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Correndo contra o tempo, a Grécia tem até domingo à noite para fechar um acordo voluntário de renegociação de dívidas com os credores privados. O acerto precisa estar finalizado a tempo de ser aprovado na reunião de ministros de Finanças europeus na próxima segunda-feira. Sem a reestruturação da dívida, o país não receberá os recursos prometidos pela União Europeia e corre o sério risco de dar calote no vencimento de 14,4 bilhões de euros escalonado para o dia 20 de março.

Analistas consultados pela Agência Estado acreditam que as partes chegarão a um acordo voluntário, provavelmente nos momentos finais do prazo, com perdas para os credores estimadas em, pelo menos, 60% (haircut). Mas os especialistas não descartam um default forçado, o que traria turbulência para os mercados na próxima semana.

"Estamos otimistas de que sairá um acordo até domingo", disse Achilleas Georgolopoulos, estrategista de dívida do Lloyds Bank, em Londres. "Parece que estamos perto de um acordo, pois a pressão é grande. Os credores privados devem preferir uma perda parcial a uma perda total, no caso de um default desordenado", afirmou Thomas Costerg, economista para a Europa do Standard Chartered Bank.

Embora prevaleça uma expectativa positiva, os analistas sabem que algo pode dar errado, diante da imprevisibilidade embutida na situação. "Existe uma perspectiva de que possa ocorrer um default desordenado, o que certamente teria implicações negativas", disse Jane Foley, estrategista-chefe de câmbio do Rabobank.

A reestruturação da dívida grega faz parte do segundo pacote de ajuda definido no ano passado pela União Europeia, de 130 bilhões de euros. As lideranças da região definiram que, para a Grécia receber esse dinheiro, os credores privados também terão de dar sua cota de contribuição para as finanças do país.

A negociação envolve a troca da dívida atual por papéis novos. O desconto nominal sobre o endividamento deve ser de 50%, como definido pela UE. Entretanto, o plano europeu deixou brechas sobre o tamanho da perda líquida final para os investidores, e é exatamente esse ponto que atrapalha as negociações atuais - que chegaram, inclusive, a serem suspensas na semana passada.

A principal controvérsia é definir a remuneração dos títulos novos a serem emitidos pelos credores. Quanto menor for o cupom, maior será o prejuízo para os detentores dos papéis. "Parece provável que a perda líquida ficará entre 60% e 70%", estima Georgolopoulos, do Lloyds.

Cláusulas

Se os envolvidos não chegarem a um acordo, a Grécia tem outra opção bem menos palatável: acionar as cláusulas de ação coletiva (CACs), impondo a reestruturação da dívida mesmo sem a anuência dos credores. Até o Banco Central Europeu entraria no barco, o que não está previsto no plano atual - os 50 bilhões de euros em dívidas gregas detidos pelo BCE devem ficar de fora da reestruturação.

O uso das cláusulas de ação coletiva também se configuraria um calote formal e dispararia os contratos de swaps de default de crédito (CDS), com implicações negativas e difíceis de projetar para os mercados, segundo analistas consultados pela Agência Estado.

"É possível que os credores sejam forçados a participar, mas aí entraríamos em um território nunca antes navegado porque o BCE também seria afetado", disse Thomas Costerg, economista para a Europa do Standard Chartered Bank. "Seria um processo compulsório e agressivo aos investidores. Os mercados reagiriam muito mal e Portugal e Irlanda seriam os primeiros a sentirem os efeitos", disse Achilleas Georgolopoulos, estrategista de dívida do Lloyds Bank.

O terceiro cenário seria ainda pior: a Grécia poderia simplesmente deixar de pagar o vencimento do dia 20 de março, de 14,4 bilhões de euros, num default desordenado. Nesse caso, haveria uma onda global de aversão ao risco, com rápido efeito dominó sobre os mercados.

Incertezas

Mesmo se a dívida for renegociada, a Grécia não se livrará de uma ampla lista de incertezas. As dúvidas incluem a real adesão dos credores à oferta de troca de dívida, a disparada dos contratos de swaps de default de crédito (CDS) e a sustentabilidade fiscal.

A obtenção de um acordo voluntário pelos negociadores seria um passo importante. Mas, a partir daí, prevalecerá a expectativa de como será a adesão de toda a base de investidores. "O governo quer obter o apoio de 100%, mas isso é difícil de atingir", disse Thomas Costerg, economista para a Europa do Standard Chartered Bank, à Agência Estado. "Os investidores privados são muito heterogêneos e podem ter objetivos diferentes."

As agências de risco já classificaram a troca da dívida como default. Mas há dúvidas sobre se os termos são suficientes para acionar os contratos de CDS, um mercado com pouca transparência, o que dificulta as previsões.

Analistas também acreditam que a renegociação da dívida significaria alívio, mas não conseguiria, por si só, trazer sustentabilidade fiscal para a Grécia. O endividamento em poder dos credores privados soma 200 bilhões de euros e deve sofrer um corte nominal de 50%, um refresco de 100 bilhões de euros. O objetivo é fazer com que a dívida caia para 120% do Produto Interno Bruto (PIB).

"O acordo seria um começo muito bom, mas não resolveria tudo, será preciso continuar com o trabalho fiscal", disse Achilleas Georgolopoulos, estrategista de dívida do Lloyds Bank. "A recessão é maior do que a esperada e o governo tem dificuldade para tapar o buraco entre os gastos e as receitas, portanto a Grécia ainda tem muita lição de casa para fazer", afirmou Costerg, do Standard Chartered Bank.

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