Dois indicadores econômicos divulgados na semana passada – a previsão de que a inflação pode ficar acima de 8% este ano e a maior taxa de desemprego para fevereiro desde 2011 – reforçam o comportamento ainda mais cauteloso do consumidor. Para segurar os gastos, na hora de ir ao supermercado ele está mais disposto a experimentar, mostra pesquisa do instituto Data Popular. A mudança de comportamento pode beneficiar empresas que investem em produtos mais baratos, além de aumentar a participação das marcas próprias de grandes varejistas.
Consumidor é mais fiel a marcas de higiene que de alimentos
O histórico global mostra que, em épocas de baixa na economia, a tendência é o consumidor ficar mais atento a preço, diz Ana Paula Tozzi, presidente da consultoria em varejo GS&AGR. Esta, segundo ela, é a hora de as marcas premium buscarem uma aproximação com o consumidor usando suas marcas alternativas (e mais baratas).
No caso de companhias que já atuam em um segmento mais intermediário, a tendência é de aparecimento de ofertas mais agressivas, com a criação de pacotes especiais. Afinal, é a chance que esses fabricantes têm de conquistar um cliente que, em tempos de bonança, não experimentaria seus produtos.
O sucesso das marcas de posição intermediária em convencer o cliente a experimentá-las varia de acordo com o “apego” do consumidor a cada categoria. Uma pesquisa feita pela Nielsen mostra que o cliente está mais disposto a economizar em alimentos e bebidas alcoólicas e menos propenso a deixar suas marcas preferidas de produtos de higiene e beleza.
Entre as companhias que estão buscando abocanhar fatia de mercado nesses tempos de crise está a fabricante de bens de consumo Hypermarcas. “É a hora de melhorar a relação custo-benefício dos produtos. E estamos com uma série de propostas neste sentido”, diz o presidente da empresa, Claudio Bergamo.
A Hypermarcas disputa mercado em segmentos nos quais Unilever, Procter&Gamble e Johnson & Johnson são consideradas marcas “premium”. No segmento de fraldas, por exemplo, lançou uma linha da marca Pompom que “garante um bebê sequinho por até 14 horas” – benefício que será usado para brigar em pé de igualdade com opções mais caras.
Ao longo do ano passado, lembra Bergamo, a empresa “repaginou” marcas como Monange, Bozzano e Cenoura&Bronze. “A gente já vinha com essa visão (de oferecer um bom custo-benefício). Achamos que, em 2015, isso vai ficar mais disseminado”, avalia.
O Grupo Pão de Açúcar está investindo pesadamente na ampliação de seu portfólio de marcas próprias – especialmente na rede Extra. A companhia já oferecia desde 2008 a marca Qualitá, também presente nas lojas Pão de Açúcar, a um preço médio 15% mais baixo do que a média das líderes das categorias em que atua. Desde o ano passado, o grupo criou duas marcas exclusivas para o Extra – Pra Valer e Liss –, com uma proposta ainda mais agressiva: redução de 30% em relação às líderes. “O objetivo é que as marcas próprias sejam mais atrativas não só pelo preço, mas também porque estão sempre presentes nas gôndolas, o que nem sempre é possível para outras marcas”, explica Rafael Berardi, gerente de marcas próprias do GPA. Os rótulos próprios representam 10% das vendas da companhia em suas lojas de varejo alimentar.
A força das marcas próprias também aparece na concorrência. Segundo a consultoria Euromonitor, a marca Carrefour já ocupa a quinta posição do mercado brasileiro no segmento de carnes processadas, atrás somente de Sadia, Aurora, Seara e Perdigão.
“Este é o momento da marca própria”, diz Samuel Ramos, gerente desta área no Cencosud Brasil. “No mercado brasileiro, elas representam 5% do total, enquanto no Reino Unido chegam a 40%. Lá fora, essa expansão se deu justamente em momentos de crise”, diz.
-
Piora do rombo e envelhecimento vão forçar nova reforma da Previdência; governo resiste
-
Em revanche, PT irá ao STF pela inelegibilidade do prefeito de São Paulo
-
Deputada norte-americana defende que EUA retirem visto de Moraes; leia entrevista exclusiva
-
Prefeitos do RS se dizem indignados com burocracia do governo para liberar recursos
Aposentados de 65 anos ou mais têm isenção extra de IR, mas há “pegadinha” em 2024
Esquerda não gostou de “solução” para o rombo compartilhada por Haddad; o que diz o texto
A “polarização” no Copom e a decisão sobre a taxa de juros
Bolsonaro 5 x 4 Lula: BC se divide sobre juros e indica rumo após saída de Campos Neto
Deixe sua opinião