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Novecentos quilos de aço, plástico e vidros. Um meio de transporte. Mais do que isso, um carro – um carro novo, principalmente – é um símbolo. Um sinal de que seu proprietário é uma pessoa livre, que não depende de ninguém para exercer seu direito de ir e vir. Alguém com capacidade financeira e orgulho próprio. Você acredita mesmo nisso?

Mesmo que a gente não perceba, é alguma coisa mais ou menos assim que passa pela nossa mente na hora da compra. Por isso, com frequência, as pessoas compram automóveis mais com os hormônios do que com a cabeça, e se arrependem depois.

Carro pode até ser tudo isso, mas também é fonte de despesa. O leitor Giuliano, que escreveu um e-mail superdetalhado para a coluna, descobriu isso. Ele tem 22 anos, está em seu emprego novo há pouco tempo, e foi sorteado no consórcio há um mês. Tirou um carro zero quilômetro, e acabou descobrindo que as suas finanças se complicaram. "Acho que a euforia de ter comprado um carro me fez esquecer os detalhes financeiros, e por isso vou pagar (e o pior: pagar com o que não tenho)", diz.

Giuliano ganha R$ 2 mil por mês, mora com os pais e enviou um resumo dos seus gastos fixos, que estão mais ou menos assim:

• Parcela do carro: R$ 400

• Seguro do carro: R$ 450 (quatro parcelas)

• Ajuda para família: R$ 200

• Conta Celular: R$ 100

• Dentista: R$ 200

• Transporte (ônibus): R$ 120

• Investimentos em ações: R$ 300

O total soma R$ 1.770, sendo que as despesas ligadas ao carro somam quase 50% – e olha que ele não contou aqui a conta do combustível. Outro detalhe é que, mesmo com o carro na garagem, ele continua usando ônibus em seus deslocamentos para o trabalho ("por falta de experiência no trânsito", explica). Com isso, as despesas de transporte sobem para 55% da receita mensal de Giuliano.

Só que Giuliano não tem só essas despesas. Gasta também com roupas, passeios, compra de livros, presentes... E ele percebeu que vai passar a gastar mais do que ganha. Ele costumava guardar pelo menos R$ 100 por mês num fundo de reserva, para despesas imprevistas, mas já gastou tudo e não vê perspectiva de refazer essa economia.

Que bom que leitor percebeu cedo que havia algo errado. Muita gente não faz isso e deixa que o problema se aprofunde antes de buscar uma solução. "Antes de fazer uma compra significativa, é bom calcular o impacto que elas terão sobre as finanças", diz o consultor financeiro Raphael Cordeiro. "Ele vai ter de fazer um orçamento, um fluxo de caixa mensal para controlar as suas despesas." Enquanto isso, pode tentar elevar um pouco os seus ganhos. "Um aumento de R$ 200 por mês já traria um alívio muito grande para ele", observa Cordeiro. O fundamental é não entrar no cheque especial e sempre pagar o valor integral do cartão de crédito. Se usar o limite, os juros vão aprofundar o problema.

As ações

Giuliano também pergunta se deve continuar a investir ações. Ele já colocou na bolsa R$ 1.200, mas seu saldo estava em R$ 1.020 no dia que ele escreveu. Raphael Cordeiro diz que o importante agora é ele ter uma reserva para emergências. "Espero que não aconteça, mas ele precisa estar pronto para o caso de bater o carro e ter de desembolsar a franquia, que provavelmente não vai ser menor do que uns R$ 1.500", diz. Essa reserva tem de estar bem à mão, na poupança ou numa aplicação de renda fixa. Quanto às ações, quando o investimento é de longo prazo, elas sempre valem a pena. E a idade de Giuliano colabora muito com o investimento em renda variável, porque ele com certeza tem muito tempo pela frente para deixar o dinheiro rendendo.

Cartão

A leitora Márcia está às voltas com o cartão de crédito. "Há muitos anos não sei o que é receber o pagamento e depois comprar", conta. A vantagem é que ele acumula milhas aéreas, que já lhe permitiram viajar para o Nordeste sem pôr a mão no bolso.

Se os pagamentos são integrais, sem "rolar" nada, a concentração de gastos no cartão de crédito não chega a ser um problema. A dificuldade surge mesmo quando o cliente opta pelo pagamento mínimo e, com isso, começa a arcar com juros. Mas se a situação incomoda, é possível fazer uma transição, e passar a pagar algumas despesas de outra forma (com a função débito, por exemplo). Para saber como fazer isso é preciso ter um controle financeiro em que os maiores gastos estejam discriminados por data.

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