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Estudantes e especialistas debateram a crise financeira no Teatro Paiol, em Curitiba. | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
Estudantes e especialistas debateram a crise financeira no Teatro Paiol, em Curitiba.| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Qual a gravidade da crise financeira? Quais setores do Brasil vão sofrer mais com ela? Como isso influencia a política no país? Essas foram algumas das questões que guiaram uma conversa entre três especialistas que acompanham a economia de perto e um público formado por jovens estudantes presentes ao Papo Universitário, na noite de quarta-feira no Teatro Paiol, em Curitiba. A missão de esclarecer o mecanismo da crise ficou a cargo dos economistas Fábio Araújo, sócio da consultoria Brain, Marcelo Curado, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e da jornalista Marisa Boroni Valério, editora-executiva de Economia e Mundo da Gazeta do Povo.

O cenário traçado pelos debatedores é o de uma crise grave, que vai fazer a economia brasileira desacelerar e que é difícil de explicar devido à sua complexidade. "Há uma restrição de crédito que é global. O risco cresceu demais", explicou o professor Curado. "Além disso, a economia mundial vai crescer menos e por isso há o risco de vendermos menos para fora."

Os sinais da crise já são vistos no comportamento do câmbio e da bolsa. As primeiras baixas na economia real foram os prejuízos em empresas que fizeram operações de câmbio que deram errado. "Elas apostaram no sentido errado e tiveram prejuízo", lembrou Araújo, da Brain. Segundo ele, ainda é difícil prever quais setores se sairão melhor durante o período de instabilidade. "O setor automotivo terá problemas porque depende muito do crédito. Não por acaso as montadoras estão dando férias coletivas." Para Marcelo Curado, indústrias exportadoras em geral e o setor da construção também enfrentarão meses difíceis.

Os dois economistas apontam que a crise demorará para passar, mas que, no longo prazo, depois que os mercados se estabilizarem e os países mais atingidos se ajustarem, haverá uma recuperação econômica. "Os governos estão agindo e sabem que precisam salvar bancos que são grandes demais para falir porque o prejuízo para a economia seria enorme", afirmou Fábio Araújo. Para o professor Curado, é muito improvável que se observe uma depressão como na década de 1930. "São problemas com origens semelhantes, mas a crise atual passa longe de um efeito tão duro."

"E a crise tem a ver com política no Brasil?", perguntou um dos estudantes da platéia. "A economia vinha bem e isso se refletiu no grande número de reeleições neste ano", observou Curado. Na opinião dele, o governo Lula tem de lidar agora com uma reversão de tendência que pode ser decisiva para as eleições presidenciais em 2010. "A inflação pode voltar por causa do dólar mais alto, a conta externa está mais complicada e os gastos públicos tendem a cair. Fica mais difícil o Lula fazer seu sucessor."

Dependendo da duração da crise, é possível que os debates para as eleições de 2010 sejam recheados de termos que estão se popularizando agora nos jornais. "Vivemos um dilema diário para explicar essa crise", disse Marisa, da Gazeta do Povo. "Não podemos ser básicos demais, mas também não podemos ser complicados a ponto de não sermos compreendidos por leitores menos familiares com a economia. A solução é tentar traduzir a crise em infográficos e histórias reais." Mas é inevitável: termos como subprime, alavancagem e securitização vieram para ficar por um bom tempo.

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