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O paulistano Alonso optou por Curitiba: “São Paulo é muito dura, cinza, complicada” | Antônio More/Gazta do Povo
O paulistano Alonso optou por Curitiba: “São Paulo é muito dura, cinza, complicada”| Foto: Antônio More/Gazta do Povo

Programar saída ajuda a pensar no "pós-carreira"

Tão importante quanto a chegada de um profissional a uma organização é a sua saída, sobretudo quando se trata de lideranças que simbolizam a cultura da empresa. Pallaro, Alonso e Kawakami vinham se preparando havia mais de um ano para deixar o cargo, mas essa prática não é disseminada por todas as empresas. "Historicamente as companhias europeias e orientais têm essa preocupação com o desligamento de seus gestores", afirma a diretora da regional Sul da De Bernt Entschev, Ruth Bandeira.

De repente, toda aquela rotina exaustiva de trabalho, reuniões e viagens que consumia praticamente todo o tempo e a energia dos executivos acaba. Segundo Ruth, além do aspecto do dia a dia, um processo de desligamento deve considerar as finanças pessoais e a família, que pode não estar preparada para uma convivência mais intensa. "Muitas esposas entram em pânico", observa.

Na hora de considerar as possibilidades futuras, é fundamental definir o perfil desse executivo. "É mais consultivo, gosta de dar aula ou é mais introspectivo?", questiona. Por fim, a orientação é desmistificar aquela imagem de uma poltrona e um chinelo que vem à mente quando se fala em aposentadoria.

"O mercado começou a reconhecer a experiência. Antes, o caminho comum desses profissionais era as salas de aula. Agora, com a criação dos conselhos executivos e administrativos, a expertise, a experiência, os erros e toda a trajetória de um bom executivo têm um valor muito grande para as empresas", afirma.

  • Pallaro e a mulher, Cláudia:
  • Kawakami: interesse claro por educação definiu seu rumo

O executivo Yoshio Kawaka­­­mi vinha se preparando há meia década para deixar a presidência da Volvo Construction Equipment (VCE), cargo que ocupou por 12 anos. Depois de 37 anos dedicados ao mundo corporativo, ele se aposentou oficialmente no dia 1.° de novembro, mas na prática sua agenda continua lotada. Aos 59 anos, Yoshio investe no que define como a sua "segunda carreira", agora como palestrante e consultor.

"Há algum tempo eu vinha trabalhando no aspecto da reinvenção da minha carreira. Queria usar a minha experiência e conhecimento para beneficiar outras pessoas no mercado. Então, já há alguns anos eu venho fazendo palestras em universidades, entidades e empresas, mirando principalmente nos jovens talentos."

Yoshio não é o único que quer dividir o que aprendeu. Outros nomes de peso que encerraram suas carreiras em empresas sediadas em Curitiba escolheram ficar por aqui e compartilhar sua experiência com aqueles que chegam agora ao mercado ou assumindo cargos de liderança.

Um deles é Emilson Alon­­­so, ex-presidente do HSBC para o Brasil e América Lati­­­­na. Aposentado desde maio de 2011, ele divide seu tempo entre Pastoral da Criança, Instituto HSBC de Solidariedade, Associação dos Amigos da Poli (USP) e Comunidade Carmela, que trabalha com jovens e adultos em situação de risco em Curitiba.

"Estou tratando isso como um período sabático. Tenho 57 anos e com a minha experiência e energia acho que dá para trabalhar mais 10, 15 anos, mas agora escolho o que fazer. Não quero abrir mão de morar em Curitiba, não quero ter compromissos diários e não quero voltar a ser executivo, mas gostaria de usar minha bagagem e minha vivência para conselhos de administração de grandes empresas", diz Alonso.

Um novo ciclo

Depois de mais de 40 anos de trabalho dedicado ao mesmo grupo, o italiano Francesco Pallaro, 62 anos, ex-vice presidente da New Holland no Brasil, percebeu que a hora de se retirar havia chegado. "Entendi que para a minha vida era um ciclo que já tinha terminado. Como estamos vivendo mais agora, eu queria poder fazer alguma coisa diferente, mas não sabia exatamente o quê. Sabia apenas que o homem não pode parar e ficar de pijama em casa", brinca Pallaro, que se aposentou em 2011 e ficou até julho deste ano como conselheiro da CNH.

Pallaro continua cheio de compromissos. Mas agora é ele quem organiza seus horários. Preside a Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio do Paraná e já aceitou uma proposta para participar do conselho de um grupo. "Gosto dessas atividades porque isso tem a ver com relacionamentos, estar com as pessoas que é uma coisa que eu sempre valorizei muito."

Francesco Pallaro

Ficar ativo e cultivar relacionamentos

"Depois de 16 anos, minha vida está aqui em Curitiba. Itália, só para passear e comer", brinca Pallaro, que encerrou a carreira em julho, após mais de 40 anos de trabalho dedicados ao mesmo grupo. "Durante o período em que fiquei no conselho da Case New Holland, cheguei à conclusão de que tenho de dar um pouco do meu tempo e experiência como contribuição à sociedade", afirma Pallaro. Segundo ele, em hipótese alguma aposentadoria significa se fechar dentro de casa. Ao contrário, é fundamental permanecer ativo, cultivar os relacionamentos e direcionar a energia para algo útil e prazeroso de acordo com o perfil de cada um. "Eu não perdi nenhum contato com ninguém, as pessoas me reconhecem pelo que eu sou. Uma coisa que quero fazer é escrever um livro. Quando se chega a essa idade com a vida financeira acertada, a coisa que você mais aprecia é o reconhecimento e estar com pessoas".

Emilson Alonso

Contribuição à Pastoral da Criança

"As minhas aptidões estão ligadas ao que aprendi no trabalho, então pensei: ‘No dia em que eu me aposentar, vou procurar a Pastoral da Criança e oferecer meus préstimos na área de gestão’". Foi aceito, claro. Desde maio de 2011, quando se aposentou, frequenta a Pastoral toda semana. "Estamos tentando aperfeiçoar a gestão, usando medidores de impacto social. Também estou aprendendo muito sobre essa área do terceiro setor, que eu não conhecia." Natural de São Paulo, Emilson veio para Curitiba em 2000. "São Paulo é uma cidade muito dura, cinza, complicada, principalmente para uma pessoa que está mais tranquila, mais relax. Escolhi Curitiba porque é um lugar onde eu tenho relações com as pessoas, sou conhecido e tenho uma afinidade muito grande com a cidade. Queria deixar um pouco do que aprendi aqui."

Yoshio Kawakami

Parar nunca esteve nos planos

Yoshio comandava a norte-americana Cummings no Japão quando recebeu o convite para trabalhar na Volvo Construction Equipment. Nos 12 anos em que ficou no cargo de presidente da empresa na América Latina, o faturamento da empresa cresceu 12 vezes. Segundo Yoshio, o seu interesse bem claro pela área da educação o ajudou no processo de aposentadoria e desligamento. "Acabei tendo contato com uma entidade aqui em Curitiba que é a Universidade da Experiência (UEXP), voltada ao desenvolvimento de talentos jovens, estudantes ou profissionais. Isso me abriu a perspectiva de compartilhar a minha experiência com as pessoas." Há dois anos e meio Yoshio mantém um blog com textos sobre a prática da gestão de empresas, desenvolvimento de carreira e trajetória de vida corporativa e está desenvolvendo, junto com outros colegas, uma empresa de consultoria na área de canais de distribuição.

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Economia | 4:31

Depois de anos de rotina, compromissos e dedicação às empresas e ao mundo corporativo, a aposentadoria pode parecer assustadora. Contudo, para aqueles executivos que se preparam, esse momento marca apenas o fim de um ciclo e o começo de outro, agora com mais autonomia.

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