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Governo tem crise fiscal contratada sem interesse em evitar, diz ex-ministro da Fazenda

Maílson da Nóbrega
Ex-ministro da Fazenda no período da hiperinflação vê dificuldades do governo em evitar colapso das contas. (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

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O ex-ministro Maílson da Nóbrega, que comandou a Fazenda no período da hiperinflação no fim dos anos 1980, afirmou nesta segunda (5) que a crise fiscal já está contratada no Brasil a partir de 2027 e que o governo não tem interesse em evitar.

Isso porque, segundo projeções, o orçamento será praticamente inteiro tomado por despesas obrigatórias, sem recursos para outros tipos de investimentos. Segundo o ex-ministro, a própria ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) já reconheceu a crise que se aproxima para o próximo presidente a ser eleito em 2026.

“Na minha avaliação, o Brasil tem uma crise fiscal contratada, não tem como evitar. Isso porque o sistema orçamentário brasileiro tem uma situação única no mundo, que é de uma rigidez excessiva. 96% dos gastos primários do governo federal têm a ver com despesas obrigatórias”, disse o ex-ministro em entrevista ao UOL.

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Maílson da Nóbrega afirma que, neste momento, o Brasil tem apenas 4% do orçamento para fazer funcionar a administração, financiar ciência, tecnologia, seguro rural, a manutenção dos estudantes brasileiros no exterior, as Forças Armadas, entre outros.

No entanto, a partir de 2027, apontam estudos, 100% dos gastos primários federais serão compostos por despesas obrigatórias. Ou seja, diz, “não sobrará um tostão para fazer mais nada do governo”.

“O mercado vai reagir antes, se colapsa antes, e será algo que não tem como evitar, porque o governo atual não tem nenhum compromisso com essa realidade de enfrentar a situação periclitante fiscal no Brasil, embora isso tenha sido reconhecido pela própria ministra [Simone] Tebet. Ela usou provavelmente esse estudo para dizer o seguinte: em 2027, o orçamento é inviável”, pontuou.

Na visão do ex-ministro, a expectativa é de que os juros subam mais no Brasil em um ritmo mais lento, em referência à reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que inicia nesta terça (6) e será concluída na quarta (7) com um possível aumento de 0,5 ponto percentual, segundo estimam analistas do mercado financeiro.

Se a previsão se concretizar, a taxa básica de juros passará dos atuais 14,25% para 14,75%. No entanto, o próprio mercado financeiro já mudou as expectativas para 2025, apontando que é possível que o aperto monetário pare neste patamar até o final do ano segundo aponta o Relatório Focus desta semana.

“É bom lembrar que as expectativas de inflação estão desancoradas até pelo menos 2026, o que indica que o Banco Central muito provavelmente ainda vai demorar muito a reduzir a taxa Selic”, completou.

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