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Vamos dar uma pausa hoje. Prometo não falar (muito) em juros, fundos ou letras imobiliárias. O assunto é outro: crianças.

No começo do mês participei de uma atividade no bairro Santa Quitéria, que envolvia perto de 40 crianças de diversas faixas etárias. Minha parte envolvia um bate-papo com os mais velhos, entre 11 e 12 anos. Eram 12 crianças naquele grupo, e pelo menos quatro disseram que a atividade que elas menos gostam de fazer é ir à escola. Constatei algo que o anfitrião do evento, o pastor Daniel Tôrres, da Congregação Batista Vila da Fé, já havia adiantado. Naquela vizinhança, educação já não significa muita coisa. Daniel contou que por volta dos 14 anos, antes mesmo de terminarem o ensino fundamental, muitos deles deixam o colégio e passam a buscar trabalhos informais e de baixa qualificação. A ideia do evento, aliás, era justamente essa – estimular a turminha a voltar às aulas com entusiasmo. Mas perceba que não se trata da periferia distante e violenta que costuma frequentar o noticiário policial, mas de uma área a menos de dez minutos do Centro de Curitiba.

Eis uma situação capaz de gerar um tremendo dano social e econômico. Há vários anos, fiz uma entrevista com José Alexandre Scheinkman, um dos grandes economistas acadêmicos brasileiros, professor na universidade americana de Princeton. Na conversa, ele observou que o Brasil havia errado em diversas áreas, mas que o problema mais óbvio era a educação. "O Brasil é um país onde o povo é muito pouco educado, mesmo comparado com outras nações do mesmo nível de renda. Em todos eles, o Estado teve um papel primordial em dar às pessoas oportunidade de educação, principalmente em nível primário e secundário", dizia. "Uma melhoria da situação de educação dos brasileiros é fundamental não apenas do ponto de vista do crescimento como é também a maneira mais eficaz de aperfeiçoar a distribuição de renda no Brasil." A escassez de gente educada, ensinou Scheinkman, é uma das razões da desigualdade salarial no Brasil. Com pouca gente qualificada, quem tem os canudos certos ganha muito bem. Quem não tem estudo vive do jeito que dá.

No Santa Quitéria, o problema imediato é que não há percepção de valor para a educação. Futuro e escolha da profissão são eventos tão distantes que, para aquelas crianças, não valem o esforço.

Menos leitura

A Federação do Comércio do Rio de Janeiro divulgou um levantamento sobre os hábitos de lazer do brasileiro, feito em 70 municípios. Mostrou uma queda no consumo cultural de literatura. Dos entrevistados, 23% disseram ter lido pelo menos um livro no ano passado – queda forte em relação a pesquisa idêntica realizada em 2007, que apontou 31%.

Quando se fala em leitura logo se levanta a turma que fala de preços, impostos etc. Mas a pesquisa aponta noutra direção. As duas principais razões declaradas por quem não lê foram "não tenho o hábito" e "não gosto".

Mau sinal.

Problemão

Sem educação e leitura, não há crescimento que persista. Como falar em educação financeira para quem não consegue tirar o pé da lama por falta de qualificação?

Aluguéis

Há duas semanas, esta coluna falou sobre aluguéis, e recebeu algumas manifestações de leitores, com dúvidas. Um deles era o Tiago, que está planejando tornar-se investidor. Mas ele tem um obstáculo, o aluguel. A renda mensal do jovem é de R$ 3 mil, e ele paga R$ 1.500 por mês de aluguel. "O que vale a pena, alugar ou comprar um imóvel?", pergunta. Repassei a questão ao economista Fábio Araújo, da consultoria Brain Bureau de Inteligência Corporativa.

De cara, ele se assustou com o valor do aluguel pago pelo Tiago. "O ideal é não comprometer mais do que 30% da renda com habitação", afirmou. E fez três observações:

• decisões sobre residência não devem ser puramente financeiras. Numa casa própria, você faz investimentos que não faria num imóvel alugado (decoração, reformas);

• substituir um imóvel próprio pelo aluguel só faz sentido do ponto de vista financeiro se o sujeito tiver em mãos o valor integral do imóvel (R$ 150 mil, por exemplo) e investir de forma a obter uma renda mensal superior à que paga de aluguel – algo bem difícil nas atuais condições de mercado; • o investimento em imóveis tem a vantagem de dar ao proprietário uma dupla remuneração. Ele pode tirar renda alugando o imóvel, ao mesmo tempo em que este continua a se valorizar no mercado.

Por essas razões – e levando em conta que o leitor já gasta bastante com habitação –, Araújo sugere a Tiago que invista em um imóvel próprio, para residência. Nesse caso ele precisaria fazer algum esforço. Em primeiro lugar, teria de deixar o atual imóvel e mudar-se para um mais barato. Só então teria capacidade de se comprometer com um financiamento imobiliário. O economista diz que uma boa opção é buscar um imóvel na planta, que lhe permitiria desfrutar de prestações mais baixas até a entrega das chaves. Em todo caso, seria necessário um período de sacrifício em que Tiago pagaria simultaneamente tanto o aluguel quanto a prestação da casa nova.

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Vamos falar de educação, dinheiro, livros. Envie seu comentário, crítica ou sugestão para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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