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Quando a estrada era de terra e qualquer chuva de mais de dois dias bastava para interromper o tráfego, o asfalto era o sonho de consumo dos moradores do Vale do Ribeira. A expectativa era que tudo de ruim fosse embora com o acesso facilitado. A chegada do asfalto não foi uma panacéia, mas certamente foi positiva para a economia da região. Como o progresso não "pegou carona" na nova pavimentação, as cidades agora trabalham para que ele aproveite o caminho mais curto.

Em Cerro Azul, no dia 18, ocorre um seminário para orientar os moradores que pensam em aproveitar o potencial da região para o turismo rural e de aventura. Há quem já se movimente para atender os turistas que começaram a pipocar nos fins de semana de sol, para praticar rafting. "Quando eles começaram a vir, não estávamos preparados. O pessoal ligava dizendo que ia trazer 60 pessoas e eu ficava desesperada, porque não tinha louça suficiente", conta Mara Lovato, que prepara cafés da manhã. "Antes nem a gente convidava os parentes, porque era só para sofrer", diz. Nos dois últimos anos, ela atendeu cerca de mil turistas.

Mara é parceira de uma empresa de Curitiba – que organiza expedições de aventura – e só faz produtos típicos da região, como geléia de tangerina e biscoitos de rapadura, o que representa um apoio aos pequenos produtores. Para os grandes comerciantes agrícolas da região, bastou a presença da boa pavimentação da PR-094, que há pouco mais de dois anos liga com asfalto Cerro Azul a Rio Branco do Sul e representa fornecimento garantido de mercadoria para supermercados de Curitiba e litoral. "Hoje eles podem ligar e aumentar o pedido na última hora, que a gente atende. Além disso, estamos diversificando a produção, para produzir e vender o ano todo", diz o produtor rural Ângelo Platner. Com custos de transporte reduzidos em quase 60% e contratos facilitados pela pontualidade na entrega, a caixa da tangerina, que antes rendia R$ 2,50 para o produtor, hoje significa um ganho de R$ 4,50. "Aplicamos o lucro na lavoura e ganhamos em produtividade", comemora.

A mesma facilidade que leva a produção agrícola de Cerro Azul para o mercado ajudou o comércio de Adrianópolis a receber produtos. Na cidade que faz divisa com São Paulo, o asfaltamento da BR-476, mais conhecida como Estrada da Ribeira, aproximou os fornecedores. "Dificilmente alguém queria fazer entregas aqui. Tínhamos de buscar os produtos", comenta Antônio Bontorin, dono de um supermercado e de uma loja de materiais de construção na cidade. A demanda também aumentou. A chegada de algumas empresas de reflorestamento para cortar o pinus da região gerou um aumento de 30% nas vendas. Pouco, comparado ao que aconteceu na vizinha Tunas do Paraná, mas o suficiente para transformar o mercado de mais de 30 anos de Bontorin em quase um hipermercado. Inaugurado há três meses, vende até colchões e eletrodomésticos. "Existe uma movimentação diferente hoje em Adrianópolis. Praticamente não há imóveis para alugar, os preços de locação e venda subiram muito. Tem mais gente vindo para cá nos fins de semana e investindo em chácaras, terrenos que estavam parados. É o pessoal que já morou aqui e não voltava nem para ver os parentes, por causa da estrada", diz o comerciante.

Adrianópolis não chegou a mudar de aparência desde que o asfalto chegou, há pouco mais de um ano, como em Cerro Azul, onde o comércio cresceu mais e as casas estão sendo pintadas, mudando a paisagem da cidade, antes "encardida" com o pó da rodovia. Mas Adrianópolis ainda tem planos de crescer em breve. A cidade ganhou um laticínio – que depende de questões burocráticas para entrar em atividade – para que os produtores de leite não tenham mais de vender a produção in natura.

Antônio Carlos Neves de Cristo, presidente da Associação de Produtores de Leite do Alto Ribeira, prevê que o litro passe a render o dobro para os produtores. "Hoje tiramos, limpo, R$ 0,40 por litro. Depois pode chegar até a R$ 1", estima.

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