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Energia

Bolívia reduz em 75% o gás para a Argentina e 10% ao Brasil

A Bolívia se viu forçada na sexta-feira a reduzir em mais de 75 por cento suas exportações de gás natural para a Argentina e em mais de 10 por cento os envios para o Brasil, devido a danos causados nos gasodutos por um violento protesto popular.

Sebastián Daroca, executivo da estatal boliviana YPFB, disse que a restrição afeta os mercados do norte da Argentina, de Cuiabá (MT) e de São Paulo. Ao todo, a Bolívia cortou 20 por cento do total das suas exportações para os países vizinhos.

Em entrevista coletiva no palácio do governo, Daroca disse que a exportação para a Argentina caiu de 5 milhões para apenas 1,2 milhão de metros cúbicos por dia. Para São Paulo, a queda foi relativamente pequena, de 24,6 para 24 milhões, mas o fornecimento para a região de Cuiabá, de 2,2 milhões de metros cúbicos por dia, foi totalmente interrompido.

Por causa disso, uma fonte do governo disse que "muito possivelmente" a Argentina reduzirá no sábado as exportações de gás para o Chile, de modo a compensar o corte na importação da Bolívia. O Chile depende quase totalmente do gás enviado da Argentina.

Os protestos começaram no fim de semana passado e deixaram um morto em confronto com a polícia. As manifestações, ainda não controladas, representam a pior dificuldade já enfrentada pelo governo de Evo Morales nas exportações de gás.

Rádios locais disseram que quase mil moradores da província do Gran Chaco (sudeste) mantêm cercado na sexta-feira pelo segundo dia o campo de San Alberto, o de maior produção no país, operado pela Petrobras .

Daroca disse que a diminuição das exportações, que pode se agravar a partir de domingo, se deve à redução forçada da produção de San Alberto, de 10 milhões de metros cúbicos diários para apenas 3,4 milhões.

Os moradores do Gran Chaco respondem a mobilizações feitas há duas semanas pela vizinha província de O'Connor, num confronto pela posse da gigantesca jazida de gás Margarita, operada pela espanhola Repsol-YPF.

Daroca explicou que a redução da produção não é consequência do cerco ao campo, a cerca de 1.400 quilômetros de La Paz, e sim da ocupação prévia das estações de bombeamento durante o conflito.

A diminuição das exportações deve durar até que volte à normalidade o sistema de bombeamento administrado pela Transredes, filial da anglo-holandesa Royal Dutch Shell, alvo de violentas manifestações nesta semana na cidade fronteiriça de Yacuiba.

Produção até domingo

"A produção de gás de San Alberto está associada à produção de líquidos e, devido à ocupação das instalações da Transredes em Yacuiba, esses líquidos não podem ser escoados tanto para o mercado de exportação quando para o mercado interno", explicou o executivo.

"Por causa dos danos no sistema está sendo gerado um acúmulo de líquidos no campo de San Alberto. Esta situação põe em risco a produção desse campo, que é de vital importância para as exportações do país."

Daroca advertiu que, se a situação não for resolvida até domingo, "a capacidade de armazenamento de líquidos (em San Alberto) estará esgotada, e o campo teria de parar."

O ministro brasileiro da Energia, Silas Rondeau, disse na sexta-feira em Brasília que conversou por telefone com seu colega boliviano dos Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, que lhe prometeu que a Bolívia dará prioridade ao abastecimento do mercado brasileiro sobre o argentino.

Em conversa com jornalistas, Rondeau disse também que a Petrobras mantém nesta sexta-feira negociações em La Paz sobre as condições de venda à Bolívia das duas refinarias que a estatal controla no país vizinho.

O governo boliviano deu como prazo 1. de maio para alcançar um acordo sobre o controle das refinarias, como parte da nacionalização dos hidrocarbonetos, decretada exatamente um ano antes por Morales.

Por causa da diminuição das exportações, a Bolívia deixa de arrecadar quase 1 milhão de dólares por dia. Daroca advertiu que o valor pode dobrar se o campo de San Alberto tiver de reduzir sua produção praticamente a zero.

A Bolívia projeta que as vendas de gás alcançarão um valor de quase 2 bilhões de dólares em 2007.

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