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Não acredito em bola de cristal. Prefiro bolas de gude, que poderiam até ser confundidas com as primas pobres da primeira – são menores e feitas de um material menos nobre, o vidro. A diferença é que não há adivinhações nem mágica por trás da bola de gude (ok, de búrico). Ganha quem tem mais destreza.

No começo do ano tem gente que ganha um dinheiro sério vendendo adivinhações para quem acredita que poderá tirar proveito disso. Bobagem, e os dois últimos anos comprovam isso. Em maio de 2008, quem imaginava que o ano fecharia de forma tão desastrosa, com demissões em massa e uma economia minguante? E no início de 2009, quem esperava que de­­zembro fechasse de modo tão otimista?

No mundo das bolinhas de gu­­de, é preciso rever sua estratégia to­­do o tempo, porque as condições mudam. E tudo indica que será as­­sim nos investimentos. Conver­sei com alguns consultores de investimentos, que me falaram de suas expectativas para o ano. Pelo que percebo, não há muitas certezas. Em boa medida, porque ainda não há convicção de que a crise foi digerida e que a economia mundial retomará sua trajetória de crescimento. Mas também porque aqui no Brasil há algumas cascas de banana no caminho.

A principal é a da política. Não só pelas dúvidas em relação à política econômica dos principais candidatos, mas pela incerteza sobre como será o cotidiano do país ainda este ano. "Os mercados devem ficar mais nervosos a partir de março, com a saída de Henrique Meirelles", diz Raul Gomes Pereira Ribas, da Diversinvest. O atual presidente do Banco Central deve ser candidato a senador ou mesmo a governador em seu estado, Goiás.

É a tal tensão pré-eleitoral, que os brasileiros conhecem bem. Essa é uma das razões que devem deixar qualquer investidor mais atento. Há outras: muitos especialistas em análise gráfica de ações têm a opinião de que aproxima-se o momento em que o Ibovespa vai encontrar um novo "fundo" – ou seja, vai cair bastante. "Há razões políticas, macroeconômicas e estatísticas para achar que este ano vai ser mais difícil do que 2009", opina o consultor Raphael Cordeiro.

Tudo isso, é claro, é apenas bola de cristal. O que você, leitor/investidor, vai tirar disso, vai depender de como vai arrumar suas bolinhas de gude.

Perfil

A partir deste mês, os bancos de varejo precisam submeter os clientes a um questionário para que ele conheça o seu "estilo" de investir – é a chamada "Análise de Perfil de Investidor" (API). A norma vale para todos os clientes que comprarem cotas de fundos de ações, fundos multimercados, ou fundos de renda fixa baseados em crédito privado (ou seja, que tiverem uma grande quantidade de títulos de empresas, como CDBs, notas promissórias e debêntures, por exemplo). A divisão "clássica" distingue três categorias de investidor: o conservador, o moderado e o arrojado, e tem como ponto principal a tolerância ao risco.

A medida é boa porque ajuda o investidor, em especial aquele que tem pouca familiaridade com o financês falado pelos gerentes de banco, a evitar fundos que deem resultados diferentes do que ele espera. Isso é muito comum. A fórmula não evita que o cliente conservador diversifique o seu portfólio com uma aplicação mais "apimentada". Mas, para fazê-lo, ele terá de assinar um termo registrando sua intenção.

Essa prática já era adotada em al­­gumas áreas. Os bancos private, que atendem a donos de grandes for­­tunas, começaram a mexer com ela há dois anos. A tendência é que acabe a atingir todo o mercado.

Para idosos

Por falar em risco, preciso registrar a mensagem enviada pelo leitor Jorge Luis Prado. Ele conta que ficou incomodado com a nota de 15 de dezembro, que falava da oferta de planos de previdência no fim do ano. A nota descrevia como abusiva a atitude de gerentes que oferecem esse tipo de produto para clientes idosos. Prado é gerente em um grande banco privado, e explica que muitas pessoas na faixa dos 70 anos procuram o banco em busca de planos de previdência. Nesse caso, a instituição pede uma carta do cliente e dos beneficiários do plano, assumindo que conhecem as características do produto. A operação só é concretizada depois de passar por uma equipe de pós-venda, em São Paulo. Mais ou menos como na regra da API.

Mas por que as pessoas escolhem aplicações que não servem para elas? "As pessoas não conhecem nada sobre dinheiro", opina Prado. "Mesmo com tanto material sobre o assunto espalhado em internet, livrarias e jornais, as pessoas continuam leigas em relação a administração do dinheiro, juros e produtos financeiros."

É mesmo uma pena.

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