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Além de trabalhar até o dia 25 de maio para pagar impostos, o contribuinte da classe média brasileira trabalhou até a última segunda-feira para pagar serviços privados que deveriam ser prestados pelo poder público com qualidade, como educação, saúde, previdência privada e segurança. O brasileiro da classe média, portanto, só começou a trabalhar para comer, se vestir, morar, adquirir bens, tirar férias e fazer alguma poupança no dia de ontem.

O cálculo é do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), que mostra a evolução do comprometimento da renda da classe média (famílias de um casal e dois filhos com renda familiar entre R$ 3 mil e R$ 10 mil mensais) com os serviços privados de educação, saúde, segurança e previdência. Na década de 80, a família de classe média comprometia 12% da renda, ou 44 dias por ano, com este tipo de gasto. Em 2006, o volume saltou para 31% da renda, ou 113 dias de trabalho por ano.

O estudo também relata que o comprometimento da renda do trabalhador com serviços privados cresce na mesma proporção que a carga tributária, e não o contrário. Na década de 80, o brasileiro trabalhava 82 dias (2 meses e 22 dias) para pagar impostos. Este ano, trabalhou 145 dias (4 meses e 25 dias), ou quase o dobro do que há 20 anos, para arcar com a carga tributária. O natural seria que a qualidade dos serviços prestados pelo governo fosse melhor, uma vez que o contribuinte está pagando mais caro por eles.

"Hoje o Brasil está com o sistema tributário semelhante ao europeu, com carga tributária em relação ao PIB superior ao de países como Alemanha e Reino Unido, que têm uma rede de proteção ao cidadão muito forte. O contribuinte paga os tributos mas pode usufruir do serviço público de qualidade", diz Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT e coordenador do estudo.

No Brasil, a carga tributária em 2006 chegou a 36,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Na Alemanha representa 34,6% do PIB e no Reino Unido, 36,1%. Em países emergentes a carga é menor. Na Rússia, 16,9% do PIB e na China, 16,7%.

Amaral ressalta que no Brasil a classe média é a mais sacrificada no pagamento de impostos. "A classe média já é responsável por mais de 60% da arrecadação direta no país e paga, proporcionalmente, mais imposto sobre a renda e sobre o patrimônio, que não tem tanto impacto na classe alta. Já a classe baixa é a que mais paga imposto sobre o consumo", explica.

O estudo completo do IBTP está disponível no site www.tributarista.org.br.

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