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O Banco Central deu nesta quarta-feira (22) sinais explícitos da possibilidade de elevar a taxa básica de juros na primeira reunião após a posse do novo governo em janeiro, destacando que suas projeções para a inflação demandam uma ação no curto prazo para corrigir o descasamento entre oferta e demanda.

Caso se confirme o aperto já em janeiro, ele ocorreria na estreia do economista Alexandre Tombini no comando do Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado responsável por delinear a política de juros.

O recado, atipicamente claro, foi dado no Relatório de Inflação do quarto trimestre e em entrevista do diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, a jornalistas, apenas seis dias após ata do Copom ter dividido analistas sobre os próximos passos de política monetária.

"Nós entendemos que no regime de metas de inflação desvios em relação à meta na magnitude dos implícitos nas projeções (...) do relatório, sugerem necessidade de implementação, no curto prazo, de ajustes na taxa básica de juros", afirmou Araújo, ecoando os termos do documento.

No relatório, o BC informou ter elevado suas projeções para a inflação neste ano e no próximo. Para 2011, em cenário que considera juros e câmbio estáveis, a estimativa do BC para a inflação ao consumidor medida pelo IPCA aumentou para 5,0 por cento, ante 4,6 por cento antes. Para 2010, a alta foi maior - para 5,9 por cento, contra 5 por cento no trimestre anterior.

O BC destacou que as novas estimativas já levam em conta o aumento recente do compulsório.

A meta de inflação do governo é de 4,5 por cento para os dois anos, com margem de tolerância de dois pontos.

As projeções de juros do mercado subiram após a divulgação do relatório, com investidores elevando as apostas em um aumento da Selic, atualmente em 10,75 por cento ao ano, já em janeiro.

Na semana passada, a ata da última reunião do Copom, que manteve a Selic estável, havia dividido os analistas sobre o momento de uma alta de juros, ao ressaltar uma piora do cenário inflacionário mas também destacar que o colegiado avaliaria os efeitos de medidas recentes de aperto.

"Ele deixou bem explícito (no relatório) que deve aumentar o juro no curto prazo e acho que deixou uma indicação clara de que seria em janeiro", afirmou Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin.

"A estimativa dos efeitos das políticas macroprudenciais esperados já estão incorporados nas projeções e, mesmo assim, a (previsão de) inflação segue acima (do centro) da meta."

Influência "ambígua"

O BC também reforçou a mudança do tom em relação ao impacto do cenário externo sobre a inflação no Brasil, ressaltando que essa influência é "ambígua".

Até a ata divulgada em outubro, o BC vinha afirmando que o cenário global de baixo crescimento tinha uma certa influência "desinflacionária".

"No âmbito externo, o principal risco inflacionário advém do comportamento dos preços das commodities, risco este que, desde a divulgação do último relatório, tem se exacerbado pelo processo, ainda em curso, de aumento da liquidez global", afirmou o BC no relatório.

No cenário doméstico, a autoridade monetária destacou que a ociosidade na economia é "bastante estreita" , o que cria risco de descompasso entre oferta e demanda, mesmo após o governo ter elevado os compulsórios e diante da expectativa de uma desaceleração da atividade e de uma elevação do esforço fiscal pelo novo governo.

O BC manteve sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto de 7,3 por cento em 2010 e anunciou pela primeira vez sua estimativa de crescimento para 2011, de 4,5 por cento.

O BC informou, ainda, que prevê um crescimento de 15 por cento do crédito em 2011, para acima de 50 por cento do PIB, após uma alta de 20 por cento este ano.

Terceiro cenário

Como sempre faz, o BC também divulgou suas projeções para a inflação em um cenário que considera as trajetórias previstas pelo mercado para a Selic e o câmbio. Nesses casos, o prognóstico para o IPCA em 2010 passou de 5 para 5,9 por cento e, para 2011, de 4,6 por cento para 4,8 por cento.

Pela primeira vez, Araújo também comentou um terceiro cenário que considera o câmbio estável e a Selic projetada pelo mercado. Segundo o diretor, nesse caso a inflação se encontra "um pouquinho" acima da meta em 2011 e um "pouquinho abaixo" em 2012, disse o diretor.

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