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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no lançamento da nota de R$ 200, em 2020: Copom diz que arcabouço fiscal pode ajudar a controlar a inflação e prega serenidade e paciência na política de juros.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no lançamento da nota de R$ 200, em 2020: Copom diz que arcabouço fiscal pode ajudar a controlar a inflação e prega serenidade e paciência na política de juros.| Foto: Raphael Ribeiro/BCB

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) voltou a “jogar a bola” para o Executivo na questão de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. Na ata da última reunião, publicada nesta terça-feira (28), o colegiado afirma que continuará acompanhando o desenho, a tramitação e a implementação do arcabouço fiscal que será apresentado pelo governo e votado pelo Congresso.

O adiamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, originalmente prevista para acontecer nesta semana, poderá antecipar a apresentação da nova regra fiscal. Na segunda-feira (27), o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que as conversas devem ser aceleradas nesta semana.

Apesar de destacar que não existe “relação mecânica” entre a convergência às metas de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal, o Copom destaca que a apresentação de um conjunto de medidas sólidas e críveis pode contribuir para um processo mais rápido de desinflação, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos.

As expectativas de inflação têm piorado nos últimos meses, por causa das incertezas em relação às regras fiscais que substituirão o teto de gastos. Desde dezembro, a mediana das projeções para o IPCA de 2023 passaram de 5,36% para 5,93%; as de 2024, de 3,50% para 4,13%; e as de 2025, de 3,02% para 4%, segundo o boletim Focus, do BC.

O comitê ressalta que a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública – atualmente em 73,1% do PIB, segundo os dados mais recentes – é um dos três fatores de risco que podem levar à alta da inflação e ao aumento das expectativas.

Outros fatores que podem contribuir para a elevação da inflação são uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para os prazos mais longos.

O comitê, porém, também cita alguns fatores que podem contribuir para a queda da inflação nos próximos meses:

  • uma queda adicional dos preços das commodities em moeda local;
  • uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e
  • uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual ciclo de política monetária.

Criticado por Lula, Copom fala em serenidade e paciência na política de juros

Segundo a ata divulgada nesta terça, é necessário serenidade e paciência na condução da política monetária para garantir a convergência da inflação para suas metas, numa aparente referência indireta às críticas do presidente Lula e de membros do governo e do PT às altas taxas de juro.

O órgão lembra que o comportamento das expectativas é um aspecto relevante para o processo inflacionário.

“Afeta a definição de preços e salários presentes e futuros. À medida que se projeta inflação mais alta à frente, empresas e trabalhadores passam a incorporar tal inflação futura em seus reajustes de preços e salários. Assim há ima maior elevação de preços no período corrente, e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas”, apontam os diretores do BC na ata.

Analistas apontam que reação foi bastante dura

Analistas de mercado avaliam que a reação do Copom foi bastante dura. Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, o órgão entende que há um risco de o mercado de crédito desacelerar a economia.

Ele aponta que a mera entrega do arcabouço fiscal, com possibilidade para ocorrer nos próximos dias, é insuficiente para mudar a orientação da política monetária. “Sem uma melhora nas perspectivas fiscais dos próximos anos, derivada do novo arcabouço, o Copom entende que não há porque responder.”

Segundo o economista-chefe da Porto Asset Management, José Pena, a possível contribuição do novo arcabouço fiscal ao processo de desinflação dependerá da consistência técnica, viabilidade política e credibilidade junto aos agentes econômicos. "A ata fez uma importante observação sobre esse tema", diz.

Os analistas Christopher Garman e Bruno Magalhães, do Eurasia Group, apontam que o grau que Lula quiser afrouxar as regras fiscais vai ser determinante para quantas medidas politicamente mais caras para o governo serão necessárias para aumentos adicionais de receita.

“Um programa de revisão de gastos e requisitos mais rígidos para incentivos fiscais também devem ser elementos críticos da proposta”, citam eles.

Espaço para cortes no futuro próximo é restrito

Pena também considera que a ata foi clara em mostrar que diante da desancoragem das expectativas e da persistência de uma inflação corrente elevada, sobretudo dos serviços, o espaço de corte no futuro próximo é muito reduzido.

"A ata do Copom reafirmou o tom do comunicado da semana passada, trazendo a mensagem de paciência e manutenção dos juros por enquanto. Então, não dá uma sinalização de possível corte na próxima reunião", diz Raphael Vieira, co-head de investimentos da Arton Advisors.

Borsoi, da Nova Futura, enfatiza que a desancoragem das expectativas é fator primordial nas próximas decisões do Copom, não só nas de curto prazo, como as de médio e longo prazo, que podem enraizar uma inflação mais alta na economia.

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