• Carregando...

O mestre Millôr, o gênio da raça, diz que a história sempre chegou deturpada, argumentando que no mínimo havia três versões de um mesmo fato. E no decorrer do tempo contavam de outra maneira.

Viravam à esquerda, diminuíam, viravam à direita. Enfim, a versão mudava com o passar dos anos. Argumenta sempre usando os evangelistas, que deram versões diferentes para um mesmo fato. E o evangelho ficou sendo segundo seu autor. Afinal Monalisa, o mais famoso quadro do mundo. Como era? Dizem até que aquele sorriso enigmático que Leonardo da Vinci pintou era de um homem.

Outros dizem que era uma vizinha que posou para o genial quadro. Só sei que fiquei durante horas observando a pintura perfeita no Museu do Louvre. Junto com o Carlos Alberto Pessôa, entramos e saímos dez vezes da sala, tal o choque que recebemos. Em uma das vezes, fui "limpar" os olhos na sacada, acalmar as retinas e tomar um café para voltar em frente àquela perfeição que jamais cansará alguém de bom gosto e com amor à arte. Espero repetir a cena.

Napoleão colocava a mão por dentro da farda na altura do abdômen por ter dores de úlcera, ou pela postura melhor para sair nas pinturas? De fato, a mão ali lhe dava outra imagem, muito mais forte e compatível com sua importância.

Já citei dois casos clássicos de versões diferentes. E Shakespeare? O maior dos maiores escritores de todos os tempos tem dez versões sobre sua origem. Foi Bacon quem escreveu sob pseudônimo, foi um autor anônimo que construiu a obra sem querer aparecer. Como ninguém privou com o magnífico poeta, as versões serão várias a ultrapassar os anos.

Como jogava Domingos da Guia? O famoso beque que todo mundo escala na seleção de todos os tempos. Quase não há registro da época. Eu por exemplo não vi nada, sei apenas por histórias de outros que viram. As versões são que ele não dava chutões, nem batia no adversário e saía com a bola nos pés. Vi Pelé e vi várias vezes. Ou melhor, vi muitas vezes. É o que me basta. As versões dos outros jogadores geniais, nada tem a ver com o Pelé, ele era e será o rei, com anos-luz na frente.

Os outros contam uma jogada ou outra magistral. Pelé foi centenas de vezes magistral. Mas também vi outras como Puskas, o maravilhoso ponta-de-lança húngaro que encantou o mundo com os magiares e lotaram o Maracanã.

Eu estava lá, ao lado do Russo, que o Pessôa retrata em livro atual. Agora vamos a Curitiba, se você nunca ouviu falar do "Esmaga" não conhece a cidade. Alvino era o nome dele.

Transitava pela Boca e através da Rua XV, entre o Grande Hotel, no Café Alvoradinha, no Alvorada em frente ao consultório do Júlio Gomel e nos cafés da Boca. Era funcionário do Teatro Guaíra, nomeado pelo Norton Macedo, e andava com o bolso recheado de notas. "Há dois reais aí", quando você dava e ele guardava, ficava sério e perguntava: "Não vai lhe fazer falta?", constrangendo e gozando o doador.

O Cecílio Almeida dava 100 e ele mostrava para todo mundo.

Dá um livro se for escrever sobre ele e aquela época dourada de Curitiba. Agora massificou tudo, restam referências e memórias. Pois quero registrar hoje uma frase do Alvino Cruz, o Esmaga, para o professor Abrão Fucks no fim de uma tarde fria. "Abrão", disse o Esmaga excitado e com ênfase. "Você não acha o Brasil um país muito mal subdesenvolvido?".

O nosso Shakespeare enxergou muito na frente. Obrigado, Alvino, pelo resumo que vale um livro.

carlosnasser2@yahoo.com.br

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]