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À medida em que a situação na América Latina parece sugerir a volta de não-soluções para seus antigos problemas, como é o caso do "socialismo do século 21", da confusão boliviana, da ameaça de desastre no Equador e da recaída na Nicarágua, o Brasil faz um duplo movimento. De um lado oferece pragmática solidariedade àquelas nações no campo político e, com certo cinismo, reconhece-as como "democracias". De outro, vai a pouco e pouco superando, com paciência e perseverança, o esquerdismo infantil que sugeria a superação dos desequilíbrios sociais (que são muitos e grandes) destruindo a eficiência produtiva da economia de mercado, que tem defeitos muito menores do que qualquer outra organização alternativa já tentada.

O Plano de Aceleração do Crescimento foi o primeiro sinal dessa evolução. Reconheceu, implicitamente, que a ação do governo deve concentrar-se em prover os bens públicos que só ele pode fazer, como segurança, justiça, aumentar a igualdade de oportunidades e manter a estabilidade do valor da moeda. As dificuldades institucionais enfrentadas pelas obras do PAC e a impossibilidade do governo de executá-las diretamente, confirmaram a necessidade de cooptar o setor privado. O enorme sucesso das concessões das estradas de rodagem contém boas lições para a administração pública (leilões bem projetados melhoram a situação do usuário) e para nossos empresários (eles precisam de condições isonômicas à dos competidores estrangeiros, mas têm que mostrar competitividade).

Caiu a ficha. Começamos a aceitar que foram o aumento da carga tributária, o endividamento interno e a vulnerabilidade externa que reduziram o crescimento anual do país a 2,5% nos últimos 20 anos, em lugar dos 6,5% em 1950-1985. Se tomarmos 1985 como base (igual a 100), nosso PIB hoje é de 169. Se o crescimento tivesse sido de 6,5% ao ano (possível com uma política menos aleatória do que a praticada) seria de 376! Com uma carga tributária de 36% do PIB, o governo se apropria, hoje, de 61 unidades físicas do PIB (169 vezes 36%). Com a carga tributária de 1985 (24% do PIB), ele se apropriaria, hoje, de 90 unidades do PIB de 376 (376 vezes 24%). Em poucas palavras, se os governos tivessem tido uma estratégia inteligente nos últimos 20 anos, poderíamos ter hoje 48% mais de recursos físicos (90 dividido por 61) para atender à missão que só eles podem cumprir. Essa é a verdade banal: o político pensa na próxima eleição. O estadista na próxima geração.

contatodelfimnetto@uol.com.br

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