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Brasileiro pega mais dinheiro emprestado para renegociar dívidas. E isso não é ruim
| Foto: Gilson Abreu/ANPr

Os brasileiros estão pegando mais dinheiro nas instituições financeiras. Só nos nove primeiros meses do ano foram liberados R$ 3,03 trilhões em crédito, segundo o Banco Central. É um crescimento de 12,8% em relação a igual período de 2018. O movimento é puxado por pessoas físicas (14,5%) e por linhas de crédito para renegociação de dívidas.

“Há uma demanda muito grande para isso. Há muita dívida a ser renegociada”, diz Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian. São mais de 5,8 milhões de empresas negativadas, em média com nove credores. Entre as pessoas físicas, são mais de 63 milhões de pessoas com restrições ao crédito, o que, de acordo com dados do IBGE, corresponde a cerca de 30%.

Ele lembra que, com a queda nos juros e a expectativa de reação na economia, criou-se um movimento favorável para a renegociação.

“As pessoas e as empresas têm bastante interesse em resolver seus problemas para que, com a volta do crescimento, possam ampliar seus negócios e expandir seu patrimônio.”

Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian

Famílias apelam mais ao crédito consignado

Entre as famílias, houve um forte crescimento na procura pelo crédito consignado. “É um recurso muito usado para pagar juros menores”, diz Rabi. Nos nove primeiros meses do ano, as concessões foram de R$ 191,5 bilhões”, 36% a mais do que em igual período de 2018.

E, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entre julho de 2018 e setembro deste ano, 16,21 milhões de pessoas trocaram o cheque especial rotativo pelo parcelado, com juros muito menores. Só no mês passado, 1,33 milhão de clientes optaram pela mudança.

Quem optou pela linha de crédito alternativa obteve uma redução de mais de 76% na taxa de juros pagos pelo crédito: a taxa média do rotativo em setembro foi de 12,31% ao mês, enquanto a do parcelado foi de 2,88% ao mês.

O saldo da carteira de cheque especial parcelado em setembro chegou a R$ 20,7 bilhões, um aumento de 9,6% em relação a agosto, e de 229,5% em relação à ao mesmo mês do ano passado. É um volume semelhante ao saldo de empréstimos por meio do cheque especial rotativo, que alcançou R$ 22,3 bilhões no mês passado.

Empresas descontam mais duplicatas e recebíveis

Entre as empresas, houve uma maior liberação de recursos em linhas de crédito relacionadas à renegociação de dívidas. É o caso do desconto de duplicatas e recebíveis, cujas concessões atingiram R$ 269,6 bilhões, entre janeiro e setembro, 19,1% a mais do que no mesmo período de 2018.  As linhas de antecipação de faturas de cartão tiveram uma expansão de 16,4% na procura. Foram liberados R$ 133,1 bilhões.

Linhas de crédito usadas pelas empresas para financiar importações, exportações e adiantamentos de contratos de câmbio tiveram queda no volume de concessões.

“A carteira direcionada, formada por recursos que têm destinação legal obrigatória e pelos empréstimos do BNDES, tem apresentado um comportamento mais fraco, decorrente principalmente da mudança de política do banco de fomento e da queda do custo de captação no mercado de capitais”, declarou a Febraban, por meio de nota oficial.

Indústria diz que bancos estão mais seletivos no crédito

Mas não é só isso, diz o gerente da unidade de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Ele aponta que, por causa da recessão, os agentes financiadores estão muito mais seletivos na concessão de crédito. “Há muitas exigências exacerbadas, como questões relacionadas às garantias reais.”

Outro problema, segundo ele, está relacionado ao custo das operações:

“Mesmo com a queda na Selic, a redução na ponta é muito gradual.”

Flávio Castelo Branco, gerente da unidade de política econômica da CNI

Uma série de fatores explica este comportamento: “alta concentração bancária, inadimplência elevada, custos tributários e administrativos”, explica ele.

Mesmo com a Selic caindo, o spread bancário (a diferença entre o custo do dinheiro captado pela instituição financeira e emprestado ao cliente) passou de 18,9 pontos percentuais, em dezembro de 2017, para 20,2 pontos, em setembro. Isto dificultou uma queda maior na taxa média de juros, que caiu de 25,6% para 24,5% ao ano.

Uma pesquisa feita pela CNI mostra que, em um ambiente de economia mais contida e alta ociosidade nas linhas de produção, a indústria pouco recorreu ao crédito nos primeiros meses de 2019. Seis em cada dez empresas não procuraram renovar operações de crédito ou contratar novos financiamentos no primeiro trimestre. “Com uma baixa demanda, as empresas se sentiram desestimuladas a tomar crédito”, diz Castelo Branco.

Expansão na emissão de instrumentos financeiros

A Febraban destaca que outro fator que pode estar contribuindo para a queda na concessão de empréstimos e financiamentos a empresas é o crescimento robusto na emissão de instrumentos financeiros, como a emissão de debêntures.

“O volume de recursos levantado nos últimos 12 meses em operações de renda fixa pelas empresas brasileiras no mercado local foi 71,7% maior que o volume captado em 2014, último ano antes da crise. Quando se considera também operações de renda variáveis e com instrumentos híbridos, como os fundos de investimento imobiliário, a alta é de 105,5%”, diz a federação, por meio de nota.


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