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Segundo analistas, bolsa dificilmente conseguirá retomada expressiva em 2014 | Christian Rizzi/Arquivo/Gazeta do Povo
Segundo analistas, bolsa dificilmente conseguirá retomada expressiva em 2014| Foto: Christian Rizzi/Arquivo/Gazeta do Povo

Análise

Razões para pessimismo não faltam, mas também há uma boa dose de exagero

Guido Orgis, editor executivo de Economia

Janeiro foi um daqueles meses difíceis. A bolsa desabou, o dólar subiu e no noticiário econômico apareceu a tese de uma crise engolindo países emergentes, incluindo o Brasil. Razões para previsões pessimistas não faltam: investidores estão deixando os emergentes como resposta ao crescimento (e retirada de estímulos) nos Estados Unidos, há muito ruído sobre os rumos da condução econômica no país e a Argentina em crise feia.

Por tudo isso, é bom frisar que não é só um momento de pânico infundado nos mercados. Há dúvidas concretas sobre o quanto a seca no mercado financeiro vai mexer com o país, sobre capacidade brasileira de fazer os investimentos crescerem, de tornar a economia mais produtiva e de deixar de ser alvo de dúvidas sobre a política econômica.

Mas há também uma boa dose de exagero na forma como essa crise dos emergentes atingiu o Brasil. A economia cresce pouco, mas cresce, as reservas cambiais são suficientes para absorver solavancos, o sistema bancário parece bem, e o governo dá sinais de que vai fazer mais para conter a inflação.

Apesar de ser um mês pouco expressivo para o mercado financeiro, há o risco de janeiro de 2014 representar um reflexo do que investidores esperam do Brasil para o ano. A notícia continua não sendo boa. Segundo dados do sistema de análise de riscos Economática, o mês passado registrou a quarta maior queda nas negociações da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) desde 1986 – 7,51%. Também é o tombo mais evidente da Bovespa dos últimos 18 anos e desde o estouro da bolha imobiliária norte-americana, entre 2007 e 2008.

Confira as maiores quedas da bolsa em janeiro desde 1972

A baixa de negociações é possível reflexo da realocação de carteiras que ocorreu de novembro a dezembro passados. Entre os países emergentes que registram quedas nas bolsas pela fuga do risco, o Brasil tem o prognóstico mais complicado para o ano, com a ascensão da inflação e as eleições presidenciais. O que se percebe agora no mercado variável do país são dois fluxos: investidores estrangeiros fogem do risco e nacionais compram papéis em baixa.

Os auspícios de janeiro mudam na visão de economistas e analistas de mercado. Para catedráticos, dificilmente haverá retomada expressiva da Bovespa ao longo do ano. Nem a expectativa de crescimento dos Estados Unidos emociona. "Se os EUA mantém a política de juros baixos, o Brasil tem inflação; se os EUA sobem juros, investidores buscam risco menor nas bolsas deles", afirma o economista Ricardo José de Almeida, da Fundação Instituto de Administração (FIA).

Expectativas

Expressões como "mau humor" e "pessimismo" não fazem sentido para pesquisadores. "O fato é que as expectativas foram muito frustradas em 2013 [investimentos em infraestrutura e contenção da inflação] e não há sinal muito positivo de retomada", afirma o economista Wilhelm Milward Meiners. Ele lembra que aplicadores de longuíssimo prazo podem decidir por esperar, mas há dúvida sobre se cederão a pressão dos clientes de carteira.

O analista Romeu Vidali, da Concórdia, pondera que a bolsa de valores brasileira tem características que a deixam vulnerável a estatísticas, em especial a liquidez. "O Brasil está sofrendo [mais entre os países emergentes] porque tem o mercado financeiro com mais liquidez. Se vai continuar ou não, o mercado que vai dizer". Vidali aponta como agravante para a queda o fato de os pequenos investidores (pessoas físicas), que debandaram do mercado em setembro, ainda não terem sido convencidos a retornarem.

Alternativa

A reação à queda em bloco dos emergentes está nas mãos da política econômica, afirma o diretor de renda variável da Franklin Templeton Investimentos, Frederico Sampaio. "Não somos reféns de um processo. A Coreia do Sul passou incólume porque tem fundamentos fortes, faz o dever de casa", resume Sampaio.

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