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Os economistas costumam esconder o seu desconhecimento sobre a taxa cambial atrás de uma obviedade: a taxa de "equilíbrio" é aquela que iguala a demanda e a oferta de divisas com a economia crescendo à sua capacidade potencial. A definição mais confunde do que esclarece, porque "oferta" e "procura" são entes abstratos até que seja explicitada como concretamente se formam e de quais fatores dependem. Por exemplo, a "oferta" depende não apenas do movimento de exportação de bens e serviços mas também do movimento dos capitais, das diferenças entre as taxas de juros reais internas e externas, da existência de mercados futuros, das expectativas etc. A "demanda" depende, pelo menos, do nível e da expectativa de crescimento do PIB, e estes, certamente, da taxa de juro real interna e do próprio saldo em conta corrente, o que mostra que a completa independência entre elas exigida pela teoria é, pelo menos, duvidosa.

Todas as firulas acadêmicas perdem a sua graça quando o nivelamento da "oferta" e da "demanda" de divisas produz uma taxa de câmbio muito longe da de "equilíbrio", gerando uma aceleração da inflação (quando a subvalorização é evidente) ou uma redução da inflação, com desestruturação do setor externo da economia e redução do crescimento do PIB (quando a supervalorização é evidente). No momento atual, a economia brasileira sofre um claro processo de supervalorização que vai abortar o crescimento. Ela é produzida:

1.º) pela grande expansão do comércio mundial (quantidade e preços), que aumenta automaticamente o valor das exportações;

2.º) pelo pífio crescimento do PIB em 2005 (2,3%), acompanhado de um aumento da "proteção" tarifária criada pela passagem do PIS/Cofins de cascata para valor adicionado, que, conjuntamente, reduzem a demanda de importações;

3.º) pela cavalar diferença entre as taxas de juro interna e externa, que transformou a compra de reais no mais eficiente e lucrativo mecanismo de arbitragem entre elas.

O gráfico abaixo mostra que a taxa cambial nominal retornou aos níveis de março de 2001 (em torno de R$ 2,10 por dólar). Ocorre que, entre aquele mês e abril de 2006, a inflação medida pelo IPCA (que dá uma idéia do aumento de custos internos) foi da ordem de 50%. Logo, o "poder de compra" de um dólar de março de 2001, a preços de abril de 2006, é da ordem de R$ 1,40, menor do que em janeiro de 1999, quando houve a desvalorização do real!

Esses números mostram o efeito da insensata política monetária dos últimos 24 meses, que usou, oportunisticamente, a taxa de câmbio como instrumento da política antiinflacionária.

A desarticulação do setor exportador é um grave erro, e o governo vai pagar por isso! E o presidente Lula vai pagar em dobro se for reeleito...

dep.delfimnetto@camara.gov.br

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