Após sinalizar que estava próximo a um acordo comercial com a China, o presidente americano Donald Trump afirmou no domingo (5) que irá elevar tarifas sobre produtos chineses. Nesta segunda-feira (6), as bolsas reagiram de forma negativa à declaração.
A queda nas bolsas foi generalizada no mundo. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, caiu quase 6% -maior perda desde 2016.
O S&P 500, índice que reúne as maiores companhias americanas listadas, chegou a recuar 1,6% durante o pregão, mas amenizou a queda e fechou em 0,45% com a interpretação de investidores de que se tratava de um blefe de Trump para acelerar as negociações. No Brasil, a Bolsa acompanhou o viés negativo e recuou 1%.
As negociações entre Estados Unidos e China para cessar a guerra comercial iniciada no ano passado estavam prestes a ser concluídas. No entanto, Trump declarou que, a partir desta sexta (10), US$ 200 bilhões de bens chineses importados serão tarifados em 25%. Hoje, esta tarifa é de 10%.
Segundo o presidente, US$ 325 bilhões de outros bens que não são taxados, passarão, em breve, a ter a mesma alíquota de 25%.
"O acordo comercial com a China continua, mas devagar demais, já que eles tentam renegociar. Não!", tuitou o presidente no domingo.
Para Roberto Prado, economista do Itaú Unibanco, caso se concretize, o aumento de tarifas pode representar uma queda de 0,4% no crescimento da economia global, com desaceleração do crescimento. "Estas tarifas diminuíram em 0,5% o PIB (Produto Interno Bruto) chinês, que hoje projetamos em 6,3% para 2019. Nos EUA, a medida afetaria 0,25% do PIB, que projetamos em 2,6%"
O economista, no entanto, não acredita que a promessa do presidente se concretize.
"Este aumento de tarifas poderia trazer uma recessão antes da eleição, o que afeta a popularidade do presidente, diminuindo sua chance de reeleição. É menos provável que ele queira arriscar isso."
Roberto Prado, economista do Itaú Unibanco
O Itaú Unibanco trabalha, inclusive, com a premissa oposta. "Temos a expectativa de que o governo americano vai retirar os 10% de tarifas sobre os US$ 200 bilhões em produtos, o que seria benéfico para os dois países. China também deve reduzir tarifas e importaria mais bens americanos", diz Prado.
Queda nas Bolsas atinge Brasil
O Ibovespa, maior índice acionário do país, acompanhou o viés negativo e teve queda de 1,04%, a 95 mil pontos. O giro financeiro foi de R$ 9,7 bilhões, abaixo da média diária para o ano.
"A guerra comercial com a China uma disputa que afeta a economia global como um todo. Isso chega no Brasil por duas maneiras: o mundo vai crescer menos e comprar menos commodities e o mercado financeiro vai ter menos fluxo para emergentes, com maior aversão ao risco."
Thales Caramella, economista do Itaú Unibanco
Segundo Caramella, caso a promessa de Trump se concretize, o Brasil teria uma queda no crescimento semelhante à da economia global, em torno de 0,4% no PIB de 2019.
"Estas tarifas podem beneficiar um ou outro produto, como a soja. Mas, no cenário geral, é ruim para o país, por fluxo de capitais, queda de exportação de minérios e desaceleração econômica tem efeitos muito maiores que possíveis setores beneficiados", diz o economista.
O dólar acompanhou o dia negativo e teve alta de 0,48%, a R$ 3,9590.
PIB revisado para baixo
Além da volatilidade externa, o novo relatório Focus trouxe mais uma revisão para baixo do PIB. O levantamento semanal apontou que a estimativa de crescimento do PIB em 2019 passou a 1,49%, de 1,70% no levantamento anterior, na décima semana seguida de piora da projeção.
Em abril, o Itaú Unibanco previa crescimento de 1,3%. Nesta sexta (10), a instituição deve anunciar uma revisão para baixo, de acordo com a tendência do mercado.
"A nossa expectativa é de reaceleração da economia doméstica com reforma da Previdência e queda na taxa de juros no segundo semestre. Esperamos que 50 a 65% da proposta original do governo, de R$ 1,2 trilhão, seja aprovada, gerando uma economia de R$ 670 e 990 bilhões", afirma Prado.
O banco ainda espera três cortes na Selic neste ano, terminando 2019 em 5,75%. Hoje a taxa é de 6,5%.
Para Tales, o alto patamar do Ibovespa -acima dos 93 mil pontos- é sustentado pela confiança na aprovação da reforma da Previdência. "A Bolsa ainda precifica a reforma. Este valor conta uma reforma passando neste ano, apesar das más notícias sobre a economia brasileira. O mercado em geral antecipa uma aprovação."
Se reforma não for aprovada conforme o previsto, o economista afirma que o câmbio pode ter alteração de até 10%, o que levaria o dólar acima dos R$ 4,30.
Nesta terça (7) está previsto o início das discussões sobre a reforma da Previdência na comissão especial da Câmara dos Deputados, que deve ditar as oscilações do mercado no mês de maio.
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