Quem passa pela primeira vez pela Rua Bley Zornig, no Boqueirão, um dos bairros mais populosos da capital, se surpreende ao descobrir o colorido universo de malharias que movimenta a economia local. Ali, longe da Cidade Industrial, funcionam dezenas de tecelagens, confecções e lojas que geram centenas de empregos e abastecem os estoques de atacadistas e varejistas. Para fortalecer a vocação produtiva da região, a Câmara Municipal analisa projeto de lei que estabelece a criação formal do Polo Têxtil das Malhas de Curitiba.
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Com o loteamento planejado nos anos 50 como parte do Plano Agache, de urbanização da cidade, e a queda de investimentos que veio em seguida, já que o Plano Diretor previa o desenvolvimento da cidade para Oeste e Sudoeste, o Boqueirão passou a atrair muitas famílias, pelo baixo preço dos terrenos, e também indústrias, devido aos amplos lotes planejados, ideais para a instalação de fábricas. Algumas migraram mais tarde para a CIC, mas outras permaneceram no bairro e, no caso das malharias, acabaram atraindo todo o segmento para o local.
O novo Brás
Com tecelagem e loja instaladas na Bley Zornig desde 1985, Alvacir Ribas acompanhou o crescimento do polo, começando com as lojas de malhas e tecelagens. Dono de diversos imóveis comerciais na rua, o empresário procura atrair confecções, lojas de aviamentos e outros serviços relacionados à malharia para a região. “O polo fortalece todas as empresas do ramo e multiplica o número de clientes de todos. Precisamos nos destacar, vamos virar o que hoje é o Brás para São Paulo”, diz.
Basta percorrer algumas quadras para encontrar, em meio aos rolos de malhas, serviços de bordado e conserto de máquinas, além de confecções de jeans, camisetas e outras peças.
Segundo a prefeitura, são cerca de 630 estabelecimentos do segmento, entre comércio, confecções e fabricação de malhas.
Efeito simbólico
Se aprovada pela Câmara de Vereadores e sancionada pelo prefeito Gustavo Fruet, a criação formal do Polo Têxtil das Malhas de Curitiba terá efeito apenas simbólico. O texto do projeto de lei não menciona nenhum incentivo fiscal para instalação de empresas ou ações de publicidade para dar mais visibilidade à região, por exemplo.
Concorrência
Amarildo Appel, que tem loja no local há 14 anos, já tentou abrir uma unidade no Sítio Cercado, mas não obteve sucesso. “Aqui atraímos o cliente e ele percorre todas as lojas e se beneficia da concorrência. Ganha quem atender melhor, tiver o produto e o melhor preço, ganham todos como um conjunto”, diz.
Para se diferenciar, Suelen Cristina de Souza e Silva, que administra a loja da família, foi em busca de tecidos diferenciados e fica sempre antenada às tendências de moda. No atacado, a tecelagem da família vende para todo o país cerca de 20 toneladas ao mês de malha escolar, seu carro-chefe. “Estamos ganhando o mercado, além de movimentar a economia da região e gerar emprego”, diz.
Mesmo com o polo em crescimento, a maior reclamação dos comerciantes locais é a falta de união em prol da maior divulgação da Bley Zornig.
“Muitos curitibanos ainda têm uma visão marginalizada do bairro e desconhecem a força econômica no segmento de malha. A união dos lojistas e fabricantes poderia trazer uma divulgação em nível nacional, temos essa briga há tempos”, lamenta Appel.
Projeto de lei propõe nome formal à região
A proposta de criação do polo têxtil, iniciativa do vereador Mestre Pop (PSC), justifica que a formalização fortalecerá a vocação produtiva da região. “Tem por objetivo a geração de emprego e renda, e poderá contribuir para o desenvolvimento do município, além de incrementar atividades ligadas ao turismo”, diz a proposta. O projeto de lei tramita na Procuradoria Jurídica da Câmara, antes de seguir para avaliação das comissões e votação em plenário.
Anteriormente, já havia sido proposta no Legislativo a construção de um portal no cruzamento da Bley Zornig com a Avenida Marechal Floriano Peixoto para atrair o público e melhorar a estética do local, mas a ideia não teve continuidade. “Há tempos alguns vereadores discutem isso. Se houver um trabalho conjunto da prefeitura com os lojistas o público pode multiplicar. A concorrência é um mal necessário, mas é preciso se unir para que todos saiam ganhando”, diz Domicio Amaral Flores, gerente de loja que trabalha na rua das malhas do Boqueirão há 18 anos.
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