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Antas, queixadas, tamanduás e até onças fazem parte das lembranças de infância dos irmãos Carla e Carlos Francisco Quesada. Eles chegaram ao Mato Grosso em 1979, quando tinham 3 e 5 anos, respectivamente. Seu pai, Carlos Gonçalez Quesada, que era piloto de aviões agrícolas, havia deixado Cornélio Procópio dois anos antes para tentar a sorte nos novos campos que estavam sendo abertos no Sul do estado – um ambiente de trabalho bem mais promissor do que o Norte do Paraná, empobrecido e castigado pela geada de 1975. Foram todos morar no município de Itiquira, numa fazenda de 210 hectares, dos quais 188 eram de mata virgem. Foi lá que conheceram os animais que povoam a imaginação de muitos, mas com os quais poucos tiveram a chance de conviver de verdade.

"Da onça mesmo a gente só via o rastro", conta o advogado Carlos. "Ela rondava a fazenda de noite e nós ouvíamos o alvoroço dos animais." Mas o felino não costumava fazer estragos na região. Carlos diz não lembrar de ocasião, naqueles tempos, em que se falou de vacas ou bois mortos por onça. A explicação estaria na caça abundante que havia no Mato Grosso daqueles tempos, antes de o algodão e a soja tomarem conta de grandes extensões territoriais. Na propriedade onde viviam, por exemplo, havia três grandes bandos de queixadas (um tipo de porco-do-mato).

As dificuldades da vida naqueles tempos eram grandes. A fazenda onde morava a família Quesada não tinha água encanada ou luz elétrica – sonhos distantes para quem vivia em uma região que ainda estava sendo conquistada do Cerrado. A água de beber vinha de uma mina a dois quilômetros de caminhada da sede. Educação para as crianças tinha de ser em casa mesmo. Cleide Villas Boas Quesada, que até hoje responsabiliza-se pela casa nos longos períodos em que o marido viaja, foi professora nos velhos tempos de Cornélio e alfabetizou os filhos nos intervalos das lidas da casa – e agora orgulha-se de vê-los formados, ele em Direito, ela em Administração.

O pai Carlos Quesada, mais conhecido na região como Carlão Piloto, tentou a vida como gerente de garimpo, plantou arroz e soja, teve gado e alambique. Hoje está de volta à aviação, desta vez conduzindo aeronaves executivas para os empresários da região, muitos dos quais seus conterrâneos. Cleide ajuda no sustento da família fazendo trufas de chocolate e vendendo, entre outros lugares, na sede do grupo Maggi, para funcionários da família paranaense mais bem sucedida de Rondonópolis. Assim, o círculo se fecha. Algumas famílias enriqueceram, outras nem tanto. Mas todas seguem buscando um lugar ao sol no Centro-Oeste – bem longe do frio e da geada que lhes mudou o futuro, há 30 anos.

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