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Veja que comércio entre Brasil e China teve um crescimento nos últimos dez anos |
Veja que comércio entre Brasil e China teve um crescimento nos últimos dez anos| Foto:

Governo aplica nova medida antidumping

Brasília - Na véspera da viagem da presidente Dilma Rousseff à China, o governo voltou a aplicar medida de defesa comercial para combater as importações brasileiras de produtos provenientes do país asiático. Ontem, o alvo foram as malhas de viscose produzidas pelos chineses. Essa é a segunda resolução aplicada pelo governo Dilma contra a China. A medida, publicada no Diário Oficial da União, instituiu um imposto extra sobre o importador para eliminar o que foi considerado pelo governo concorrência desleal. A partir de agora, o país vai aplicar o chamado antidumping definitivo, por até cinco anos, sob a forma de sobretaxa de imposto de US$ 4,10 por quilo.

A presidente Dilma Rousseff chega hoje à China em um momento em que o Brasil vivencia um cenário contraditório na relação de comércio com o país. Ao mesmo tempo em que mantém um superávit comercial com os chineses, o Brasil exporta para a China basicamente commodities, enquanto importa, em sua maioria, produtos industriais – e, no curto prazo, há poucas chances de que essa "desigualdade" diminua.

O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) divulgou ontem um documento no qual demonstra preocupação com a relação entre os dois países no longo prazo. Intitulado "As relações bilaterais Brasil-China – A ascensão da China no sistema mundial e os desafios para o Brasil", o estudo aponta que as ameaças para o futuro do Brasil seriam perder a participação nas exportações em terceiros mercados para a China, sofrer com o "desadensamento’’ da estrutura produtiva nacional, perder o controle estratégico sobre fontes de energia e ter aumentada a vulnerabilidade externa estrutural.

O documento do Ipea faz esse alerta baseado na pauta de exportações e importações brasileiras. Em 2010, os minérios corresponderam a 40% do que foi vendido para a China; 23% foram oleaginosas e 13%, combustíveis minerais. Em compensação, os produtos chineses com alto valor agregado – como equipamentos industriais – são os mais importados pelo Brasil.

Além disso, o estudo do Ipea cita a dificuldade enfrentada por empresas brasileiras para acessar o mercado chinês. A Gerdau é uma das empresas que tenta há anos adquirir uma fábrica de aços especiais na China, mas, como as multinacionais do setor siderúrgico são obrigadas a comprar participação minoritária em uma empresa local, ela ainda não encontrou uma fábrica adequada para a parceria.

Outra questão preocupante é a compra de terras, no Brasil, por empresas asiáticas, geralmente em terrenos próprios para plantação de soja ou ricos em minérios de ferro. O documento traz estimativas não oficiais que mostram que os chineses já possuem 70 mil km² – ou 160 "Curitibas – de terras no Brasil.

Perspectivas

Especialistas acreditam que o cenário bastante desfavorável para o Brasil nas relações comerciais com os chineses não deve mudar no curto prazo. "Temos que ter clareza de que, mesmo que essa relação possa melhorar, ela vai continuar sendo desigual. Alimentos e recursos naturais são o que eles precisam e vai ser o que eles vão continuar a comprar. O problema é que vamos acabar perdendo mercado interno e outros países vão também comprar da China, diminuindo a entrada de nossos produtos", analisa o professor de Ciências Econômicas Fabio Tadeu Araújo, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Uma das conclusões do estudo do Ipea é que o avanço dos chineses nesta relação acontece porque eles "sabem claramente o que querem do Brasil, no entanto, ainda não se tem claro o que queremos da China". Wellington Pereira, economista do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), concorda com a afirmação do Ipea. "A China fez este planejamento há mais de 30 anos, enquanto que nós não temos um plano de desenvolvimento a longo prazo."

Desafios

O diagnóstico do Ipea aponta algumas estratégias para o Brasil tentar equalizar a balança comercial com a China, como usar mais ativamente instrumentos de defesa comercial no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), além de ampliar a cooperação tecnológica com o país asiático. Mas, na opinião do professor Rodolfo Coelho Prates, do Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade Positivo, o tema principal que deveria ser tratado entre a presidente Dilma e o governo chinês é estabelecer condições melhores para a entrada de empresas brasileiras na China.

"O Brasil é muito receptivo com investimentos, mas o governo chinês impõe uma série de barreiras que não permite que os brasileiros cheguem lá com a mesma intensidade. Se o Brasil tiver mais acesso ao mercado chinês, com certeza a fragilidade nesta relação tenderia a diminuir", explica Prates.

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