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Há certas coisas que são inadmissíveis num país tão rico como o Brasil. Destaco, neste artigo, dois fatos que me chocaram muito.

O primeiro foi saber que uma Nação que produz mais de 120 milhões de toneladas de grãos, abriga gente que passa fome. O segundo foi constatar que, em um país de tanta solidariedade, pessoas idosas estão sendo literalmente abandonadas.

No que tange à fome, uma recente pesquisa do IBGE revelou existir cerca de 3,3 milhões de famílias (14 milhões de pessoas) que estão na situação de extrema "insegurança alimentar" – termo novo para dizer "fome" e mais 18 milhões de família (72 milhões de pessoas) sofrem de "insegurança alimentar leve".

Ora, se vivêssemos em um país onde não há alimentos, o problema era quase insolúvel. Mas com safras tão abundantes, com frutas, aves, peixes e ovos espalhados por toda Nação, isso é injustificável.

O estudo mostra que essa gente sofre de falta de renda e, conseqüentemente, de falta de emprego. Jamais conseguiremos atender essa multidão na base do assistencialismo. Além de inexeqüível do ponto de vista econômico, um atendimento desse tipo torna a população eternamente dependente do governo, o que indigno e desrespeitoso. É uma desumanidade inaceitável.

A outra desumanidade eu já conhecia por trabalhar há 40 anos na área hospitalar. Mas é sempre chocante ver uma reportagem mostrando com todas as letras o sofrimento dos idosos que passam meses e anos dentro de um hospital sem receber uma só visita, nem de amigos, nem de parentes.

Segundo a matéria publicada pela Folha, apenas um terço dos idosos internados em São Paulo recebe visitas e, mesmo assim, esporádicas. Os demais, "curtem" a dor da doença e a solidão do abandono sem poder reclamar ("Famílias esquecem idosos em hospitais", Folha, 30/4/2006).

Isso acontece em um país que possui um belo Estatuto do Idoso no qual o art. 3.º diz: "É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária".

Essas duas aberrações mostram que pouco adianta ter boas safras e boas leis quando a sociedade não dispõe de mecanismos concretos para lidar com os problemas sociais. Mais empregos, mais educação e mais renda ajudariam a atenuar esses dois sofrimentos.

e-mail@antonio.ermirio.com.brwww.antonioermirio.com.br

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