O escândalo da distribuição de US$ 165 milhões em bônus na seguradora norte-americana AIG colocou o modelo de compensações das empresas sob o microscópio. Embora atrasado, o Brasil não está fora da polêmica. Por aqui, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) quer dar mais transparência à divulgação dos rendimentos dos executivos das companhias de capital aberto. O tema, que coloca em lados opostos empresas e acionistas minoritários, está aberto para consulta pública na autarquia até o dia 30 deste mês.
O primeiro time concorda que o nível de dados fornecidos hoje é insuficiente, mas resiste em discriminar os ganhos individualmente, como é feito em todos os países do G-7. O principal argumento é a segurança. "Saber quanto cada executivo ganha é mais curioso do que relevante para o acionista. Os profissionais de relações com o investidor não recebem esse tipo de pergunta", diz o presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Antonio Castro.
O segundo time quer a exposição total dos números. "O modelo atual, que não permite saber como se chega às remunerações variáveis e à política de divisão dessa remuneração, é ruim. Existe uma assimetria muito grande na forma de pagamento", diz o presidente da Associação dos Investidores no Mercado de Capitais (Amec), Edson Garcia.
Por enquanto, as empresas têm de fornecer apenas o valor global dos rendimentos, sem detalhar o que é bônus e o que é fixo, o que acrescenta pouco para quem quer saber se o dinheiro está sendo bem ou mal usado.
"Esse é o assunto que mais vai gerar polêmica. Não há dúvida que a crise deu contornos mais dramáticos à questão", diz a presidente da CVM, Maria Helena Santana. "O tipo de conduta que se viu, sobretudo em instituições financeiras, sem dar ênfase à gestão de risco, demonstrou que a remuneração pode influir na conduta e no resultado da companhia."
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