• Carregando...

Uma das razões por que o índice Ibovespa não sobe, apesar do consenso de que muitas empresas estão com preço de mercado bastante depreciado, é a incerteza a respeito de como está a gestão financeira de cada uma. Os casos da Sadia e da Aracruz, que vieram a público no fim do mês passado, agravaram essa preocupação. Ambas as empresas são exportadoras, e usam instrumentos financeiros para garantir que as flutuações normais na cotação do dólar não influam no seu dia-a-dia.

A eficiência desses instrumentos é experimentada justamente quando as flutuações chegam a níveis "anormais", e é isso que tem ocorrido nas últimas semanas.

Pois foi o ambiente mutante que pegou em cheio a Sadia e a Aracruz em setembro. As empresas admitiram que tiveram perdas – as da Sadia, segundo comunicado da empresa, foram de R$ 760 milhões, e as da Aracruz, de R$ 1,95 bilhão. É como se elas tivessem exagerado na dose: montaram operações muito maiores do que seria necessário para simplesmente proteger seus negócios da variação do dólar. Se a moeda tivesse mantido a mesma trajetória de sempre, teriam tido ótimos ganhos. Como ela valorizou-se, o dinheiro foi embora.

Mas o que assusta não é o que se conhece – inclusive porque as duas empresas citadas são reconhecidas pela sua transparência em relação a informações financeiras. "O problema que sentimos é que, apesar da regulação, é possível que outras empresas tenham assumido posições especulativas", diz o professor José Carlos Abreu, que leciona Finanças Corporativas na FGV.

A desconfiança chega então aos bancos e torna-se generalizada, porque ninguém empresta dinheiro se acha que o outro pode não pagar. O crédito fecha, e então não há dinheiro para ninguém – nem para os que estão com problemas, nem para aqueles que (até agora) estão limpos.

"É como briga de bar", diz Abreu. "Começa só com os brigões dentro do bar, mas depois a coisa cresce e até o sujeito que está passando na rua corre o risco de levar uma cadeirada."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]