Quem olha a Havan por fora, com sua loja inspirada na Casa Branca e réplica da Estátua da Liberdade na porta, pensa que o seu fundador é fã dos Estados Unidos. Há até quem ache que a empresa é americana. Outros, associam o negócio aos chineses, por causa dos vários produtos importados.
Mas o boato que pegou mesmo foi que a Havan tinha ligação com dois ex-presidentes da República, Lula e Dilma. As associações se intensificaram no ano passado, quando a marca chegou pela primeira vez em algumas cidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O país estava tão polarizado politicamente, por causa do processo de impeachment de Dilma Rousseff, que o rumor de que a Havan pertenceria a políticos começou a prejudicar a imagem do negócio catarinense. “A situação ficou insustentável. Nossos caminhoneiros estavam sendo atacados porque achavam que a empresa era da Dilma ou do Lula”, afirma Luciano Hang, fundador e único dono da Havan.
Luciano, que até então se mantinha discreto e deixava todos os holofotes para o seu negócio, resolveu mostrar a cara. Em uma propaganda comercial veiculada no fim do ano passado, o empresário foi enfático: “Eu quero deixar bem claro, a Havan é minha, é sua, é da família, é do Brasil”.
Inspiração
Desmentido o boato, a única percepção que não está de toda errada é admiração do varejista pelos Estados Unidos. Mas, apesar de o negócio ostentar símbolos americanos, é do Oriente que vem a principal fonte de inspiração do empresário catarinense de 54 anos.
Fundador e único dono da Havan, Luciano viajou para a Coreia do Sul pela primeira vez aos 23 anos e ficou impressionado com o que viu. “A população busca estudar e trabalhar para fazer bem feito. E quem consegue ficar rico, entende que ganhou uma dádiva”, explica o empresário. “Gosto muito da simplicidade e inovação dos sul-coreanos”, completa.
Em uma nova visita ao país asiático, Luciano teve a ideia de transformar a sua loja de tecidos aberta em 1986 na cidade de Brusque, sua terra natal, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, em uma importadora. Ele aproveitou a abertura econômica, no início dos anos 1990, para importar tecidos e artigos de R$ 1,99. Os tecidos eram revendidos em sua loja e os artigos, para atacadistas de todo o país.
Nascia ali o embrião do que seria hoje a Havan, uma das principais redes de departamento do país, com faturamento anual de R$ 4 bilhões e 95 lojas abertas em 76 diferentes municípios brasileiros. “Viajei o mundo inteiro nos meus 20 e poucos anos. Fui para a China, Coreia do Sul, Taiwan, Inglaterra e os Estados Unidos. Mas o que mais me impressionou foi a Coreia do Sul. Aproveito as viagens para ver qual é o modelo de negócios que está em alta nos outros países e implanto no Brasil. Não tenho apego ao modelo de negócio.”
E completa. “Fomos mudando o modelo [de negócio] conforme ia sendo necessário. Passei de atacadista de tecido para pioneiro em importação, abastecendo todas as lojas de R$ 1,99. Aí passei a vender tudo em um só lugar e me tornei uma rede de departamentos. Não existe modelo de negócio errado. O que existe é o momento adequado”, afirma Luciano.
Rede de departamentos
A adesão da Havan ao modelo de loja de departamento aconteceu em 1999. A desvalorização cambial e o segmento em alta no exterior foram os principais motivos que levaram Luciano a adaptar o negócio. Mas a empresa já vinha, aos poucos, aumentando o leque de opções e passando a oferecer em suas lojas, além de tecidos, roupas e produtos de cama, mesa e banho, artigos eletrônicos, brinquedos, ferramentas e utensílios domésticos.
Quando ganhou a identidade de rede de departamentos, a marca já tinha a loja matriz em Brusque e duas unidades em Curitiba, uma no Boqueirão e outra próxima ao Parque Barigui. “Curitiba foi a primeira cidade que entramos [ao sair de Santa Catarina], com uma loja no Boqueirão em 1994.”
A chegada à capital paranaense foi triunfal. Teve o dono chegando de helicóptero e funcionários da loja distribuindo presentes às crianças do bairro. E festa não era por menos. Luciano comemorava a sua primeira unidade fora de Santa Catarina. E a população queria conhecer a megaloja em formato da Casa Branca.
O formato era mesmo para surpreender o público. E a inspiração foi sim a sede do governo americano. Deu tão certo que Luciano decidiu colocar um símbolo americano ainda mais imponente na entrada das suas lojas: a Estátua da Liberdade.
A maior está na loja de Barra Velha, no litoral norte de Santa Catarina, com 57 metros de altura, maior até mesmo que a original, em Nova Iorque, com 46 metros de altura, sem contar a base. “É também uma homenagem aos Estados Unidos. São símbolos do sucesso.”
A estratégia de marketing de associar a Havan aos símbolos de sucesso americanos deu certo. A empresa saiu de três lojas na década de 1990 para 95 unidades hoje, com a previsão de chegar a 100 ainda neste semestre. E o que era uma lojinha em Brusque se tornou uma marca conhecida e comentada por todos, chamando a atenção até mesmo dos americanos.
Depois de chegar a 100 lojas neste ano, Havan quer dobrar de tamanho
De uma pequena loja em Brusque que vendia tecidos a Havan se tornou uma das principais redes de departamento do país. A empresa faturou R$ 4 bilhões em 2016, com um aumento de 6% no lucro, e iniciou o ano de 2017 abrindo a sua loja de número 95, em Foz do Iguaçu. A meta é chegar a 100 ainda no primeiro semestre, com as aberturas previstas para os estados de São Paulo, Acre e Roraima.
A empresa tem um mix de mais de 100 mil produtos para abastecer todas as suas unidades. Os produtos são, a grande maioria, de fabricação própria, parte feito na região do Vale do Itajaí. Os artigos importados vêm, principalmente, dos países asiáticos e não representam mais do que 10% do total do catálogo.
A gestão do negócio é feita por Luciano Hang da matriz, em Brusque (SC). Ele conta com cinco diretores para ajudar a tocar a empresa, cada um responsável por um setor: comercial, financeiro, operacional, compras e novas lojas. Abaixo dos diretores, estão os gerentes de lojas, que ficam nas unidades.
“Quanto mais a gente cresce, mais a gente tem que simplificar, ser pragmático. Não pode crescer e aumentar a sua estrutura junto”, afirma o empresário. O princípio é seguido até na comunicação. “Não uso e-mail. Estou abolindo o uso do e-mail nas lojas. É mais fácil resolver os problemas por telefone, você resolve na hora”, explica. Além do telefone, Luciano faz visitas frequentes a todas as lojas para nada sair do controle.
Neste ano, após inaugurar a loja de número 100, o empresário vai focar no plano 200. A meta é, nos próximos anos, dobrar de tamanho e ter 200 lojas no país. “Já temos uns 30 locais em prospecção, e em Santa Catarina e no Paraná há espaço para mais umas 50 lojas.”
A ideia é levar a Havan, hoje concentrada em cidades de pequeno e médio porte com grande fluxo de pessoas ou veículos, para onde o consumidor estiver. “A mobilidade no Brasil é uma desgraça. A Havan vai tentar chegar mais perto do cliente.”
Parte da expansão será concentrada no modelo menor de loja, a partir de 4 mil metros quadrados e sem a estátua. A previsão é encerrar o ano com um faturamento de R$ 5 bilhões, contando as inaugurações feitas ao longo de 2017.
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