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Confira as oscilações do preço do álcool e da gasolina no Paraná |
Confira as oscilações do preço do álcool e da gasolina no Paraná| Foto:

Inflação

"Copom ficaria de cabelo em pé"

O peso relativo do álcool no índice oficial de inflação, o IPCA, já não reflete a realidade do mercado brasileiro de combustíveis. Em fevereiro, por exemplo, a influência do etanol era de apenas 0,43% no total (100%) do IPCA, pouco mais de um décimo da importância relativa da gasolina (4,13%) no mesmo índice.

A gerente de pesquisas de preço do IBGE, Irene Machado, admite que, se essas ponderações obedecessem à lógica atual – há alguns anos o consumo de etanol é quase tão alto quanto o de gasolina –, "o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] teria ficado de cabelo em pé" com a disparada do álcool no início do ano.

Irene explica que a atual estrutura de cálculo foi elaborada sobre a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2003 – ano em que os carros flex estrearam no Brasil, quando o consumo de álcool combustível era, de fato, muito pequeno. "Dados novos devem ser divulgados neste mês, e em 2011 entrará em vigor uma nova ponderação. A influência do álcool certamente será maior, e disparadas de preço terão impacto muito maior sobre a inflação", avisa. (FJ)

Não faltará etanol, dizem usineiros

A expectativa de tranquilidade para o mercado de etanol se baseia nas previsões de aumento da produção e queda das exportações do combustível. De acordo com a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), a produção de álcool subirá 16% na nova safra (2010/2011), para 27,4 bilhões de litros. As vendas ao exterior, por sua vez, devem despencar 35%, para 1,8 bilhão de litros. Com isso, diz a associação, haverá etanol suficiente para abastecer a crescente frota de automóveis "flex". Hoje eles representam 40% dos carros do país, proporção que pode subir a 49% nos próximos 12 meses.

"O aumento da produção e a retração nas exportações irão resultar em um incremento de mais de 4,5 bilhões de litros na oferta de etanol para o mercado doméstico, volume suficiente para atender à demanda futura pelo produto no mercado interno", afirmou a Unica, em recente comunicado à imprensa.

"Não acredito em problemas de abastecimento ou fortes altas de preço em 2010. No entanto, sempre pode haver surpresa na entressafra, durante o verão", adverte o analista Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting. As fortes chuvas do fim de 2009 e do início de 2010 retardaram a colheita da cana e reduziram o rendimento dos canaviais, lembra Correa, o que contribuiu para a disparada dos preços.

Desta vez, diz a Unica, as previsões indicam que o clima vai colaborar para elevar a concentração de açúcares na cana, o que significa maior produtividade. No entanto, o grande volume de cana "bisada" (não colhida na última safra) e de canaviais mais velhos e menos produtivos podem causar algum transtorno no ciclo seguinte, o 2011/2012. Tais lavouras, que representam quase 25% da área das grandes regiões produtoras, terão de ser replantadas, o que pode diminuir a área disponível para colheita na próxima safra. (FJ)

  • Combustíveis devem fechar o ano com deflação, apostam alguns especialistas

Após três temporadas de relativa calmaria, os preços do álcool combustível voltaram à berlinda nos últimos meses. A escalada observada entre setembro e fevereiro aproximou as cotações dos níveis recordes atingidos no início de 2006, e fez com que, pela primeira vez desde aquele ano, a gasolina voltasse a ser o combustível mais vantajoso para carros bicombustíveis – o que acabou por elevar a procura e, consequentemente, os preços do derivado de petróleo. Voltaram à cena medidas de improviso do governo federal, tais como a redução da mistura de etanol à gasolina e a queda de tributos cobrados sobre esta última, na tentativa de evitar reajustes ainda mais fortes.

Mas tudo indica que a turbulência já passou, e que não deve se repetir tão cedo. Ao menos não neste ano, avaliam economistas consultados pela Gazeta do Povo. Para eles, é possível até que os combustíveis encerrem 2010 com deflação, ajudando a segurar os índices de preços – exatamente o oposto do que fizeram no início do ano, quando foram responsáveis por parte da alta da inflação. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para as metas de inflação perseguidas pelo Banco Central, no primeiro bimestre a gasolina subiu 2,3% e o álcool, 14,7%.

Em março, no entanto, ambos ficaram mais baratos. "Nossa projeção é de que, pela medição do IPCA, o álcool tenha recuado 7% em março e a gasolina, 1,45%. Essa descompressão terá efeito benéfico para o índice geral de inflação, que, segundo estimamos, ficará em 0,5% no mês, frente a 0,78% em fevereiro", diz o economista Fábio Romão, da LCA Consultores. Sob influência do início da colheita da safra 2010/2011 de cana-de-açúcar, os preços médios do etanol e também da gasolina devem seguir em queda até maio, prevê Romão. "Nos meses seguintes, haverá pequenas altas ou pequenas quedas. Mas serão movimentos sazonais, pouco significativos. No fim, a pressão do começo do ano será diluída e até compensada." A LCA estima que, no acumulado do ano, o preço do álcool terá recuado 9% e o da gasolina, 1%.

A gerente de pesquisa de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Irene Machado, afirma que a tendência é mesmo de queda dos preços até o fim de abril, em razão da entrada dos primeiros volumes de etanol da nova safra; mas ela prefere não arriscar o que pode acontecer na sequência. "A partir de maio, não sabe, porque a mistura de álcool à gasolina volta ao normal e a cobrança da Cide, também."

Reduzida em fevereiro de R$ 0,23 para R$ 0,15 por litro de gasolina, a Contribuição de Intervenção no Domínio Eco­­nômico (Cide), tributo da gasolina, retorna ao patamar mais alto no começo de maio, o que pode pressionar os preços do combustível. Da mesma forma, a proporção de álcool adicionado à gasolina voltará a 25%, após três meses em 20%, o que tende a limitar a oferta do derivado de cana. Por sinal, alguns usineiros já sugerem que o governo antecipe a volta aos 25% para meados de abril, de modo a conter o forte recuo que os preços sofreram nas últimas semanas.

Felipe Insunza, analista da Rosenberg & Associados, também avalia que as cotações de álcool e gasolina podem sofrer alguma pressão em maio, mas não acredita em maiores traumas. "De modo geral, o álcool já sofreu o aumento que podia sofrer no ano", diz. Em relação à gasolina, o analista acha pouco provável que, em ano eleitoral, a Petrobras venha a promover reajustes significativos.

"Se compararmos a cotação em dólar da gasolina no Brasil com a do Golfo do México, veremos que a brasileira está 4,6% mais alta. Ou seja, há ‘gorduras’ para queimar", argumenta Insunza. "Para mim, se vier algum aumento neste ano, será do diesel. A economia está bastante aquecida, o que influencia a demanda do setor de transportes, e o diesel, que é subsidiado no Brasil, está um pouco defasado em relação à sua cotação no exterior."

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