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Carros argentinos no Porto de Paranaguá: apesar de queda em maio, veículos respondem por boa parte do déficit | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Carros argentinos no Porto de Paranaguá: apesar de queda em maio, veículos respondem por boa parte do déficit| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Produtos

Petróleo e industrializados têm os maiores rombos

O maior descompasso entre importações e exportações no Paraná é o da categoria de combustíveis minerais, que acumula déficit de US$ 915 milhões no ano. Isso porque o estado praticamente não exporta combustíveis e, por outro lado, compra muito petróleo bruto da Nigéria para ser processado na refinaria da Petrobras, em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. Na sequência, as categorias mais deficitárias do estado são as de máquinas e equipamentos mecânicos, com saldo negativo de US$ 859 milhões; veículos e peças (US$ 591 milhões); e aparelhos e materiais elétricos (US$ 581 milhões). O déficit conjunto desses três grupos de industrializados passa de US$ 2 bilhões.

Por causa das peculiaridades da estrutura produtiva do Paraná, alguns desses grupos são deficitários "por natureza". Mas esse nem sempre foi o caso dos grupos de equipamentos mecânicos e veículos, que eram superavitários até 2006 e 2008, respectivamente.

Assim como ocorreu em vários outros segmentos industriais, os fabricantes desses produtos passaram a ter mais dificuldades para exportar, por causa da valorização do câmbio, ao mesmo tempo em que o vigoroso consumo interno e o barateamento do dólar seguem estimulando a importação de componentes e mesmo de produtos acabados. (FJ)

Barreira comercial

Importação de automóveis argentinos despenca 42%

A entrada de automóveis argentinos no Brasil caiu 42% de abril para maio, passando de US$ 403 milhões para US$ 232 milhões, segundo a base de dados do MDIC. Desde meados do mês passado, a importação de carros está submetida a um regime de licenças não automáticas, cuja liberação é mais lenta.

Teoricamente válida para todos os parceiros comerciais, a medida do governo brasileiro foi vista como uma retaliação a medidas protecionistas da Argentina. Os números do MDIC parecem confirmar essa tese: a queda na entrada de carros argentinos foi bem mais forte que a observada nas importações totais de automóveis feitas pelo Brasil, que recuaram 12% de abril para maio, somando US$ 1,016 bilhão.

A perda de espaço da Argentina fica mais evidente quando se observam os dados relativos aos carros fabricados no México, cujas importações aumentaram 4% em maio, para US$ 150 milhões. (FJ)

  • Confira o déficit comercial acumulado

O saldo da balança comercial paranaense nos cinco primeiros meses de 2011, que ficou negativo em US$ 453 milhões, é o pior para esse período em pelo menos 22 anos, quando teve início a série histórica do Ministério do Desen­volvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Desde então, o estado havia acumulado déficit comercial no intervalo entre janeiro e maio apenas uma vez – em 2001, quando o saldo ficou negativo em US$ 189 milhões.

É fato que, de 2008 para cá, as importações superaram as exportações em vários meses. Mas a primeira metade do ano, quando é escoada grande parte da safra agrícola, costumava ser de gordos superávits. Nos cinco primeiros meses de 2010, por exemplo, as vendas ao exterior haviam desbancado as compras em US$ 535 milhões. Em anos anteriores, o superávit no período ficava quase sempre acima de US$ 1 bilhão, chegando a beirar US$ 2 bilhões em meados da década passada.

O desempenho deste ano reforça as evidências de que, mesmo batendo recordes, os embarques paranaenses de produtos básicos e semimanufaturados – como soja em grão, carnes e açúcar – têm dificuldade cada vez maior em suplantar as importações de petróleo, adubo e, principalmente, produtos industrializados. Ao todo, o estado exportou quase US$ 6,5 bilhões de janeiro a maio, um faturamento inédito, 24% maior que o dos cinco primeiros meses de 2010. A expansão das importações, porém, foi bem mais forte: elas cresceram 48%, atingindo pouco mais de US$ 6,9 bilhões.

Entre os manufaturados que o Paraná traz de outros países destacam-se veículos e suas peças, em especial fabricados na Ar­gen­tina, México e Alemanha; e uma miríade de produtos chineses, entre eles aparelhos de ar condicionado, telas de computador, circuitos integrados, ferramentas elétricas, lâmpadas, pneus e eletrodomésticos de todo tipo. Grande compradora de soja e frango, a China é hoje o principal parceiro comercial do Paraná, respondendo por 16% das transações do estado com outros países – há dez anos, a participação chinesa não chegava a 2%.

Volta ao passado

A predominância de produtos primários na pauta de exportação e de industrializados na ponta importadora não é exclusividade do Paraná. Trata-se de uma tendência que fica mais nítida a cada ano em todo o Brasil. Por sinal, o país só não registra déficits comerciais com tanta fre­quên­cia porque, além de soja, também exporta muito minério de ferro e petróleo, insumos que não são produzidos no Paraná.

O perfil do comércio exterior incomoda a maior parte da indústria. Para o economista Roberto Zürcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Paraná e Brasil estão "voltando aos tempos de colônia". "Muito do que é importado poderia estar sendo fabricado aqui. Temos um alívio nas exportações porque as commodities agrícolas estão com bons preços, e assim devem continuar. Mas poderíamos agregar muito mais valor a essa matéria-prima antes de exportá-la", avalia Zürcher. Para ele, o governo federal deveria taxar a exportação de commodities, de forma a estimular sua industrialização.

Rodolfo Coelho Prates, professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade Positivo, avalia que a tendência de crescimento dos embarques de produtos primários não é reversível no curto prazo. "Estamos comprando de onde é mais barato. Com nosso câmbio valorizado e o da China permanentemente desvalorizado, nosso poder de compra lá fora está muito grande. Isso faz muitas empresas substituírem nacionais por importados, o que cedo ou tarde prejudicará o nível de emprego no país", alerta.

Política industrial

Para Prates, taxar as vendas de produtos básicos seria perigoso, por limitar uma grande fonte de recursos externos. "Em vez disso, o governo pode abandonar a flutuação do câmbio e passar a fixar uma taxa mais adequada à indústria. Mas o fundamental é adotar uma verdadeira política industrial, algo que não temos há três décadas. Até hoje, política industrial no Brasil não passa de retórica", critica.

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