Brasil, a grande família

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Está na matéria que rendeu manchete da Gazeta de domingo: 7 em cada 10 curitibanos já passaram por dificuldades por não terem uma reserva financeira para momentos de emergência. Mesmo assim, 61% da população não poupa nada – não tem dinheiro em fundos, numa caderneta de poupança, nem mesmo umas notas de cinquenta escondidas debaixo do colchão.

A bela reportagem da colega Cristina Rios, baseada em levantamento da Paraná Pesquisas, inclui algumas explicações dadas por especialistas a respeito disso. "Poupar não é um traço cultural do brasileiro, que não tem uma tradição de prudência", disse Murilo Lopes de Oliveira, diretor do instituto que fez a pesquisa. "É preciso lembrar que o brasileiro não partiu do zero, ele partiu do 'menos'", afirmou o professor Alexandre Assaf Neto, da Universidade de São Paulo (USP). Na visão de Assaf, há tantas demandas reprimidas, coisas necessárias que boa parte da população não tem, que o indivíduo se submete ao endividamento para resolver um problema imediato.

Os dados não chegam a ser surpreendentes, mas é meio chocante perceber que as pessoas encaram com naturalidade a possibilidade de recorrer a subemprego ou pedir dinheiro emprestado a parentes – 89% dos entrevistados admitiram essa possibilidade. Por isso essa história de "traço cultural" faz tanto sentido. Parece que a nossa população acostumou-se com essa situação.

Lembra o seriado A Grande Família, em que um patriarca já de idade sustenta filhos e agregados. Na tevê esse núcleo gera situações engraçadas. Na vida real, dá tanto problema que nem cabe nesta página. Começa com casamentos que não se sustentam porque a relação de dependência financeira que o casal mantém com pais ou sogros acaba se transformando em conflito. E leva a tropeços na economia nacional – construir casas novas, por exemplo, gera mais efeitos benéficos em termos de geração de empregos e circulação de dinheiro do que levantar um "puxadinho".

Tenho um amigo que costumava dizer que é fácil ganhar dinheiro para quem já tem dinheiro. Nesse caso, fica mais fácil abrir empresas e o seu próprio sobrenome serve de cartão de visitas na hora de procurar clientes. Para esses é fácil economizar e investir. Ele tem razão. Mas também é verdade que não é preciso ser rico para começar a economizar. Basta reconhecer sua própria situação financeira e fazer planos a partir dela, um passo de cada vez.

O exemplo feminino

"A força econômica que mais cresce no mundo não é á China ou a Índia – são as mulheres." A frase é de uma reportagem da CNN sobre o assunto. Segundo a matéria, o Banco Mundial estima que o poder de compra do sexo feminino deve subir dos atuais US$ 13 trilhões e chegar em 2014 a US$ 18 trilhões, um valor que equivale a mais do que a soma do Produto Interno Bruto dos dois países mais populosos do mundo.

É interessante perceber que, em todo o mundo, elas recebem salários menores do que os homens. No Brasil, o salário médio das mulheres brancas equivale a 62% daquele recebido pelos homens. O aumento do poder de compra deve-se em parte à redução dessa desigualdade, mas não apenas a isso. Elas estão conseguindo economizar mais. Um exemplo disso está nas remessas financeiras feitas por trabalhadores imigrantes. Os homens são maioria, e eles ganham mais. Mas o maior montante de recursos é enviado pelas mulheres.

Uma livre interpretação do que o Banco Mundial disse (bem livre, porque a instituição não tem esse foco em suas pesquisas) poderia ser: Quer aprender a economizar? Aprenda com uma mulher.

Diferenças menores

Uma boa notícia é que a diferença entre os vencimentos de homens e mulheres vem caindo. Nos últimos dez anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a redução havia sido de 10%. E a diferença salarial entre brancos e negros – uma prova de que a discriminação corre solta pelo Brasil e de que é necessária uma política de apoio – baixou 13%. Vamos esperar pelo próximo levantamento, em dezembro.

Fique rico já

Recebi um e-mail – tosco, escrito todo em maiúsculas – com o assunto acima. Oferecia "o primeiro software criado exclusivamente para gerar riqueza de modo automático e crescente". Uau! Será que tem gente que acredita nisso? Entrei no tal site, mas não tive coragem de baixar o programa. Só de acessar apareceu uma barra estranha no meu navegador. Melhor ficar sem o segredo da riqueza imediata do que encher a máquina de vírus.

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