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Workers assemble the interior of an off-road car at Magna Steyr factory site in Graz October 14, 2010. REUTERS/Herwig Prammer (AUSTRIA – Tags: TRANSPORT EMPLOYMENT BUSINESS)| Foto: REUTERS

Na teoria dos físicos os nomes são complicados: energia potencial e cinética. Mas, bem grosso modo, o que faz um trenzinho de uma montanha-russa subir é um único fator, ele já caiu o bastante. Para Henrique Meirelles, o vagão que carrega a economia brasileira bateu no fundo do poço e, agora, sobe. “Passamos por um momento muito difícil quando o país enfrentou a maior recessão da sua história. O importante é que a recessão terminou”, decretou o ministro da Fazenda no fim de fevereiro.

Não foi a primeira demonstração de otimismo exacerbado. Mas, dessa vez, os sinais dão conta de que o impulso é, de fato, mais sólido. Se não levará o vagão de volta ao topo, pelo menos o tirará de uma posição desconfortável. O país está com inflação controlada, reformas essenciais parecem caminhar e vários indicadores mostram algum movimento na atividade econômica. O mercado, de acordo com o boletim Focus, aposta em crescimento de perto de 0,48% no PIB. Pouco, mas um alívio após dois anos de encolhimento.

o,48%

é a mediana do Banco Central para o Produto Interno Bruto do Brasil em 2017.

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Tem quem esteja mais otimista. O Itaú Unibanco prevê retomada na ordem de 1%. “O fundo do poço foi o quarto trimestre do ano passado. Neste primeiro trimestre de 2017já vamos ver crescimento na ordem de 0,3% no PIB”, defende o economista do banco Felipe Salles. Entre os motivos para acreditar, há algo além da demanda: a indústria precisa repor seus estoques e isso vai movimentar a economia.

A produção industrial, aliás, é um indicador ainda dúbio, já que teve uma melhora significativa em dezembro de 2016, crescendo 2,3%, mas mostra quedas acentuadas e sucessivas nos acumulados. Ainda assim, índices setoriais mostram alguma reação, que deve aparecer neste trimestre. O país gastou mais eletricidade neste começo de ano, produziu mais papelão e teve mais carros nas rodovias – mostram que a indústria está com uma atividade mais intensa do que no fraco 2016.

É um movimento impulsionado por um cenário favorável. A inflação controlada dá força para uma redução mais acentuada na taxa básica de juros. Em fevereiro, ela foi a 12,25%. Otimistas acreditam em um dígito até o fim do ano, o que devolveria o patamar de 2013. E mais investimento, produção e compras.

Não são fatores isolados. Tem a expectativa de dinheiro injetado pelas contas inativas do FGTS, bons números da safra e alta dos commodities.

Confiança

Uma pesquisa do Ibope Inteligência mostra que o brasileiro está mais confiante em 2017 em relação a 2016. 45% dos entrevistados se disseram mais otimistas com a economia neste ano.

Desafios

Apesar disso, está longe de ser uma viagem tranquila. Alguns indicadores, como o da construção civil, ainda estão bem ruins. Para impulsionar a economia, o governo precisará emplacar suas reformas, como a da Previdência. Cumprida a tarefa de casa, há a incerteza do cenário internacional: será que o Brasil estaria preparado para o mundo mais protecionista de Donald Trump.

Não é o pior dos fatores. Este título quem leva é o desemprego, ainda com tendência de alta -- deve piorar em relação a 2016 e 2015. Para que a taxa de desemprego caia será preciso bem mais do que um crescimento de 0,5% -- economistas calculam algo em torno de 2% a 3%. Assim, a percepção real de melhora pode levar bem mais tempo do que a da frieza dos números. “O mercado de trabalho é o último vagão do trem. Enquanto a locomotiva se reergue, o mercado de trabalho ainda está em baixa” diz Sales. E, neste contexto, ainda há 12 milhões sentindo o incômodo frio na barriga da d escida.

Quatro fatores-chave para a recuperação

Algumas políticas e conjunturas podem acelerar a retomada do crescimento

FGTS inativo:

Segundo o governo federal, os saques de contas inativas podem injetar R$ 41 bilhões na economia – embora os números do Relatório de Gestão do FGTS apontem para R$ 19,5 bi. Para o Ibre/FGV, este dinheiro poderá elevar em 0,4% o consumo no Brasil em 2017. Os saques começam neste mês.

Commodities em alta:

O mundo deu uma mãozinha para a economia brasileira neste começo de ano. As vendas de minério de ferro e petróleo cresceram nos dois primeiros meses do ano, levando a balança comercial brasileira a um patamar confortável. Uma projeção de consultorias ao jornal Valor Econômica aponta a melhora no índice de termos de troca (relação entre preços de exportação e importação). No acumulado de 12 meses até fevereiro de 2017 ficou em 8,2%; no mesmo período até fevereiro de 2016, era 3%.

Reposição de estoques:

Para o Itaú Unibanco, a indústria deve se aquecer mais por uma necessidade de repor os estoques, que não tiveram grandes alterações nos últimos dois anos, do que pela demanda em si. O banco aponta que isso poderá levar a um aumento no PIB de 2017 de 1%, uma estimativa mais otimista em relação ao Banco Central, que espera 0,48% de crescimento.

Safra recorde

O Brasil deve produzir em 2017 um total de 221 milhões de toneladas de grãos, a maior safra da história do país. E isso movimenta toda a cadeia produtiva. Algumas análises, como a do Santander, apontam que a performance pode responder por metade do crescimento da economia brasileira neste ano. Também é um fator determinante na balança comercial.

Copo meio cheio ou meio vazio?

Alguns índices não deixam dúvida de uma melhora no cenário econômico brasileiro. Mas outros apontam que o caminho pode ser bem mais lento do que se espera…

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