• Carregando...
 |
| Foto:

Vejo pouca televisão. Talvez por isso tenha ficado surpreso, dia desses, quando vi um comercial de uma rede de lojas, apresentando as ofertas da semana – todas parceladinhas, como convém. Aí apareceram umas letrinhas no lado da tela, bem pequenininhas. E desapareceram em meio segundo. Lembrei daquelas lendas urbanas que falam de propaganda subliminar, mensagens ocultas para convencer o telespectador a comprar, comprar, comprar.

Mas não era nada disso: fui perceber que ali estavam as condições do financiamento, taxas de juros, custo efetivo total, aquelas coisas que a legislação obriga o comerciante a expor para que seu cliente saiba exatamente pelo que está pagando. E ele obedecia, azar o nosso se é impossível ler.

Em uma palavra: abuso. Coisa feia, mesmo.

Mas não é só na publicidade em tevê que o consumidor é enrolado. O leitor Fabrício enviou para a coluna as dúvidas dele em relação à publicidade de um carro, tirada de um veículo impresso. Ele refez as contas para saber de quanto eram os juros e se eles batiam com o que era declarado pela montadora. Surpresa! Ele achou quatro porcentuais diferentes. O anúncio alardeava juros de 1,4% ao mês e, nas letras pequenas, dizia que o custo efetivo total (CET, uma conta que deve incluir todos os encargos a serem pagos pelo cliente, como taxa de abertura de crédito e impostos) de 1,9% ao mês. Recalculando os dados, ele achou uma taxa de 2,1% ao mês (ou 1,83% a.m., descontando a taxa de abertura de crédito). Fabrício ficou assustado, e com razão. O consumidor está sendo enrolado.

O pessoal da área que me perdoe, mas o comércio de automóveis anda precisando de um choque de transparência. Os anúncios têm letras cada vez menores, os vendedores erram na hora de calcular juros. Os preços apresentados são irreais. Normalmente os anúncios das concessionárias não incluem os preços de frete nem pintura – como se o cliente tivesse a opção de pegar o carro na fábrica e pudesse pintá-lo em casa.

Recentemente, o Ministério Público de seis estados (Paraná incluído) assinou um termo de ajustamento de conduta com 24 montadoras e importadoras de carros, para disciplinar a publicidade. Entre as normas, está um limite mínimo para o tamanho da letra nos anúncios. Em caso de descumprimento, as multas podem chegar a 30% do valor da campanha publicitária que for considerada irregular. Podiam incluir também as lojas de eletrodomésticos, que têm práticas semelhantes.

Essas regras começam a valer em 30 de outubro. Vamos ficar de olho!

Fator felicidade, parte 2

A Anna, estudante universitária, leu a coluna da semana passada e escreveu para comentar. Disse que ficou aliviada ao ler a história do leitor Luciano, que contou viver bem, mesmo usando o crédito para financiar suas aquisições. Estudando e trabalhando, ela não tem conseguido poupar nada. "Simplesmente não consigo, não sobra", escreveu. Por isso ficou satisfeita ao conhecer a história de alguém que se deu bem sem ter acumulado recursos.

Pois é, Anna, isso é até possível, mas não é recomendável. No caso de Luciano, deu certo porque a renda dele é suficiente para sustentar o pagamento de juros em diversos financiamentos simultâneos – casa, carros, eletrodomésticos. E isso, convenhamos, não é muito comum por aí. O que mais se vê é gente que se arrisca e não consegue sustentar o nível de desembolso necessário. Com os juros altos que pagamos no Brasil – os maiores do mundo, nunca é demais lembrar –, as dívidas crescem rápido, e as chances de se recuperar encolhem na mesma medida.

Prudência, então, é sempre a melhor receita.

Eleição, ação e reação

A coluna não fala nada sobre Petrobras porque não precisa – o noticiário do primeiro dia de negócios pós-capitalização está em todo lugar, inclusive aqui nesta página. Mas, já que estamos a cinco dias das eleições, há curiosidades em que devemos prestar atenção.

A primeira diz respeito aos anos em que há eleição. Segundo Carlos Carvalho Júnior, autor de Hoje é dia de alta na Bolsa? (editora Saraiva), os anos de eleição presidencial têm uma taxa de risco de 48,91%. A taxa é "bem superior aos anos normais", segundo o especialista: a média de 1968 a 2008 foi de 39, 57%.

A segunda curiosidade diz respeito ao desempenho histórico das ações no mês de outubro, que está para começar. Segundo Carvalho Júnior, que construiu seu livro com base em dados estatísticos de mais de 40 anos, este é o pior mês para a bolsa, com uma desvalorização média de 2,67% no índice Ibovespa. Apenas outros dois meses (junho e agosto) têm retrospecto negativo no índice.

Este ano, até agora, o Ibovespa subiu 0,33%.

Comentários

Concorda? Discorda? Quer comentar, enviar uma dúvida ou contar sua experiência? Escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]