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O principal índice da B3 subiu quase 5% nos primeiros 20 dias do ano.
O principal índice da B3 subiu quase 5% nos primeiros 20 dias do ano.| Foto: Divulgação/B3

Na contramão do cenário internacional, o mercado financeiro brasileiro começou 2022 com altas expressivas na Bolsa e sucessivas quedas no valor do dólar. Na quinta-feira (20), o Índice Bovespa, da B3, teve sua terceira sessão consecutiva de valorização, fechando aos 109.101 pontos, maior nível desde 20 de outubro do ano passado – desde o início do ano, acumula alta de 4,79%.

Enquanto isso, Wall Street vê seus índices no vermelho. O índice de referência S&P 500 caiu 1,10% na quinta, somando uma queda acumulada de 5,9% nos 20 primeiros dias do ano. A Nasdaq, por sua vez, já recua 9% em 2022.

Ao mesmo tempo, o dólar perdeu valor frente ao real. Na quinta-feira (20), recuou 0,9%, fechando o pregão a R$ 5,417, menor cotação desde 11 de novembro de 2021. Na véspera, a moeda norte-americana já havia caído 1,68% ante a moeda brasileira. E desde o dia 5, quando chegou a ser cotada a R$ 5,712, acumulou desvalorização de 5,16%.

Após seguidas altas da B3 e quedas do dólar, o mercado começou esta sexta-feira (21) em ritmo de ajuste, revertendo parte do movimento de quinta: pouco depois das 10h, o câmbio subia cerca de 0,8% e o Índice Bovespa recuava 0,3%. Por volta das 11h30, porém, a alta do dólar estava limitada a 0,1% e a B3 já havia retornado ao azul, com alta próxima de 0,3%.

Entre os fatores que ajudam a explicar o desempenho positivo do mercado financeiro no início do ano está a valorização de commodities como o petróleo e o minério de ferro, que beneficiam empresas relevantes no índice brasileiro, como Vale e Petrobras. Mas a principal razão para os indicadores está no fluxo de capital estrangeiro que entra no Brasil atrás de juros mais altos, segundo analistas do mercado.

“Nós estamos finalizando o ciclo de aumento de juros, enquanto a maior parte dos países desenvolvidos começa esse processo neste momento. Então, o Brasil já descontou tudo o que o mercado pode cair por conta do seu ciclo de aumento de juros”, explica Felipe Vella, analista técnico da Ativa Investimentos.

“Consequentemente a gente se torna barato frente aos nossos pares: Estados Unidos, que vai começar o ciclo provavelmente em março; a Inglaterra, que começou agora, aumentando 0,25% na última reunião; a Europa, que ainda nem começou a aumentar; o Japão; que também não começou a aumentar”, diz Vella.

Do início do ano até o dia 19, estrangeiros já injetaram mais de R$ 15,5 bilhões na Bolsa brasileira, segundo dados da B3. Segundo Vella, investidores que vendem ativos nesses mercados veem no Brasil uma alternativa mais interessante. “Boa parte desse capital que entra aqui vem para a renda fixa, mas, em alguma medida, um pedaço vem para a bolsa de valores.”

Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, isso indica que os movimentos podem não ser de curto prazo. “A busca por alternativas de alta liquidez cresce, e o Brasil é uma alternativa. O mercado local possui dimensão, volume e liquidez suficiente para isso, e o investidor estrangeiro tem completa noção disso. Daí o local fica buscando subterfúgios para explicar os movimentos diários dos ativos no contexto político, quando pode ser algo menos imediatista”, disse Vieira em relatório a investidores.

“O Brasil é um arcabouço com características de ações de valor, que têm fluxo de caixa, como commodities e bancos, principalmente”, diz o economista Thomas Giubert, sócio da Golden Investimentos. “Então a gente teve ao longo de dezembro e janeiro um fluxo colossal de alocação de gringo. Por isso a bolsa se sustentou nesses patamares, porque [essas ações] têm um peso relevante no índice.”

Giubert explica que a entrada de investimento estrangeiro também ajuda a valorizar o real. “Como o juro no Brasil está maior, subindo antes do mundo, apesar de o Banco Central ter demorado, você tem um processo antecipado de redução da oferta monetária. Se você está vendido no real, contra esse juro, o carrego disso pesa muito”, diz.

Para Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos, fatores internos também ajudam a impulsionar o mercado. “A fala do ex-presidente Lula [na quarta-feira (19)] dizendo que a aliança tem que incorporar o centro, talvez até a centro-direita, ajuda a deixar o discurso menos radical, diminui o risco país, mas tudo isso vem apenas em linha com o aumento do fluxo de capital para o Brasil”, afirma.

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