Os bons resultados da economia em 2010 se refletiram também nos salários dos trabalhadores. Balanço do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que 89% das 700 categorias analisadas em todo o país tiveram aumento real (acima da inflação) no ano passado o melhor resultado da série histórica em 15 anos. No Paraná, o resultado foi ainda melhor: 93,9% das negociações terminaram em aumento real. Em 2011 porém, o quadro será outro. Com o aumento estimado da inflação, o reajuste menor do salário mínimo e a desaceleração da economia, será improvável que os trabalhadores consigam ganhos reais semelhantes, segundo o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira.
"O cenário do ponto de vista das negociações será mais difícil, e haverá redução do tamanho dos ganhos na média. Mesmo assim, não há expectativa de que as empresas mudem seus planos ou deixem de investir, e os ganhos continuam em curso. Será um grande desafio para o movimento sindical", explicou. Em 2010, pelo menos 96% conseguiram repor a inflação medida pelo INPC, resultado ligeiramente inferior a 2007. Segundo o Dieese, o cenário de crescimento econômico, aumento no nível de emprego e inflação em baixos patamares puxou os resultados.
Para 2011, o economista Sandro Silva, do Dieese-PR, afirma que o Paraná deve seguir a tendência nacional. "Acredito que o reajuste do salário mínimo terá um grande impacto. Como este ano não houve aumento real, isso terá um impacto nas próximas negociações. A inflação em alta também inibe a oferta de reajustes acima do INPC, então será muito difícil que o estado repita o resultado de 2010, que foi superior ao nacional", descreveu.
Setores
O comércio foi o setor que apresentou maior proporção de negociações salariais com ganho real em 2010, segundo balanço do Dieese. Foram ao todo 96% de acordos concluídos com aumento superior ao INPC do ano passado, ante 91% na indústria e 83% nos serviços.
José Silvestre disse que o setor de comércio teve desempenho superior ao da economia brasileira em 2010. Segundo ele, até novembro, o comércio teve crescimento de 11% na comparação com o ano de 2009, de acordo com pesquisa do próprio Dieese. "A renda e a oferta de crédito estiveram em alta em 2010 e estas variáveis são os termômetros do comércio. O bom desempenho delas no ano passado explica o resultado do setor", explicou. "Já a indústria foi o setor mais afetado pela crise no país em 2009. Assim, com a recuperação em 2010, os trabalhadores ampliaram esforços para reivindicar a compensação das perdas", acrescentou.
O ano de 2010 se destacou pelo aumento "significativo" no total de negociações terminadas nas faixas mais altas de ganho real. De 700 acordos analisados, 106, ou 15%, tiveram aumento real acima de 3%. Em 2008, essa faixa correspondeu a 4% das negociações, e em 2009, a 5%. A maioria das negociações (74%) resultou em aumento real na faixa entre 0,01% e 3%. No Paraná, segundo o economista Sandro Silva, 75,7% dos acordos garantiram aumento real acima de 2%, proporção duas vezes maior que a média nacional.
Na análise do triênio 2008-2009-2010, o Dieese aponta que 89% das negociações obtiveram ganho real, 2% apenas igualaram a inflação e 10% chegaram ao fim do período com perdas salariais. O balanço destaca ainda que só 2% do total de acordos conseguiram incorporar aos vencimentos ganhos equivalentes ao crescimento do PIB nos últimos três anos, que, acumulado, foi de 12,4% (5,1% em 2008, -0,2% em 2009 e 7,5% em 2010).
Por regiões do país, o Centro-Oeste e o Sul tiveram, respectivamente, 94% e 92% de acordos acima da inflação. Sudeste (87%), Nordeste (87,6%) e Norte (86,4%) vêm logo atrás. Já nas negociações de caráter nacional, 83,3% delas obtiveram ganho real.
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