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Em 2003, a corretora Goldman Sachs criou o termo BRICs para se classificar os países que tinham a maior potencialidade de crescimento, referindo-se, especificamente a Brasil, Rússia, Índia e China.

O termo pegou. No começo, o Brasil entrava como uma grande esperança. Hoje, as luzes se concentram apenas nos outros três países. No último número da revista Veja, há uma síntese do que está acontecendo. Enquanto que o Brasil, em 2006, cresceu apenas 2,9%, a Rússia cresceu 6,7%, a Índia 8,2% e a China 10,2%. São diferenças brutais e que colocam o Brasil na rabeira.

A mesma matéria esclarece grande parte desse fiasco. Enquanto que a China investiu 47,8% do PIB, a Rússia investiu 33,5% e a Índia 29,3%, os investimentos do Brasil, tudo somado, mal ultrapassaram os 21% e, mesmo assim, há analistas que consideram não ter chegado a isso.

A poupança interna da China está na estratosfera 47,8%; a da Rússia, 33,5%; a da Índia 29,3% e a do Brasil só 25%. Por outro lado, nossa carga tributária é de 38%, a da Rússia 31%, a da Índia 17% e a da China 16%.

A taxa de juros reais é a mais alta do mundo. O déficit previdenciário é explosivo, tendo chegado a mais de R$ 70 bilhões quando se computam os sistemas público e privado. As despesas da União poderão chegar a 19% do PIB em 2007 (eram menos de 10% em 1991).

Os economistas defendem que os "fundamentos" da nossa economia são sólidos – as reservas cambiais chegam perto de US$ 100 bilhões, a dívida externa diminuiu, o câmbio continua livre e as exportações vão bem.

Mas será que isso encerra o elenco dos "fundamentos"? O que dizer da incapacidade do Estado para investir em infra-estrutura? O que dizer da estratosférica taxa de juros reais, que só serve para atrair dinheiro especulativo? O que dizer da anêmica atração de capitais para projetos produtivos? O que dizer da irrisória taxa de formação de capital em relação ao PIB?

Se estes aspectos entrarem no conceito de fundamentos, penso que o quadro muda. As vulnerabilidades da economia brasileira são imensas e ficaram crônicas – sem que os governantes se disponham a atacá-las de frente.

Não podemos nos iludir: o desempenho dos últimos quatro anos foi reflexo, em grande parte, do alto dinamismo da economia mundial e, mesmo assim, não conseguirmos crescer mais de 2,5% em média.

Os sinais de desequilíbrio se agravam a cada dia quando se vê que agricultores e industriais de vários setores só conseguem exportar com prejuízo. Até onde vai isso? Não podemos contar eternamente com o dinamismo externo. Precisamos fazer a nossa lição de casa.

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES é empresário. antonio.ermirio@antonioermirio.com.br.

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