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Crise nos Correios

Associação denuncia “pré-insolvência” dos Correios e estatal nega: “anos de sucateamento”

Correios
Correios dizem que crise financeira é resultado de "anos de sucateamento" e que há compromisso de recuperação financeira. (Foto: Pablo Le Roy/MCom)

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A Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap) denunciou que a estatal postal brasileira estaria em uma situação de “pré-insolvência” que poderia inclusive levar ao atraso no pagamento dos salários dos servidores nos próximos meses.

A entidade diz que essa situação ficou evidente com a suspensão unilateral de contratos por prestadoras de serviços de saúde para os funcionários, como hospitais, laboratórios e operadoras, além de transportadoras de cargas.

“A empresa, que já foi um dos maiores patrimônios logísticos do país, hoje se encontra em uma situação crítica, chegando ao que especialistas chamam de ‘fundo do poço’”, disse a Adcap em uma nota enviada à revista Veja e confirmada pela Gazeta do Povo (veja na íntegra mais abaixo).

Por outro lado, os Correios disseram à reportagem que não há uma situação de “pré-insolvência” da estatal, e que a atual gestão “segue comprometida com a recuperação financeira e institucional após anos de sucateamento e enfraquecimento deliberado promovido pela gestão anterior, com vistas à sua privatização” (veja na íntegra mais abaixo).

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Ainda segundo a Adcap, a crise financeira dos Correios resulta da “nomeação de lideranças despreparadas, pautadas por critérios políticos e partidários em detrimento da qualificação técnica”. O atual presidente, Fabiano Silva dos Santos, faz parte do grupo de advogados Prerrogativas e foi indicado ao cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Dados que estarão refletidos nas contas anuais de 2024 mostram que os Correios gastam mais do que arrecadam, sem apresentar projetos sólidos para novos produtos ou iniciativas sustentáveis que garantam sua viabilidade futura", seguiu a entidade.

Em uma nota publicada no site da Adcap na última segunda (7), a entidade diz que vem tentando marcar uma audiência com Santos para “conhecer a situação dos Correios, seu atual fluxo de caixa e as medidas em curso”.

“Considerando as notícias que tem circulado na imprensa tratando da grave e aflitiva situação econômica vivida pelos Correios. [...] Sabemos da sensibilidade dessas informações, entretanto, em nome da coletividade de trabalhadores e aposentados que vivem situação aflitiva e de restrições entendemos que a transparência, total, no momento é fundamental”, escreveu o presidente da Adcap, Roberval Borges Correa.

Na semana passada, a estatal disse que perdeu R$ 2,2 bilhões em receita em 2024 em função da chamada “taxa das blusinhas”, com a tributação sobre remessas internacionais principalmente vindas da China.

“A gente tinha uma participação nesse segmento internacional em torno de 98% de mercado, ou seja, quase dominante, quase exclusivo nesse mercado. No mês de janeiro, a gente está em torno de 30 e poucos por cento”, explicou o presidente dos Correios.

“O resultado financeiro parcial de 2024 reflete esse histórico, marcado por drástica redução de investimentos, aposta excessiva no mercado de remessas internacionais e falta de diversificação de negócios, o que aumentou a vulnerabilidade da empresa”, completou a estatal em nota sobre a denúncia da Adcap.

No entanto, os Correios dizem seguirem “em processo de modernização e fortalecimento, com investimentos em inovação, diversificação do portfólio e redução de despesas”.

Entre as medidas está a implantação do marketplace Mais Correios e a ampliação da oferta de soluções para setores como saúde e agronegócio, além de novos produtos como serviços financeiros, seguros e telefonia.

“O objetivo é garantir uma empresa pública sustentável, eficiente e preparada para o futuro”, disse.

Por outro lado, sobre a questão dos serviços de saúde, a estatal disse que “está em tratativas com a Postal Saúde para manter o pleno funcionamento deste importante serviço”.

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Veja abaixo a íntegra do comunicado da Adcap:

Após mais de dois anos do atual governo, os Correios enfrentam uma grave crise financeira e administrativa, resultado da nomeação de lideranças despreparadas, pautadas por critérios políticos e partidários em detrimento da qualificação técnica. A empresa, que já foi um dos maiores patrimônios logísticos do país, hoje se encontra em uma situação crítica, chegando ao que especialistas chamam de “fundo do poço”.

Dados que estarão refletidos nas contas anuais de 2024 mostram que os Correios gastam mais do que arrecadam, sem apresentar projetos sólidos para novos produtos ou iniciativas sustentáveis que garantam sua viabilidade futura.

Enquanto a administração insiste no discurso de modernização e novas iniciativas, a realidade aponta para uma gestão incapaz de assegurar o pagamento de fornecedores, cumprir compromissos de investimento e, mais preocupante, garantir os salários dos trabalhadores nos próximos meses.

Diante desse cenário, cresce a preocupação sobre o futuro da estatal e a necessidade urgente de medidas concretas para reverter a crise e assegurar a continuidade dos serviços prestados à população.

Em 2022, logo após as eleições, a ADCAP - Associação dos profissionais dos Correios preparou dois documentos (em anexo) para alertar ao novo presidente da estatal sobre a situação da mesma. Não obtiveram resposta e o resultado hoje é o que estamos vendo: uma crise sem precedentes.

Veja abaixo na íntegra a nota dos Correios sobre a denúncia de “pré-insolvência” feita pela Adcap:

Não existe "pré-insolvência". A atual gestão dos Correios segue comprometida com a recuperação financeira e institucional da estatal, após anos de sucateamento e enfraquecimento deliberado promovido pela gestão anterior, com vistas à sua privatização.

O resultado financeiro parcial de 2024 reflete esse histórico, marcado por drástica redução de investimentos, aposta excessiva no mercado de remessas internacionais e falta de diversificação de negócios, o que aumentou a vulnerabilidade da empresa.

Apesar desses desafios, os Correios seguem em processo de modernização e fortalecimento, com investimentos em inovação, diversificação do portfólio e redução de despesas.

Um exemplo dessa reestruturação é a assinatura, na última quarta-feira (2/4) do contrato para implantação do marketplace Mais Correios, que ampliará a atuação da empresa no comércio digital.

A reestruturação em curso inclui ainda a ampliação da oferta de soluções logísticas para setores como saúde e agronegócio, além de novos produtos como serviços financeiros, seguros e telefonia. O objetivo é garantir uma empresa pública sustentável, eficiente e preparada para o futuro.

Sobre o plano de saúde, cabe esclarecer que, como empresa socialmente responsável, os Correios prezam pelo bem-estar físico e mental de suas empregadas e empregados. A estatal está em tratativas com a Postal Saúde para manter o pleno funcionamento deste importante serviço.

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