• Carregando...
 |
| Foto:

Certos temas costumam se repetir. Mulheres e finanças, por exemplo. Volta e meia aparece alguém dando uma palestra ou lançando um livro sobre o assunto – de cara, sem nem pensar, me lembro de dois, da Mara Luquet e do Beto Veiga. A bolsa quer mais investidoras, os bancos criam produtos especiais para elas, as seguradoras querem atraí-las com vantagens.

Por que esse é um desses assuntos que vão e voltam? Meu palpite é que isso tem a ver com cultura – a ideia de que o homem é quem cuida do dinheiro e que a função da mulher é apenas enfeitar a casa – e com uma imensa dose de preconceito. Um preconceito, infelizmente, em que até algumas mulheres parecem acreditar. Recordo ter ouvido, anos atrás, a conversa de duas colegas de trabalho a respeito de moda. "Eu preciso de uma jaqueta caramelo", dizia uma delas. Eu trabalhava perto da mesa dela e fui notando que aquela frase, disparada de início num tom quase casual, foi se repetindo a ponto de virar um bordão. "Eu preciso de uma jaqueta caramelo!" Desneces­sário dizer que, um dia, ela apareceu para trabalhar usando uma vistosa jaqueta de couro cor de caramelo.

Para mim, esse evento ficou marcado como um exemplo definitivo de que muitas pessoas não sabem a diferença entre "precisar" e "querer". Minha colega, obviamente, poderia sobreviver à falta da tal peça. Sua função seria a de complementar com uma opção adicional um guarda-roupas já bem equipado.

Não acompanhei o que aconteceu depois porque deixei aquela empresa, mas posso apostar que o encantamento com a jaqueta não deve ter durado muito. Outras urgências devem ter aparecido: "Eu preciso de um sapato de sola vermelha!"; "Eu preciso de um primer facial!" (não sei bem o que é isso, mas acho que as leitoras devem decifrar)...

É possível quebrar essa corrente. E uma prova disso está no e-mail que recebi da Salete, leitora da coluna. "Sempre fui o tipo de pessoa que vivia no vermelho, gastando mais do que ganhava", escreveu ela. "Todo mês comprava uma bolsa nova, sapatos ou roupas novas." Chegou uma hora, no entanto, em que ela resolveu parar tudo. "Faz dez meses que parei de comprar, e estou sobrevivendo com o que tenho. Aprendi que é possível viver (para nós mulheres) sem objetos novos todos os meses. Mesmo adorando estes itens que citei acima, percebi o que realmente importa, ou seja, estabelecer prioridades." No momento, diz ela, a prioridade é trocar de carro, o que significa menos compras por um tempo.

No finzinho de sua mensagem, Salete diz acreditar que a vida dos homens é mais fácil nessa parte. "Eles não têm bolsas, sapatos coloridos, maquiagens para comprar", observa. Pode até ser, mas suspeito que a propensão masculina às compras é bastante negligenciada. Algu­mas mulheres gastam demais com bolsas e sapatos, é verdade. Mas não conheço nenhum caso de mulher que gaste R$ 3 mil para colocar um som "bombado" no carro. Já entre os homens...

Pois é. Homens podem gastar com seus brinquedinhos o mesmo tanto ou mais do que as mulheres. O exemplo do som do carro é um, mas certamente haverá outros. Só não vale discriminar os homens por causa disso.

No Viver Bem

O mesmo tema foi abordado de forma distinta no caderno Viver Bem do último domingo. Apesar do título ("Vaidade, substantivo feminino"), a reportagem revela que as muito vaidosas – que, provavelmente, são as maiores candidatas a comprar primeiro e pensar depois – estão longe de ser maioria entre a população brasileira. A pesquisa do instituto Sophia Mind, que serve de base para a matéria, mostra que a maior parcela da população pesquisada cai na categoria denominada "comedida". Elas equivalem a 32% da amostra, quase um terço das brasileiras de classes A, B e C na faixa etária pesquisada (18 a 60 anos). E a mulher comedida, nas palavras da repórter Érika Busani, é aquela que "se cuida, mas não tem a busca da beleza como prioridade em sua vida". No que se refere a dinheiro, ela gasta com beleza apenas na medida que o bolso permite.

Escreva!

Mande sua dúvida, sugestão ou comentário para financaspessoais@gazetadopovo.com.br

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]