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Escritório de uma financeira no Centro de Curitiba: menos liquidez resulta em menos movimento. | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Escritório de uma financeira no Centro de Curitiba: menos liquidez resulta em menos movimento.| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo
  • Evolução das taxas mensais de juros

Se o leitor anda pelas ruas centrais de Curitiba diariamente deve ter percebido que nas últimas semanas o número de vezes que foi abordado e ouviu perguntas como "vamos fazer um empréstimo hoje?" ou "está precisando de dinheiro?" diminuiu, pelo menos um pouco.

As financeiras estão tímidas, deram uma trégua à sua "caça" por potenciais clientes. Uma ou outra mantém seus funcionários com roupas coloridas e pranchetas na mão abordando os transeuntes. Por que elas desistiram de você? Porque a crise econômica mundial chegou até elas.

Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o setor é formado, em sua maioria, por empresas pequenas que dependem do dinheiro de bancos menores. "Este foi um dos mercados que mais sentiu o agravamento da crise internacional por depender de recursos vindos do exterior, onde o dinheiro esta escasso", explica. Assim a aparente desistência em oferecer empréstimos, é uma tentativa de proteção a possíveis calotes já que, com uma economia menos aquecida, o medo das financeiras aumenta.

Esta restrição do crédito tem dois importantes reflexos para o consumidor: o aumento da taxa de juros e a diminuição do prazo para quitação. O pintor automotivo, Luiz Carlos dos Santos procurou uma loja da Fininvest em busca de um novo empréstimo para quitar dívidas e investir em sua oficina. "Já tenho um empréstimo no BMG, mas preciso de dinheiro para uma reforma na oficina e acho que o juro da financeira ainda vale a pena, já que não tenho como fazer empréstimo com desconto em folha (empréstimo consignado)." A taxa de juro que ele pagará no novo empréstimo será de cerca de 10% ao mês e o prazo para quitação é de 24 meses.

Há financeiras no centro de Curitiba que reduziram o prazo de pagamento pela metade. Caso da GVI que antes operava com prazos de até 16 meses e agora empresta no máximo R$ 10 mil reais para serem quitados em oito meses.

Dados da pesquisa mensal de juros da Anefac apontam que pelo quinto mês consecutivo houve aumento na taxa média de juros das operações de crédito para pessoa física. Houve uma elevação de 0,95% na taxa de juros média, passando de 7,39% ao mês em agosto para 7,46% ao mês em setembro. Esta é a maior taxa de juros média desde novembro de 2006. A pesquisa considera diferentes linhas de crédito e mostra que as taxas mais elevadas são as de empréstimo pessoal em bancos ou financeiras. Segundo a pesquisa, a taxa de juros média para empréstimo pessoal em financeiras ficou em 11,48% ao mês em setembro.

Além do aumento do juro, o grau de endividamento dos consumidores se tornou alvo de avaliação mais criteriosa por parte dos consumidores. "Como não há garantias, as financeiras tentam se blindar de todas as formas", diz Oliveira. Uma forma de conseguir esta garantia é tentando fazer empréstimo mediante a emissão de cheques, com juros que podem chegar a 12% ao mês.

Mesmo o empréstimo consignado (com desconto em folha de pagamento) que oferece menos risco aos bancos, sofreu alteração da taxa de juros nos últimos meses. Entre julho e setembro deste ano a taxa média praticada subiu de 2,11% para 2,13% segundo dados do Banco Central. O vice presidente da Anefac analisa que este tipo de empréstimo é o mais recorrente nas financeiras mas alerta para a dificuldade que o setor enfrenta devido ao tabelamento de taxas para empréstimos à servidores públicos, aposentados e pensionistas. "Já está sendo comum ver financeiras limitando o volume de empréstimo para servidores públicos."

O teto de juros a ser cobrado na concessão de crédito consignado para servidores do governo federal é de 2,5%, mesmo teto fixado para os empréstimos a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). No caso do governo do estado do Paraná a taxa máxima que pode ser cobrada é de 1,85%. A análise de Miguel de Oliveira se confirma na rua. Em um passeio rápido pelas financeiras do Centro de Curitiba, três não estão mais concedendo concedendo empréstimos para servidores estaduais.

O analista prevê que para este fim de ano o setor não deve sofrer alterações. "Este é um mercado que cresceu muito nos últimos anos, mas concentrado em bancos pequenos que são os que se encontram com mais dificuldade neste momento. Não há interesse em fazer este tipo de empréstimo." Mas Oliveira acredita que o volume deve aumentar no próximo ano. "O empréstimo consignado é uma operação segura e que, assim que a economia acalmar, deve voltar a crescer, mas esta retomada não será no curto prazo. Dependerá da volta da captação de recursos que deve acontecer somente no início do ano", resume.

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