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Dois fatos me intrigam. Segundo pesquisas recentes, o Estado brasileiro é bem menos eficiente do que o setor privado. Ao mesmo tempo, a busca por um emprego público cresce a cada dia.

Os dados mostram que a máquina estatal está inchada, investe pouco, desperdiça muito, é extremamente cara (37% do PIB) e garante estabilidade a bons e maus funcionários ("Setor público é menos produtivo", "Estado de S. Paulo", 18/3).

Mas será que os jovens buscam deliberadamente as organizações ineficientes?

Penso que essa tendência reflete a situação atual. Em vista do baixo crescimento econômico e da reduzida oferta de empregos, é evidente que eles busquem trabalhar nos órgãos do governo, que empregam mais por apadrinhamento e menos por concurso.

Mas não é só isso. Uma pesquisa realizada pelo professor Nakano, da Fundação Getúlio Vargas, mostra que os ganhos dos servidores públicos são substancialmente mais altos do que a média do setor privado, quando se leva em conta os salários, os benefícios e as generosas aposentadorias e pensões (Yoshiaki Nakano, "Salários no setor público são muito maiores do que no setor privado", "Valor", 21/ 11/2006).

Isso nos leva a concluir que, com honrosas exceções, os funcionários públicos, comparados com os do setor privado, ganham mais e são menos eficientes, admitindo-se até que boa parte do problema reflita as mazelas dos órgãos do governo.

Essa é uma equação desconhecida no setor privado onde o bom desempenho é o critério fundamental para a remuneração e avanço na carreira.

O governador José Serra se prepara para atrelar os ganhos e a promoção dos funcionários ao atingimento de metas nas unidades em que trabalham – hospitais, escolas, delegacias, etc. A proposta é louvável, mas, certamente, abrirá um grande debate quando chegar à Assembléia Legislativa. Há no Brasil uma tendência de se considerar "politicamente incorreto" a premiação do bom e a punição do mau. Precisamos ser mais realistas. A vida é marcada pela seleção. Nos recrutamentos das empresas, entram os melhores. Nas promoções, sobem os que acumularam mais méritos.

Vivemos em uma sociedade que espera o melhor desempenho nas mesmas condições de trabalho. Quando este cai, as empresas procuram saber se o problema está na organização ou nos funcionários, buscando atualizá-los e reciclá-los o tempo todo. Mas chega um ponto em que a substituição é inevitável ou a promoção é cancelada. Oxalá o governador Serra consiga implantar esses princípios na administração pública. Ganhará o povo.

Antônio Ermírio de Moraes é empresário.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br

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