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Alda foi desligada da empresa após 15 anos de casa. Esse havia sido o seu primeiro emprego de fato, com carteira assinada. Ela trabalhava na linha de montagem e exerceu sempre a mesma função. Com o dinheiro da rescisão, decidiu montar uma pequena confeitaria, pois gostava muito de cozinhar e era conhecida entre as amigas como uma grande doceira. Além disso, com sua idade e com a situação do país, sabia que não seria fácil conseguir um novo emprego. Então, incentivada pelo marido e pelos filhos, Alda montou seu negócio.

Ela estava animada por ter a oportunidade de construir uma nova história, de ser dona do próprio nariz, decidir seus horários, seu procedimento de trabalho. Durante o período em que fez parte da equipe da fábrica onde trabalhou, Alda foi duramente repreendida, criticada e, algumas vezes, destratada por seus superiores. A postura da organização era a de vigiar os funcionários e de exigir deles o máximo possível, mesmo sem fornecer as ferramentas necessárias para isso.

Por essa razão, ao ser demitida, Alda sentiu um certo alívio. Afinal, ela mesma tinha pensado em deixar o emprego, mas não tinha tido coragem para tomar tal atitude. A possibilidade de trabalhar em um ambiente tranqüilo e alegre trouxe para Alda um sentimento de paz e de esperança que ela havia muito não experimentava. Assim, arregaçou as mangas e montou sua confeitaria. Com algum esforço, encontrou um lugar adequado, comprou os móveis e as máquinas necessárias. Tudo simples, mas feito com bom gosto e dedicação. Até esse ponto, Alda só sentia prazer e satisfação. No entanto, na hora de contratar os poucos funcionários que a ajudariam a tocar o negócio, percebeu que as coisas não seriam fáceis.

O processo de contratação foi demorado e penoso, mas por fim ela conseguiu encontrar três pessoas que pareciam ideais para o negócio. Com a equipe completa, Alda abriu as portas de sua empresa. Os clientes foram chegando sem muito esforço, pois a loja estava situada em uma área de bastante movimento, e os produtos oferecidos agradavam ao público tanto pela qualidade quanto pelo preço acessível. No entanto, Alda, acostumada a ser tratada com impessoalidade e desrespeito em seu emprego anterior, repassou para seus colaboradores o mesmo tratamento. Dirigia-se a eles com grosseria e impaciência, culpava-os por qualquer mudança na qualidade dos itens e não perdoava erros.

O clima no ambiente de trabalho tornou-se pesado e negativo. Os empregados de Alda não tinham liberdade para questionar seus procedimentos nem para sugerir melhorias nos processos. Então, certo dia, Alda percebeu, ao conferir o estoque, que estavam faltando alguns itens da confeitaria. Imediatamente, chamou seus funcionários e exigiu que eles explicassem o que havia acontecido. Nenhum deles soube justificar a falta dos ingredientes. Em contrapartida, a comerciante lhes comunicou que, para evitar furtos, iria revistá-los antes que eles deixassem o emprego. A partir daquele dia, Alda passou a obrigar seus empregados a abrir suas bolsas e sacolas para certificar-se de que não estava sendo roubada.

Essa postura tornou insuportável a convivência com a empresária, e seus colaboradores passaram a boicotá-la propositadamente. Faziam os doces de forma relapsa, para que os clientes reclamassem da qualidade dos produtos. Atendiam o público com desdém para que as pessoas não voltassem ao estabelecimento e desperdiçavam ingredientes para aumentar os custos da confeitaria. Alda não sabia mais como colocar na linha seus auxiliares. Quanto mais gritava com eles, mais eles se voltavam contra ela. Em pouco menos de um ano, Alda precisou fechar as portas da confeitaria, pois havia perdido toda a sua clientela. Mandou embora os empregados e culpou-os por seu fracasso. Até hoje ela diz às amigas que perdeu a oportunidade de sua vida pela falta de colaboração de sua equipe.

Administrar pessoas não é tarefa fácil, sobretudo se a experiência que possuímos não serve de exemplo. A maioria dos profissionais tende a seguir modelos de gestão pelos quais já passaram, repetindo, tanto em suas empresas como em outros empregos, o que aprenderam nas experiências anteriores. Por isso é tão difícil conseguirmos imprimir novas idéias e procedimentos no mercado de trabalho. O ser humano tende a repetir o que aprendeu para não errar e se manter em uma zona mais segura. Essa postura pode preservar alguns valores importantes, mas pasteuriza e engessa as relações de trabalho. O mundo organizacional precisa de novas idéias, de mais criatividade, para não cair em decadência.

SAIBA MAIS

Círculos de Leitura

O projeto Círculos de Leitura, que teve início em 2000, é uma iniciativa desenvolvida em parceria entre o Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial e o Instituto Unibanco. O objetivo do projeto é permitir que jovens entre 12 e 19 anos ampliem seu repertório cultural, além de desenvolver o hábito permanente da leitura. O programa é gratuito, anual e tem como meta atender, em 2007, 900 alunos diretamente. As atividades do Círculos de Leitura são direcionadas a alunos de escolas públicas de São Paulo, São Bernardo do Campo e Diadema (SP). Nos encontros, realizados semanalmente, os jovens reúnem-se durante duas horas para ler e refletir sobre obras clássicas da literatura universal. A leitura compartilhada e as atividades de escrita e poesia desenvolvem a fluência, o vocabulário e a compreensão de texto. São organizadas também reuniões semanais de capacitação para os educadores e multiplicadores e passeios culturais complementares.

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Esta coluna é publicada todos os domingos. O espaço é destinado a empresas que queiram divulgar suas ações na gestão de pessoas e projetos na área social, bem como àquelas que queiram dividir suas experiências profissionais. A publicação é gratuita. As histórias publicadas são baseadas em fatos reais. O autor, no entanto, reserva-se o direito de acrescentar a elas elementos ficcionais com o intuito de enriquecê-las. Contato: coluna@circulodoemprego.com.br, ou (41) 3352-0110. Currículos: cv@debernt.com.br.

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