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Tenho 44 anos, por enquanto – os 45 estão às portas, daqui a 20 dias. Do ponto de vista econômico, essas quatro décadas e meia estão entre as mais malucas de que se tem notícia: sete moedas diferentes, uma miríade de planos econômicos, proibição de importação de diversos produtos, depois abertura total aos produtos estrangeiros (a ponto de dizimar setores da indústria nacional), indexação total, desindexação comedida...

Na aparência, os 20 anos do Real, que se completam hoje, parecem ser os mais calminhos. Mas só na aparência. Carregamos distorções que ainda impedem o Brasil de ser um país normal no que se refere às possibilidades de investimento. Uma delas é a taxa de juros, e qualquer conversa sobre ela revela um viés esquizofrênico. Todos querem pagar juros mais baixos em seus financiamentos, mas também desejam obter retornos elevados em aplicações financeiras de baixo risco, de modo a compensar a inflação e dar bom lucro. Como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra...

É claro que devemos discutir spread, inadimplência e outros pratos do cardápio financeiro, mas convém lembrar que a lógica bancária é simples: receber dinheiro de uma pessoa ou organização e repassá-lo a outra. Nessa intermediação, paga-se juros ao primeiro e recebe-se juros do segundo, sendo que a diferença entre um e outro corresponde ao lucro da instituição. Para que um Fulano obtenha 9,8% ao ano de rentabilidade em suas aplicações em fundos DI (essa é a média de junho de 2013 a maio de 2014, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, a Anbima), algum Beltrano terá de pagar a conta.

E os ganhos das aplicações de renda fixa no Brasil são surpreendentemente altos. Levantamento da Economatica, empresa que produz software para análise de dados financeiros, mostra que as aplicações em CDI foram as que deram maior ganho real (ou seja, acima da inflação) nos 20 anos do Real. Foram 631%, quase três vezes mais que o Índice Ibovespa. Nesse período, a bolsa de valores mais lucrativa das Américas foi a do Peru, cujo índice IGBVL rendeu 617% – menos, portanto, que o CDI brasileiro.

Não há muito sentido em uma aplicação de baixo risco, como o CDI – que, basicamente, "cola" na taxa básica do país, a Selic –, ser a mais rentável do país. É uma distorção que atrapalha, inclusive, o desenvolvimento da iniciativa privada: se é possível obter ganhos tão bons sem esforço algum, por que então correr o risco de abrir uma empresa, pesquisar mercado, inovar no desenvolvimento de produtos? Muito melhor deixar o capital no banco rendendo juros!

Nesses 20 anos malucos, foi isso que aconteceu. Talvez seja restinho da tal cultura inflacionária, talvez seja consequência da hoje esquecida Lei de Gérson ("o bom é levar vantagem em tudo, certo?"). O fato é que ainda levará tempo para a cura completa.

Efemérides

Apesar das reportagens e discursos falarem que comemoramos hoje 20 anos do Plano Real, essa data não é exata. O 1º de julho de 1994 marcou a entrada em circulação do real, em substituição à moeda anterior do país, o cruzeiro real. O plano começou pelo menos quatro meses antes, quando foi instituída a Unidade Real de Valor (URV), indexador que antecedeu a mudança de moeda.

Que venha a Colômbia!

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