.

Os aplicativos são exe­­cuta­­dos em segundo plano no smartphone e esperam que outra pessoa que utilize o serviço passe por perto. Como o aplicativo já sabe da localização de todos os seus usuários, o software pode emitir uma notificação para as pessoas que estejam por perto. Ele, então, verifica o que elas possam ter em comum, como adoração pelos filmes de Quentin Tarantino ou conexões sociais ocultas, como um grupo de amigos em comum.

Alguns aplicativos, como Highlight, permitem até que os usuários "marquem como favoritas" pessoas que eles tenham gostado de encontrar, e o aplicativo os lembrará, então, dessa interação na próxima vez que os dois cruzarem seus caminhos, mesmo que seja um ano depois, num restaurante do outro lado do país.

"Temos agora uma arquitetura construída em torno da Web que permite esse tipo de serviço", disse Davison. Segundo ele, o Facebook e o Twitter agora estão por toda parte, como também estão os smartphones sempre conectados e com funções de localização, que trabalham juntos para "criar um sexto sentido que faz vir à tona dados e informação já pré-existentes ao seu redor".

Tradução: Adriano Scandolara

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