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Máquina de cartão de crédito: comerciantes ainda reclamam da demora no recebimento do dinheiro das vendas feitas em cartão | Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo
Máquina de cartão de crédito: comerciantes ainda reclamam da demora no recebimento do dinheiro das vendas feitas em cartão| Foto: Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo

Consequência

Taxas devem ficar até 35% mais baixas

A taxa de desconto, paga pelos comerciantes às empresas credenciadoras de cartões, deve cair entre 30% e 35% em um ou dois anos, na expectativa do presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, Roque Pellizzaro Junior. A projeção foi feita porque, a partir de hoje, os lojistas de todo o país poderão ter apenas uma máquina de cartões, independentemente da bandeira dos seus clientes. Essa mudança, aguardada há anos pelo mercado, deve representar uma redução de custos para os comerciantes e, consequentemente, para os consumidores. Atualmente, esta taxa varia entre 3% e 5% por compra, de acordo com ele, excluindo-se os 100 grandes varejistas e os postos de gasolina, que possuem contratos diferenciados.

"Já estamos fazendo um alerta aos lojistas para que os que conseguirem redução dessa taxa a repassem logo para o consumidor", disse o presidente da CNDL. Como o varejo é um setor altamente competitivo, segundo ele, o reflexo da diferença de preços se dará no aumento da base de clientes.

Gigantes perdem

O presidente da CNDL projeta que as duas maiores empresas do setor (Redecard e Cielo) perderão nos próximos seis meses 50% de sua base de clientes. Ele salientou que, mesmo que grandes redes mantenham a opção das duas máquinas em suas unidades, o pequeno comércio é muito mais numeroso e é o que tende a optar por uma ou outra credenciadora. De acordo com ele, existem 3,5 milhões de máquinas de cartão no mercado hoje.

Propaganda

"Por isso há tanta propaganda ultimamente. Li outro dia que a indústria despendeu R$ 150 milhões em propaganda neste semestre e antes ela não gastava nem um centavo", comparou.

O fim da exclusividade das "maquininhas" de cartões de crédito, que a partir de hoje passam a aceitar mais de uma bandeira, deve beneficiar os donos de lojas. Com a queda da restrição, os comerciantes poderão concentrar todas as operações com "dinheiro de plástico" em um único aparelho. Na prática, isso deve reduzir o custo médio que os lojistas têm com o aluguel dos aparelhos. Hoje, esse valor gira em torno de R$ 300 mensais, e a expectativa é que ele caia para R$ 50 ao mês. As informações são da Associação Comercial do Paraná (ACP).Para o usuário do cartão nada muda, uma vez que o benefício financeiro será restrito e não permitirá uma margem para políticas de descontos ou queda nos preços e tarifas. "Há de se convir que R$ 200 não é uma economia que possibilite o repasse de qualquer vantagem aos consumidores", avalia o vice-presidente da ACP, Camilo Turmina. Em geral, as entidades ligadas ao comércio destacam que o custo mais pesado para os lojistas, em relação aos cartões, não está no aluguel da maquininha e sim nas taxas administrativas, cobradas sobre o valor de cada venda. E essas cobranças, segundo Turmina, devem permanecer inalteradas no médio prazo.

A taxa média de administração no setor, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), é de 3%. Ela é maior do que o cobrado em outros países. A taxa média nos países do Mercosul, por exemplo, é de 1%. Outra discrepância apontada pelos lojistas é o tempo que eles levam para receber o dinheiro das vendas feitas em cartão no Brasil: até um mês.

A mudança de hoje é parte de uma iniciativa de autorregulação da própria Abecs, que ocorreu após a divulgação de um relatório do Banco Central que apontava abuso de poder de mercado, barreiras à entrada de novos competidores, práticas de cartel e estruturas verticalizadas no setor de cartões de crédito no Brasil.

Em recente entrevista à imprensa sobre o tema, o presidente da Visa, Rubén Osta, avaliou que o fim da exclusividade levará a uma redução nos preços, pois concederá ao lojista um maior poder de negociação. Osta, no entanto, sugere que o comerciante analise um conjunto de fatores além do custo do serviço. "É muito importante que a gente perceba que a segurança e a gama de serviços serão muito mais importantes do que o preço", sugere.

Concorrência

O professor de direito comercial da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon), Carlos Eduardo Hapner, aponta o aumento na concorrência como uma consequência positiva das mudanças implantadas. "Todo disputa concorrencial é favorável ao consumidor e se resume em vantagens de negociação e taxas mais baixas. Mas, para que isso ocorra, deve haver uma competição saudável e legítima entre as empresas", avalia.

Já para coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (ProTeste), Maria Inês Dolci, o fim da exclusividade representa apenas o começo de um processo. "Só o compartilhamento [dos terminais] não é suficiente. Também é preciso debater o sobrepreço, o fim da verticalização e a padronização das taxas. A principal mudança vai ocorrer quando houver uma regulamentação adequada para o setor, tornando-o mais transparente", avalia.

Operações do setor aumentam 21% no mês

O Brasil encerrou o primeiro semestre com a marca histórica de 597 milhões de cartões no mercado, incluindo plásticos de crédito, débito e de redes de varejo (chamados de "private label"). O crescimento foi de 10% em comparação a junho do ano passado, segundo estimativas da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). Esses cartões movimentaram volume de R$ 244 bilhões, expansão de 21% em relação ao mesmo período de 2009, e fizeram 3,3 bilhões de transações.

Os cartões de crédito são os mais usados. Os plásticos movimentaram R$ 142 bilhões entre janeiro e junho. Só neste mês, com dados ainda não fechados, a projeção da Abecs é de giro de R$ 25 bilhões com pagamentos via cartão de crédito, puxado pelas vendas do Dia dos Namorados.

Tanto a Cielo como a Redecard, principais empresas que fazem a captura das transações nos estabelecimentos comerciais, anunciaram que suas máquinas que fazem a leitura dos cartões bateram recordes de transações no período. Só com crédito, foram feitos 244 milhões de pagamentos, expansão de 15% em relação a junho de 2009.

Os cartões de crédito chegaram a 145 milhões de unidades em junho, outro recorde do setor. Já os de débito somaram 241 milhões. Os de loja totalizaram 211 milhões.

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