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Loja do Carrefour em Curitiba: BNDES teria acreditado que negócio era consensual | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Loja do Carrefour em Curitiba: BNDES teria acreditado que negócio era consensual| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Negócio é "um horror", diz presidente da Firjan

A fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour poder ser um "horror", disse ontem o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira. Para ele, o negócio, se concluído, pode gerar desemprego por "estrangular" o canal de distribuição e pelo poder que a empresa terá junto aos produtores.

Gouvêa Vieira disse que já expôs ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, pesquisa que mostra que a maior parte do empresariado é contrária à fusão. "Espero que o governo repense. É impossível concordar. O interesse da sociedade, do consumidor, do produtor, de todos, é inverso. Inclusive essa questão de internacionalização, não vi nada. Por que uma empresa que não exporta hoje vai exportar depois? A troco de quê?", questionou. Segundo o executivo, o presidente do BNDES sinalizou que só daria apoio caso a oferta não fosse hostil, e se todos os acionistas estiverem de acordo.

O presidente da Firjan lembrou ainda que a tese de se criar uma companhia nacional forte não se sustenta. "A nova companhia será também de capital majoritariamente francês, hoje e amanhã", completou.

Folhapress

Julgamento no cade

Brasil Foods descarta se desfazer das marcas Sadia e Perdigão

Em outra fusão polêmica, que aguarda decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a venda das marcas Sadia ou Perdigão está decididamente descartada pelos acionistas controladores da BRF-Brasil Foods. Segundo uma fonte, os sócios estão dispostos até a recorrer à Justiça caso o Cade ratifique uma posição contrária a fusão entre as duas empresas de alimentos.

A próxima semana será decisiva para o caso. Em uma reunião marcada para segunda-feira no Cade, os negociadores da companhia, pressionados pelos acionistas, querem alinhavar um acordo mais concreto, que viabilize a manutenção das duas marcas da BRF. No encontro, segundo a fonte, os sócios vão informar ao Cade a intenção de brigar na Justiça caso sejam obrigados a se desfazer da Sadia ou da Perdigão. Na visão dos controladores, a venda dessas marcas significaria, na prática, a destruição da fusão anunciada em 2009.

Até agora, a empresa tentava evitar que o julgamento fosse transferido do âmbito administrativo para o Judiciário. O principal motivo é a conhecida lentidão da Justiça brasileira. Para se ter uma ideia, a fusão entre Nestlé e Garoto, que apresentava uma gama de concentração de produtos bem menor do que no caso da BRF, foi vetada pelo Cade em 2004. A saída foi apelar para os tribunais, mas até hoje o desfecho do processo ainda não é conhecido.

Nos últimos encontros no Cade, os representantes dos acionistas têm buscado sensibilizar o órgão de defesa da concorrência da possibilidade de destruição dos negócios e, com isso, abrir caminho para um desfecho considerado mais "coerente". Além da venda de marcas menos expressivas do grupo, a última proposta apresentada ao Cade prevê ainda que a BRF se desfaça inclusive de ativos industriais (fábricas). "O que está se oferecendo não é pouco", revelou a fonte.

A reportagem apurou que seis empresas já manifestaram interesse em comprar o espólio que sobrar da fusão entre a Sadia e a Perdigão. No mercado, especula-se que entre os potenciais compradores estão as nacionais JBS e Marfrig e as norte-americanas Tyson Foods, Cargill, Bunge e Smithfield Foods.

Agência Estado

O Banco Nacional de Desenvol­vimento Econômico e Social (BNDES) quer deixar claro: está fora do negócio com o Carrefour se não houver acordo entre os sócios Pão de Açúcar e Casino. É uma estratégia de saída do BNDES, que vem sendo duramente criticado por ter se comprometido a analisar um aporte de até R$ 4,5 bilhões na fusão entre a rede do empresário Abilio Diniz e os ativos do Carre­four no Brasil.

O banco divulgou duas notas seguidas à imprensa, informando que "o apoio ao projeto se baseia na premissa do entendimento amigável entre os atores privados". Uma fonte do banco confirmou à reportagem que, se a premissa não for atendida, a operação não terá prosseguimento. Segundo essa fonte, desde o início o banco já impunha a condição de uma "oferta não hostil" e um "entendimento entre os sócios".

Reuniões

Os dois lados envolvidos na disputa estão fazendo pressão no banco. Ontem, em São Paulo, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, reuniu-se com Diniz, que preside o conselho de administração do Pão de Açúcar. Na segunda-feira, será a vez de Coutinho receber o presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, que vem de Paris especialmente para o encontro. Coutinho vai ouvir os argumentos dos executivos e expor a posição do banco, mas não atuará como facilitador.

Diniz pediu a reunião de ontem porque ficou preocupado com o recuo do BNDES expresso na nota divulgada na quinta-feira. O empresário está assustado com a repercussão negativa do caso. "Estou sendo muito criticado, mas acredito que a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour será boa para o país e para os brasileiros", escreveu no Twitter.

Ao aceitar avaliar a fusão entre o Pão de Açúcar e os ativos do Carrefour no Brasil, o BNDES foi envolvido em uma disputa societária. Pelos contratos em vigor, o Casino tem o direito de assumir o controle do Pão de Açúcar em 2012 por causa de um negócio fechado por Diniz em 2005. A operação com o Carrefour, no entanto, dilui a participação do grupo francês.

Lucros

O BNDES mantém sua posição de que o negócio pode ser lucrativo para o BNDESPar, braço do banco de participação em empresas, que atua apenas com recursos captados no mercado. Também acredita que a operação vai ajudar a evitar a "desnacionalização" do varejo no país. Mas não está disposto a arbitrar uma briga entre sócios.

O banco estatal também tem sido pressionado pelo governo federal a deixar mais claro que condiciona sua participação na fusão a um acordo entre os acionistas. Conforme uma fonte, a própria presidente Dilma Rousseff manifestou preocupação com o fato de que a repercussão negativa da operação ter exposto o BNDES à desconfiança estaria ajudando Diniz a vencer o Casino na disputa pelo controle da maior varejista do país.

Os termos de análise do negócio no banco abrem uma porta de saída para o BNDES. Pelo documento de "enquadramento" da operação, feito a pedido do BTG Pactual (um dos sócios), o aval da direção do banco só acontecerá depois de um acordo definitivo entre os acionistas. "Se houver litígio, a aprovação só sai depois de tudo superado, inclusive uma eventual disputa na Justiça. Se a Justiça der razão ao Diniz e isso for incontestável, então o BNDES poderá aprovar", explica uma fonte do BNDES.

Imagem arranhada

Os diretores do BNDES ficaram preocupados após uma reunião que tiveram com executivos do Casino nesta semana. De acordo com uma fonte que participou do encontro, os franceses explicaram que Diniz não cumpriu suas obrigações contratuais de informar o sócio sobre as negociações com o Carrefour. Os executivos disseram ainda que o Brasil pode sair do episódio com a imagem de um país que não respeita contratos, como a Venezuela ou a Rússia.

Ainda conforme essa fonte, os diretores do banco demonstraram surpresa na reunião, porque o Pão de Açúcar teria dito que a operação era praticamente consenso. A reportagem apurou com executivos do BNDES que Diniz estimulou o otimismo do banco de que conseguiria um acordo, inclusive costurando compensações que o Carrefour ofereceria ao Casino. E que a entrada do BNDES (leia-se o governo) no negócio seria uma forma de influenciar o Casino.

Só que até agora não funcionou. O Casino teve uma reação enfurecida ao perceber que sua participação estava sendo diluída. A empresa publicou um comunicado na imprensa acusando Abilio Diniz de agir ilegalmente e se armou para a briga, com a compra de ações preferenciais do Pão de Açúcar no mercado e até levantando dinheiro na Colômbia para eventualmente adquirir a parte de Diniz no negócio.

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