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Milhares de pessoas na praia Ipanema, no Rio de Janeiro | EFE/ Antônio Lacerda
Milhares de pessoas na praia Ipanema, no Rio de Janeiro| Foto: EFE/ Antônio Lacerda

Durante a Copa do Mundo, a cidade do Rio recebeu quase 900 mil visitantes. Para o turismo da capital, foi um sucesso. Mas Ana Lúcia Furtado, proprietária de um hotel no Vale do Café e conselheira da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH) na região, se frustrou com o resultado do Mundial, quando viu o movimento de hóspedes até cair.

Ela lista desvantagens crônicas na hotelaria na região como má qualidade das estradas e falta de roteiros especiais. "O diferencial na região do Vale do Café é a calma, a tranquilidade do interior, mas o que atrai turistas são os eventos de todos os tamanhos. A região não tem um calendário de eventos, a não ser o Festival do Café".

Pesquisa encomendada pelo Observatório Sebrae/RJ mostra que o turismo é apenas um dos serviços de alto potencial de desenvolvimento, que está muito concentrado na capital. Somente a capital detém 59,22% do emprego (incluídos aí restaurantes e bares), relegando ao interior 22,27%. A fatia restante fica na Baixada Fluminense.

"No interior Fluminense, só vemos três municípios com um número expressivo de empregos em hotéis e pousadas para o total do emprego e para a economia do município: Búzios, Paraty e Itatiaia", afirma o economista da UFRJ Mauro Osório, organizador da pesquisa. "O Rio tem um enorme potencial que ainda é muito subaproveitado".

Sem trânsito

Ao contrário de serviços que dificilmente seriam desenvolvidos fora da capital, como audiovisual e seguros, a má distribuição prejudica atividades ligadas a esportes, elaboração de projetos de petróleo, telecomunicações e informática. Serviços de esporte e lazer têm hoje uma fatia do emprego de 15% no interior e de apenas 12,48% na periferia. Se o interior tem poucos serviços mais sofisticados, na Baixada Fluminense há quase nada. Serviços de elaboração de projetos ligados à cadeia petrolífera têm presença de 15,64% na periferia, com a Reduc; e de 13,41% no interior, sobretudo em Campos e Macaé.

Serviços de informática têm participação ainda menor: apenas 8,28% do emprego no interior, mas há projetos em curso. Petrópolis conseguiu atrair grandes empresas da área de tecnologia para a cidade, que conta com um Centro de Inovação da Microsoft, um centro de manutenção de turbinas aeronáuticas da GE Celma, o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), um escritório da Orange, entre outros empreendimentos.

"Não enfrentar trânsito na hora de retornar para casa não tem preço. Viver num lugar tranquilo também", destaca Pedro Leite, diretor do LNCC, paulista que se mudou para a cidade.

Já a qualidade das estradas e os serviços como conexão à internet entram na lista de dificuldades que poderiam afastar interessados em se instalar na região.

A grande concentração de serviços na capital não poderia ser diferente, na avaliação do professor da UFF Leonardo Muls. Segundo ele, isso se deve, em parte ao fato de o Rio ter sido capital do país. Outro fator é a presença de infraestrutura. "A própria indústria está indo para o interior e para a periferia e isso pode alavancar os serviços na próxima década, mas é preciso que o trabalhador se torne um morador", afirma Muls.

Um dos vetores do desenvolvimento carioca, o Arco Metropolitano deverá diminuir o tempo perdido no trânsito. Mas empresários criticam a infraestrutura no entorno. Fernando Antonio Ferreira Girão, sócio da Fermar, fábrica de pias de banheiro em Duque de Caxias, reclama das condições que enfrenta. Os cortes constantes de luz forçam paradas constantes na produção.

Istvan Kasznar, assessor da Ebape/FGV, vê um movimento de desconcentração dos serviços no estado nas últimas décadas em razão, dentre outras coisas, da estrutura de custos. "É natural a busca de eficiência quando o custo de vida está alto. São Paulo vive esse movimento. No setor de serviços, há um custo de alocação menor do que na indústria".

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