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Cavalos tocam boiada, em Goiás. Segundo frigoríficos, são os animais descartados de fazendas os usados para a produção de carne | Jonathan Campos/Campos
Cavalos tocam boiada, em Goiás. Segundo frigoríficos, são os animais descartados de fazendas os usados para a produção de carne| Foto: Jonathan Campos/Campos

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Venda do alimento é liberada no país, mas atrai consumidores

A comercialização de carne e derivados de equídeos não é restrita no Brasil, sendo necessária apenas a identificação no rótulo, informa o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Apesar disso, o consumo interno é pouco expressivo, prevalecendo o vínculo com o mercado externo.

Péricles Salazar, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne), destaca que a menor rentabilidade também dificulta a expansão da cultura no país. "A carne não faz parte do hábito alimentar brasileiro e, além disso, a carne bovina tem sido mais rentável. Os produtores estão satisfeitos com os preços", avalia.

Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, da FrigoBeto, explica que hoje Bélgica, Holanda e França estão entre os principais destinos da produção. O maior número de clientes, contudo, está na Itália, onde a empresa conta com uma unidade voltada à venda de carne in natura e derivados, como salames e embutidos. "Trata-se de um mercado muito tradicional e peculiar, que tem se mantido estagnado nos últimos anos", relata. Além da estabilidade na oferta, a concorrência com países como México, Paraguai e Argentina colaborou para comprimir as exportações brasileiras nos últimos anos.

Para os brasileiros, a carne de cavalo pode não parecer uma iguaria tão apetitosa quanto a de outros animais, como bovinos e aves. Porém, o prato aqui considerado indigesto é amplamente consumido no exterior, sobretudo em países da União Europeia. E o Paraná tem tradição na oferta desse produto, mesmo com o desaquecimento do mercado nos últimos anos.

À margem da recente polêmica ocorrida no Hemisfério Norte – na qual se diagnosticou a presença de carne equina em produtos que deveriam ter 100% de origem bovina –, os cortes de cavalo atraem consumidores ingleses, italianos, franceses. Em 2012, o Brasil exportou 2,3 mil toneladas dessa carne in natura. E esse volume já foi bem maior, com 20 mil toneladas embarcadas em 2004. Os abates com inspeção federal passaram de 200 mil cabeças em 2004 e 2005 – 110 mil e 88 mil no Paraná, respectivamente.

Para atender à demanda externa, houve quem se especializasse no assunto. O frigorífico Oregon tem sede em Apucarana (Norte) e é um dos três estabelecimentos autorizados no Brasil a abater carne de equídeos (grupo que inclui cavalo, jumento e mula), apontam os registros do Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SIF), vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Uma vez por semana o frigorífico suspende o abate de bovinos para fazer o trabalho com cavalos.

A estrutura do frigorífico pertence à FrigoBeto, empresa paranaense que desde 1991 atua no fornecimento da carne e derivados de equinos para o exterior. Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, diretor do empreendimento, conta que são utilizados animais de descarte, que não servem mais para o serviço no campo. "Temos uma lista de fornecedores cadastrados, e uma equipe compra animais em todas as regiões do estado, porque normalmente a quantidade de cavalos disponíveis é pequena", relata.

Auge e decadência

Na série histórica desde 2002, o pico da produção no Paraná foi em 2004, quando o estado respondeu por 54% do total nacional de abate de equídeos, e em 2007, quando contribuiu com 55% das exportações de carne in natura dessa natureza, apontam dados do Mapa e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Nos últimos anos, contudo, o setor sofreu um tombo. Em 2011, exportações e abates caíram a zero. No ano passado, o estado abateu 5,7 mil animais, embarcando cerca de 757 toneladas.

De acordo com Ribeiro, uma mudança nas regras relacionadas à sanidade dos animais complicou os negócios. "A União Europeia passou a exigir rastreabilidade da produção, quesito que aliado ao câmbio desfavorável afetou as exportações", pontua. Como efeito, a FrigoBeto foi obrigada a interromper as operações de uma unidade localizada em Minas Gerais, devido à indisponibilidade de produtos qualificados. A empresa chegou a abater 8 mil cavalos por mês, mas hoje não passa de 2 mil cabeças. A falta de consumo interno e a concorrência com outros países fornecedores colaboram para a manutenção da situação.

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