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Uma das interpretações mais erradas que vi sobre os possíveis efeitos da onda protecionista deflagrada pelo presidente americano Donald Trump é a de que isso é bom para o Brasil. Acredito que é errado pensar que vamos ganhar em acordos com parceiros comerciais esnobados pelos Estados Unidos – simplesmente porque acordos isolados não vão substituir a ordem de liberalização comercial estabelecida nos últimos 60 anos.

Se de fato o movimento que começou com a saída dos EUA da Parceria Transpacífico (TPP) culminar com outros rompimentos, vamos provavelmente passar por anos de maior desorganização do sistema global e não a uma organização nova e mais próspera que incluiria o Brasil. No fundo, nós só nos sentiríamos um pouco menos mal do que nos últimos anos, quando fomos deixados fora da festa.

O Brasil é a prática do que pode ser esse novo sistema desorganizado. Partimos para uma estratégia de sair dos grandes acordos (abandonamos a Alca, não demos trela para a Rodada Doha e estamos há mais de uma década negociando com a União Europeia) para caçar parceiros. Não funcionou. Foram poucos acordos significativos e o país viu crescer sua dependência das vendas de grãos para a China nos últimos 15 anos para sustentar sua balança comercial.

A visão positiva sobre o novo protecionismo americano é a de que agora, sem os Estados Unidos na jogada, seria mais fácil fechar acordos. Essa tese é complementada pela ideia de que a China poderia assumir um protagonismo maior nas negociações – liderando, por exemplo, uma aliança forte com a América Latina.

Um mundo de cada um por si no comércio é mais complexo e dificulta a vida das empresas – as regras mudam de acodo para a acordo e a fragmentação reduz a previsibilidade para fazer negócios. Também me parece errado acreditar que é possível conseguir negócios melhores, como diz Trump, fora de áreas de livre comércio, como o Nafta ou o Mercosul. Acordos pouco abrangentes costumam ser apreendidos pelos setores com lobbies mais fortes e servem a interesses isolados, sem provocar a integração capaz de acelerar o crescimento econômico.

A saída pela China também é ainda um sonho de quem acredita na necessidade de haver um contraponto ao poder econômico americano. A China acabou de ser reconhecida como economia de mercado – e ainda há muitas dúvidas de que realmente merecia esse status. O país tem controles cambiais e uma política comercial amplamente voltada para a exportação. Não parece uma economia madura para recompor a ordem no comércio global.

E mesmo que fosse, o Brasil estaria em uma situação desconfortável. Já é bastante dependente das exportações de produtos primários para a China e elevar essa dependência não parece um caminho saudável. Também não parece bom abrir o mercado local a um parceiro que distorce o câmbio e subsidia indústrias contra as quais não podemos concorrer.

Para o Brasil, o melhor é continuar as negociações com a Europa (há muito em andamento) e corrigir o rumo do Mercosul. É mais produtivo do que esperar que o jogo vire sozinho a seu favor.

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