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Sabemos empiricamente: 1.º) que um simples fato pode destruir a credibilidade da mais sofisticada teoria logicamente construída e 2.º) que eventos extremos como catástrofes naturais (terremotos, furacões) ou sociais (revoluções, crises econômicas agudas) chegam, freqüentemente, como surpresas. Esses dois fatos mostram que os "cientistas sociais" (em particular os economistas) deveriam ter mais cuidado quando fazem afirmações apodicticas deduzidas de construções teóricas.

É o caso, por exemplo, do fenômeno chamado "bolha" no mercado financeiro, cujo problema começa na sua própria caracterização. O que é uma "bolha"? Em princípio, trata-se de um fenômeno em que o valor de um ativo financeiro é precificado pelo mercado crescentemente acima dos justificados pelos "fundamentais". E o que são os "fundamentais"? Racionalmente construído, é apenas o valor atual (isto é, descontado pela taxa de juros) da soma dos seus futuros rendimentos. O seu cálculo envolve, entretanto, uma enorme quantidade de incertezas e expectativas que irão se cumprir ou não, à medida em que o futuro vai sendo descoberto pelo presente. Não se trata, necessariamente, de um futuro qualquer, previsível a menos de pequenas variações aleatórias. Nele pode estar sendo gestado (exatamente pela acumulação dessas pequenas variações) um evento extremo: a crise. É por isso que saber se existe ou não uma "bolha" em qualquer mercado (antes dela estourar) é, sempre, uma questão de opinião, que reflete a experiência, as crenças e a intuição do analista – com respeito aos "fundamentais".

Um exemplo típico desse processo pode ser surpreendido num longo (e até então "competente") artigo de M. H. Smith e G. Smith, "Bolhas, Bolhas, onde está a Bolha Imobiliária?", publicado recentemente no Brookings Papers on Economic Activity (1), 2006. Os autores reconhecem as dificuldades de estimar os "fundamentais", mas acabam concluindo que "aos preços correntes (final de 2005) a compra de uma casa é um investimento fundamentalmente saudável". Na discussão (maio de 2006) os comentadores do artigo (C. Mayer e R. J. Shiller), são muito mais céticos. Shiller, inclusive, parecia intuir que qualquer coisa estava para acontecer. O incrível é que em 70 páginas (do artigo, mais as discussões) não há uma só palavra sobre os "sub-primes".

As "crises" chegam mesmo de surpresa...

contatodelfimnetto@uol.com.br

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